Em Manaus, Lula critica perdas de vidas por falta de oxigênio hospitalar

Ex-presidente criticou o governo Bolsonaro pela gestão desastrosa na pandemia e pela omissão no socorro aos pacientes dos hospitais estaduais, projetando a tragédia na cidade para todo o mundo.

Comício em Manaus Foto: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recordou a tragédia sanitária que marcou Manaus, desde o início da pandemia, com o colapso no sistema hospitalar do Amazonas durante a pandemia de covid-19. Além dos hospitais lotados em 2020, a falta de oxigênio nos hospitais do estado em 2021 chocou o mundo e marcou um dos momentos mais tristes da pandemia no Brasil.

Lula esteve nesta quarta-feira (31), em Manaus (AM), para participar do ato Todos Juntos Pelo Amazonas. Ele dividiu palco com Omar Aziz e Eduardo Braga, candidatos ao Senado e ao governo estadual, respectivamente, além de lideranças locais e nacionais.

No dia 14 de janeiro de 2021, na segunda onda da pandemia, o caos se instalou nas ruas de Manaus. O estado registrava recorde de internados com covid-19 e os leitos estavam superlotados. Segundo dados do Ministério Público, mais de 60 pessoas morreram por falta de oxigênio e 500 pacientes precisaram ser transferidos às pressas para hospitais de outros estados.

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“Se um tenente expulso do Exército não tem coragem de tratar o povo direito, um metalúrgico vai voltar para a Presidência para cuidar do povo do jeito que ele merece”, disse o ex-presidente, durante comício em Manaus, na noite desta quarta-feira (31).

Pessoas morrendo asfixiadas

Vacinas não tinham chegado ao Brasil e Jair Bolsonaro criticava o isolamento social, enquanto todo o mundo paralisava a economia para preservar vidas. Um mês antes, um lockdown chegou a ser anunciado pelo governo estadual, que flexibilizou o decreto após pressão de bolsonaristas.

Quando acabou o oxigênio nos hospitais, profissionais de saúde e familiares de pacientes entraram em desespero e tentaram comprar o produto por conta própria. Porém, a demanda era insuficiente nas empresas fornecedoras, provocando dois dias com pessoas morrendo asfixiadas.

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“Eu quero aproveitar hoje para agradecer o embaixador da Venezuela que mandou oxigênio para Manaus, para salvar vidas aqui, apesar do presidente da República ofender tanto aquele país. Foram eles que mandaram o oxigênio que o ‘tenente’ ou o Ministério da Saúde não teve coragem de mandar”, declarou.

Lula faz referência aos oito caminhões carregados com aproximadamente 130 mil litros de oxigênio vindos do país vizinho para abastecer os hospitais de Manaus. A doação foi articulada diretamente com o governo do Amazonas, uma vez que Jair Bolsonaro se negou a aceitar ajuda venezuelana.

Portos para todos

O ex-presidente disse que ninguém investiu tanto no Amazonas quanto ele e a ex-presidente Dilma Rousseff, citando obras de infraestrutura, casas, universidades, escolas técnicas e institutos federais. No estado onde grande parte do transporte é fluvial, o ex-presidente reforçou a importância das obras portuárias. Mas também observou a importância do investimento social para garantir que cada pessoa tenha três refeições ao dia.

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“Eu tenho noção da quantidade de portos que a presidenta Dilma fez nas cidades do interior deste estado, da quantidade de casas que nós fizemos pelo país afora com o Minha Casa, Minha Vida, o maior programa habitacional. Eu tenho noção da importância do PAC, que foi o maior programa de investimento em infraestrutura que esse país já conheceu”, declarou.

Mapa da fome

Lula também lembrou que retirou o país do mapa da fome, gerou 22 milhões de empregos com carteira assinada e fortaleceu a agricultura familiar, tão importante no estado do Amazonas.

“Eu sei o que é uma mãe ficar em pé na beira do fogão e não ter um bocado de feijão com água para colocar no fogo para um filho comer. Então, eu tinha obsessão, que era preciso garantir que cada pessoa nesse país pudesse, todo dia, tomar café, almoçar e jantar, que as crianças pudessem tomar um copo de leite antes de dormir e um bom iogurte a hora que levantasse”, afirmou.

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Ele fez referência ao seu passado pobre no agreste pernambucano ao dialogar com as mulheres pobres do Amazonas. “Eu tenho noção da importância que é para uma mãe ver o seu filho ir para a escola com uma roupinha bonita, com um sapatinho bonito. Eu tenho noção o quanto é importante para um companheiro e uma companheira sustentar a sua família as custas do seu trabalho. Não precisar de favor de ninguém, mas trabalhar e no final do mês levar comida para casa às custas do seu suor e do seu sangue”, disse o ex-presidente.

Lideranças da floresta

“Quero saudar esse povo guerreiro, marcado por tantas batalhas importantes na história; que tem no rio Amazonas a origem do seu nome, mas que também corre a lenda que é inspirado nas mulheres guerreiras”. Assim, teve início a fala de Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB, que saudou Vanessa Grazziotin em nome das mulheres amazonenses.

“Aqui nesta noite, quero saudar uma grande guerreira do Amazonas, Vanessa Grazziotin. Já foi senadora da República, deputada federal e agora está aqui nessa luta com a gente”, disse Luciana Santos. Vanessa, que é candidata a deputada federal pelo Amazonas, recebeu aplausos e o carinho do público presente.

Chamado de canalha fascista por Randolfe Rodrigues, pela atitude criminosa que teve para com os amazonenses durante a pandemia, o atual presidente do país foi tratado como “profeta da morte” e “destruidor da Amazônia”.

Zona Franca

Antes do ex-presidente, Eduardo Braga criticou a maneira como Jair Bolsonaro conduziu a pandemia, uma vez que manauaras morreram sem oxigênio, e a atual crise econômica, que afeta o povo brasileiro.
“Governar é ajudar das pessoas, foi isso o que eu fiz quando fui governador com o Lula presidente. Na época a Zona Franca tinham 134 mil empregos, agora são menos de 100. E todas as vezes que nós tentamos melhorar um pouquinho, o Bolsonaro vem com um decreto para tentar destruir a nossa Zona Franca de Manaus, tirar os nossos empregos, criar insegurança jurídica”, disse.

Braga também lembrou que no interior do Amazonas um botijão de gás custa mais de R$ 150, e o combustível, produto essencial para um pescador artesanal, passou de R$ 10 reais o litro. Com os preços nas alturas, discursou o candidato, as pessoas não estão tendo dinheiro sequer para comprar comida, muito menos para fazer três refeições ao dia.

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“A volta do presidente Lula representa fazer com que o Brasil e o Amazonas voltem a investir na saúde, na educação, gerar emprego, investir no saneamento, continuar avançando e fazer a vida melhorar. Mas, tudo isso tem um inimigo, que nós estávamos derrotando, mas ele voltou: é a fome que está batendo na porta das pessoas, diante de uma inflação criminosa”, completou.

Participaram do encontro o senador Randolfe Rodrigues, da Rede Sustentabilidade, Luciana Santos, presidenta do PCdoB, Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo da chapa Lula-Alckmin, e as lideranças locais Sinésio Campos e Anne Moura, que concorre ao cargo de vice-governadora.