Bolsopedia: opositores criam site com críticas ao governo Bolsonaro

Iniciativa pretende registrar o “legado de destruição” do governo; cita pandemia de Covid-19, o crime organizado e o desmatamento na Amazônia

“Tudo que Bolsonaro fez em 4 anos de governo (e não quer que você saiba)” é a frase que encabeça o site criado por opositores do governo de Jair Bolsonaro (PL), na última sexta-feira (2), para divulgar críticas contra o presidente. Chamada “Bolsopedia: a enciclopédia do bolsonarismo”, a página reúne textos, imagens, vídeos e podcasts contra as ações do atual chefe do executivo.

A proposta da “enciclopédia” é registrar o “legado de destruição” deixado por Bolsonaro, criando uma “memória” da atual gestão a partir de informações verificáveis sobre “temas de importância para os cidadãos brasileiros”, e foi construída a partir de matérias da imprensa organizadas por tópicos e em ordem cronológica.

Segunda consta, “o levantamento dos dados foi feito “por um coletivo independente e apartidário, o mesmo que atuou auxiliando os senadores na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid”.

O site conta com um imenso acervo de artes e imagens com fotos do presidente e frases críticas para compartilhamento nas redes sociais, e um copilado de vídeos com falas controversas do presidente no Jornal Nacional, no debate da Band e no Flow Podcast, onde aparece “mentindo e se desmentindo o tempo inteiro”.

As abordagens contam com os mais diversos assuntos, como: piso salarial da enfermagem, desemprego, encontro com embaixadores, escândalo de corrupção de pastores no MEC (Ministério da Educação), propaganda eleitoral e sobre a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Além de imagens, vídeos e podcasts, os responsáveis organizaram os tópicos com as críticas através dos seguintes temas:

Economia

O primeiro tópico “Brasil em Crise – Como Bolsonaro e Paulo Guedes empobreceram o país”, fala sobre a questão de Bolsonaro colocar a culpa da inflação no país na pandemia, “mas os preços já estavam aumentando desde 2019. Os constantes ataques de Bolsonaro à ordem democrática e sua condução desastrosa na pandemia levaram o país a uma crise econômica sem precedentes. Hoje, o Brasil tem uma das maiores inflações do G20, a maior em quase 30 anos. O povo ficou sem dinheiro para comida, e passou a comprar botijão de gás parcelado.”

Covid-19

Segundo a página, “o governo Bolsonaro matou milhares de brasileiros na maior pandemia do século” e aponta uma “falta de sensibilidade e ódio ao povo” por parte do presidente. Até domingo (04), a pandemia havia deixado 684.369 vítimas pela doença em todo o país.

A enciclopédia menciona o “completo descaso” de Bolsonaro quanto às mortes. “Os registros são claros, e mostram que o Presidente da República menosprezou não só o impacto da doença como também zombou de quem morreu por causa dela”.

Destruição do Brasil e desmonte do Estado

O site afirma que Jair Bolsonaro acabou com os investimentos em ciência e educação enquanto “distribuía milhões para o Centrão” via orçamento secreto – – o famigerado Bolsolão. Além disso, atuou para “descredibilizar professores, pesquisadores e a própria ciência” durante seu governo.

A enciclopédia também menciona o desmonte de órgãos de fiscalização ambiental e da Funai (Fundação Nacional do Índio), enquanto o Pantanal e a Amazônia sofriam a maior devastação dos últimos tempos. E afirma que Bolsonaro tem atuado para “favorecer latifundiários desmatadores e grileiros, que lucram com a criação de gado, plantação de soja, garimpo clandestino e venda de madeira ilegal. Ninguém pode dizer, porém, que está surpreso, ou que isso é novidade. Acabar com a fiscalização ambiental foi uma das promessas de campanha de Bolsonaro em 2018”.

Corrupção, pouco trabalho e muita mamata

Pra quem não se lembra, “acabar com a corrupção” era promessa que Bolsonaro fazia durante as eleições em 2018. No entanto, a “Bolsopedia” aponta o orçamento secreto, de novo o “Bolsolão”, como o maior esquema de compra de votos e desvio de dinheiro público da história. E que Bolsonaro nega veementemente.  

Segundo o site, o dinheiro do chamado orçamento secreto “encheu os bolsos de parlamentares do centrão e consumiu R$ 16 bilhões do dinheiro público somente em 2021”.

A enciclopédia afirma ainda que esse dinheiro “alimentou escândalos de corrupção que envolveram o MEC, compras superfaturadas de tratores e caminhões de lixo e até verbas do SUS (em plena pandemia)”.

