28° Grito dos Excluídos disputa 7 de setembro questionando volta da fome

Atos pelo país têm sido marcados pela distribuição de alimentos e questionamento da falta de moradia, desemprego e renda, violência policial, feminicídios e genocídio indígena etc.

São 28 edições do Grito dos Excluídos, desde 1995, com manifestações ocorrendo tradicionalmente no Sete de Setembro em cidades de todo o país, para um contraponto ao Grito do Ipiranga. Sua marca é a presença dos movimentos sociais e segmentos excluídos da sociedade questionando a independência incompleta, sem a participação dos mais pobres no orçamento nacional.

O tema da manifestação no bicentenário da independência questiona: “Brasil, 200 anos de (In)dependência. Para quem?” O objetivo é refletir sobre a trajetória do Brasil e de a parcela da população que ficou fora do centro de decisões na maioria dos governos ao longo dos 200 anos.

Movimentos sociais, pastorais sociais, entidades religiosos e centrais sindicais se unem para discutir pautas como a defesa da democracia e a luta por direitos e políticas públicas que garantam dignidade às populações mais vulneráveis como segurança, saúde e educação.

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Iniciativa da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o primeiro Grito dos Excluídos teve como tema “A fraternidade e os excluídos”. A carta divulgada este ano pela CNBB ao povo brasileiro ressalta o desafio da dignidade para todos e compromisso com a promoção de políticas de Estado para reduzir desigualdades:

“Ao comemorarmos o bicentenário da Independência do Brasil, é fundamental ter presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável. Vítimas de uma economia que mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um grande desafio. É necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra.” 

Leia a íntegra da carta 

Combate à fome na prática

Desde o início do Grito dos Excluídos e das Excluídas, o combate à fome sempre esteve no centro do debate. E, após 28 anos de luta, o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente continua a ser reivindicado.

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Com o grave cenário de fome atingindo 33 milhões de brasileiros, e a insegurança alimentar chegando a 125 milhões, os atos têm sido marcados por distribuição de alimentos e enormes filas de pessoas em situação de rua para se alimentar.

Em Porto Alegre, a concentração inicia às 9h na frente da Igreja São José do Murialdo, localizada na rua Vidal de Negreiros, nº 550, no bairro Partenon, uma periferia sofrida da capital gaúcha.  A Associação de Mulheres Maria da Glória defendeu uma ação solidária, com apoio de parceiros, para distribuir marmitas para compartilhar no ato. Formada por 22 voluntárias, a Associação de Mulheres Maria da Glória possui sua própria cozinha comunitária, localizada no Morro da Cruz, na Zona Leste de Porto Alegre. 

Assim como outras organizações sociais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem sido uma presença constante levando alimentos de sua produção para os atos e ressaltando a riqueza e diversidade alimentar brasileira, capaz de alimentar tantos países pelo mundo, enquanto 33 milhões passam fome em seu próprio território.

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No Centro de São Paulo, em frente à Catedral da Sé, religiosos de todas as denominações se juntam aos movimentos e organizações sociais numa manhã fria e chuvosa para distribuição de cinco mil kits de café da manhã com pães, frutas, e doces preparados com produtos das cooperativas do MST.

Os organizadores – o Movimento da População de Rua, a campanha “Gente é para brilhar e não para morrer de fome”, os Comitês Populares e o Movimento Sem Terra (MST) – também irão distribuir 3 mil cestas com alimentos. 

Foto das redes sociais de Erika Hilton

“A ação deste ano ocorre em um momento em que os dados relacionados à insegurança alimentar no Brasil são alarmantes, considerando que além de termos voltado ao mapa mundial da fome, já contabilizamos mais de 33 milhões de pessoas famintas no país”, afirma, em nota, Carla Bueno, engenheira agrônoma do setor de produção do MST e integrante da campanha “Gente é para brilhar e não para morrer de fome”.

“Queremos promover uma manhã de dignidade coletiva para estes que estão excluídos, abandonados pelo sistema político e à margem dos direitos civis, quando na verdade deveriam ter acesso a saúde, emprego, moradia, cultura e educação”, completou a nota. 

As manifestações levantam pautas como a situação de rua de famílias na capital, o desemprego, os baixos salários, a violência policial, os ataques aos povos indígenas e aos ecossistemas, o aumento dos casos de feminicídio, a violência contra crianças, pessoas idosas e pobres, e a ausência de políticas de assistência social, de saúde ou educação.

Em Manaus, o ato começou com uma missa celebrada por Dom Leonardo Steiner, recentemente nomeado como cardeal pelo Papa Francisco. Em seguida, o grupo seguiu em caminhada pela avenida Brasil, carregando faixas e cartazes, até o bairro Compensa, Zona Oeste de Manaus.