Jornalistas da EBC podem entrar em greve contra abusos e censura

Empresa pública federal de comunicação quer demitir representante dos trabalhadores no Conselho de Administração, em retaliação por denúncia de assédio.

Protesto de jornalistas da EBC no Rio de Janeiro em 9/9. Foto: Twitter de @camilamarinsrj

Os funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) fizeram protesto nesta sexta-feira (9/9) nas redações de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro contra a perseguição da diretoria da empresa à funcionária Kariane Costa, que é repórter da Rádio Nacional e representante eleita dos trabalhadores no Conselho de Administração (Consad), depois de ela ter denunciado assédio moral e censura por parte da direção. A jornalista, que é concursada, está sob ameaça de demissão por justa causa, por parte do diretor presidente da EBC, Glen Valente.

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, a empresa vem numa escalada de assédios, censura e perseguições contra empregados. “Uma comissão de sindicância arbitrária e ilegal concluiu pela demissão por justa causa da representante dos trabalhadores, que denunciou gestores da EBC por assédio moral e acabou indiciada por calúnia e difamação.” A entidade também destaca que a direção da empresa iniciou “descontos absurdos nos salários dos empregados e cedeu ao uso eleitoral da programação”.

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Ainda conforme o sindicato, esse e outros processos contra trabalhadores levaram o Ministério Público do Trabalho (MPT) a suspender esta semana a mediação em um processo no qual a EBC já está condenada a pagar R$ 200 mil por assédio moral coletivo.

“Não contente em ter 20% dos funcionários afastados por problemas de saúde mental, a EBC ainda age de má fé na interpretação do Acordo Coletivo de Trabalho e iniciou nessa quinta (8/9) várias cobranças de devolução de verbas de complementação de auxílios por afastamento médico”, postou a entidade em seu perfil no Twitter, acrescentando que alguns funcionários estão sendo descontados em quase R$ 20 mil por atestados médicos apresentados entre 2019 e 2022.

Os protestos desta sexta tiveram como motivo adicional o fato de a EBC ter sido usada de forma eleitoreira pelo presidente da República nas transmissões que marcaram os 200 anos da Independência do Brasil e também na cerimônia da chegada do coração de D. Pedro I ao Brasil. Como empresa pública – não governamental –, a EBC não pode se prestar a fins político-eleitorais em favor do atual presidente da República, ou de qualquer outra autoridade do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário.

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As manifestações dos trabalhadores neste dia 9 indicaram estado de greve, caso não haja providências para reverter a situação interna na empresa e apuração das denúncias.

Dossiê divulgado em agosto

A 4ª edição do “Dossiê de Censura e governismo na EBC: trabalhadores denunciam prática sistemática em todos os veículos”, divulgada em 31 de agosto, contendo dados de agosto de 2021 a julho de 2022, identificou “292 casos de governismo e censura no formulário de denúncia” colocado à disposição de denunciantes.

O levantamento foi feito pela Comissão de Empregados da EBC e pelos Sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas de Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo (saiba mais: Dossiê aponta 292 denúncias de censura e governismo na EBC).

A EBC é um grupo de comunicação pública formado pela TV Brasil, Agência Brasil, Radioagência Nacional, as Rádios Nacional FM, Nacional de Brasília, Nacional do Rio de Janeiro, Nacional da Amazônia, Nacional do Alto Solimões, MEC FM e Rádio MEC e respectivas redes sociais.

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