Apesar de Bolsonaro viver afirmando que iria acabar com a mamata, não foi bem assim que aconteceu. Ao chegar à presidência, ele loteou o palácio e transformou o governo federal “num cabideiro de empregos para apadrinhados políticos.” Enquanto exonerava e demitia servidores de carreira sérios, como Bruno Pereira, “empregava e promovia amigos dos filhos e de deputados alinhados sem qualificação técnica em cargos estratégicos do governo.”

A página também criticou os gastos de Bolsonaro com o cartão corporativo dizendo que o presidente fazia “uma verdadeira farra” enquanto a “população passa fome”, além de afirmar que ele trabalha “menos que um estagiário” – 5 horas de trabalho.

Milícia, tráfico e crime organizado

No tópico “Defesa e favorecimento de criminosos” a enciclopédia menciona os vários decretos criados por Bolsonaro para facilitar o acesso da população as armas. Segundo ele, serviriam para legítima defesa: “um povo armado jamais será escravizado”. O resultado, porém, foi que os decretos assinados por ele armaram – por vias legais e com preços de custo muito mais baratos – traficantes, milicianos e o PCC (como já havia sido previsto por pesquisadores e o próprio MPF em 2019).

O tema volta a citar o enfraquecimento da fiscalização ambiental “que sempre julgou exagerada”, e favoreceu descaradamente o garimpo ilegal. O site afirma que Bolsonaro incentivou o garimpo em terras indígenas e mandou exonerar quem investigava os criminosos que atuavam na Amazônia. Uma das pessoas demitidas foi Bruno Pereira, assassinado com o jornalista inglês Dom Phillips em junho de 2022.

Ricardo Salles não ficou de fora. O ex-ministro do meio ambiente é investigado por favorecer o contrabando de madeira ilegal, e chegou a dizer, em reunião ministerial, para “passar a boiada” e mudar regras ambientais enquanto atenção da mídia estava voltada à pandemia.

Sinais do fascismo

Neste tópico, a “Bolsopedia” se refere ao presidente como “saudosista da ditadura militar” e afirma que “como todo governante com pretensões ditatoriais”, mandou “perseguir opositores políticos, artistas e jornalistas contrários ao seu regime.”

O site relembrou ainda os frequentes ataques de Bolsonaro aos STF. Os 3 principais alvos das críticas do presidente da República são os ministros Edson Fachin, Roberto Barroso e o novo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.

Além dos ataques diários ao STF, a enciclopédia cita ainda as críticas de Bolsonaro à imprensa,  enquanto alimenta redes de extrema-direita que disseminam notícias falsas, e afirma que o presidente usa todo o “aparato do estado para repetir constantemente ameaças ao processo e dúvidas sobre as urnas eletrônicas”.

A página também afirma que Bolsonaro é “fascista”. Segundo consta, o presidente gosta muito de usar os slogans nazi-fascistas “traduzidos ou reaproveitados”, como o “Deus, pátria, família e liberdade”, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” ou até mesmo “o trabalho liberta”.

Política externa

“Pária mundial – como Bolsonaro destruiu a imagem do Brasil no mundo” é o último tópico da enciclopédia e mostra como o presidente envergonhou a nação ao criticar a OMS (Organização Mundial da Saúde), os líderes mundiais e a China, durante a pandemia, “enquanto o mundo inteiro dependia de seus insumos” para combater o coronavírus.

O site diz que ainda que Bolsonaro, incapaz de dialogar com democracias não alinhadas à extrema direita ao redor do mundo, se aproximou apenas de líderes reacionários com governos marcados por xenofobia, políticas de repressão de direitos humanos, autoritarismo e intolerância religiosa.

As declarações do presidente sobre chefes de Estado “não alinhados são sempre atreladas à falsa ideia de que as demais nações estão pactuadas com a esquerda. Enquanto isso, seu governo segue quebrando tradições diplomáticas do país e pautando suas ações seguindo pautas ideológicas obsoletas e total ausência de pragmatismo. Como consequência, o Brasil está hoje isolado diplomaticamente, e é visto como um pária mundial.”

Em tempo, uma outra iniciativa contra Bolsonaro foi feita recentemente por um empresário de Curitiba que comprou o domínio “www.bolsonaro.com.br”, antiga plataforma do presidente, para criticar e satirizar o chefe do Executivo. Ao abrir a página principal, Bolsonaro aparecia como uma caricatura de Adolf Hitler e suástica no braço com o título “Ameaça ao Brasil” e diversos textos com imagens depreciativas do presidente. O site saiu do ar na quinta-feira (1º/9).

Para acessar a “Bolsopedia”, clique aqui.

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