Papa explicita vontade de visitar Coreia do Norte

Semana movimentada no Vaticano teve entrevista do pontífice a TV sul-coreana, e terá posse de cardeais que poderão escolher sucessor de Francisco

Francisco com os líderes religiosos sul-coreanos

O papa Francisco surpreendeu ao afirmar na tv sul-coreana que aceitaria um eventual convite para visitar a comunista Coreia do Norte. Várias iniciativas do Pontificado têm enfatizado a aproximação da Igreja de seus fieis asiáticos, continente onde países de regime comunista e a hegemonia muçulmana e budista restringem o avanço católico.

Embora tenha sido provocado pela emissora sul-coreana KBS, o modo como o pontífice explicitou a vontade de um convite oficial surpreendeu. “Quando me convidarem… Ao falar isso, estou dizendo: ‘Convidem-me que eu não vou negar’. O objetivo é sempre a fraternidade”, respondeu o líder da Igreja Católica.

“De coração, a todos os coreanos, sejam do Sul, sejam do Norte: minha bênção e meu desejo de paz”, acrescentou Francisco. Essa não é a primeira vez que o Papa se oferece para visitar a Coreia do Norte, mas o regime de Kim Jong-un nunca fez um convite oficial.

A entrevista vai ao ar na TV KBS 1 às 20h30 na sexta-feira e às 22h no dia 1º de setembro.

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O próprio governo da Coreia do Sul já afirmou que uma eventual missão de Jorge Bergoglio em Pyongyang contribuiria para a paz na península. Francisco visitou o Sul em agosto de 2014, quando celebrou uma missa pela reunificação com o Norte.

Na ocasião, um porta-voz oficial da Coreia do Sul declarou que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, pretendia que o papa Francisco visite Pyongyang. “O presidente Moon [sul-coreano] sugeriu que o presidente Kim [norte-coreano] se reunisse com o papa, destacando que ele estava muito interessado na paz na Península Coreana”, afirmou o porta-voz, em declarações reproduzidas pela mídia local.

Kim, segundo a fonte, “disse que daria boas-vindas ao papa se ele visitar Pyongyang”. Ainda assim, o convite oficial ainda não foi feito.

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A Coreia do Norte tem um regime de governo que declara-se abertamente ateu; organizações humanitárias ocidentais criticam a suposta falta de liberdade religiosa entre norte-coreanos. No entanto, em Pyongyang, a capital, há cinco igrejas onde se pratica o cristianismo, e uma visita do Papa seria um evento histórico. 

Dez anos depois

Em março de 2023, Francisco, de 85 anos, completará dez anos à frente da Igreja, após a renúncia de Bento XVI, após sete anos de pontificado. O pontífice convocou todos os cardeais do mundo para uma reunião inédita de dois dias, que acontecerá após a posse dos novos cardeais. Um oportunidade para muitos deles se conhecerem e trocarem impressões, pela primeira vez.

O papa prepara sua sucessão com a posse, no sábado (27), de 20 novos cardeais, 16 deles com direito a voto no conclave para a eleição de seu sucessor. Francisco será responsável pela designação de 83 cardeais do total atual de 132 eleitores, quase dois terços do grupo.

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A reunião provocou muitas especulações, em particular sobre o estado de saúde do papa, que passou por uma cirurgia no cólon em 2021 e sofre com dores no joelho direito que o obrigam a usar uma cadeira de rodas e o levou a cancelar vários compromissos.

A convocação de quase 300 cardeais é uma espécie de pré-conclave, durante o qual será feito um balanço da situação da Igreja após quase dez anos de liderança do papa latino-americano.

Embora seja o continente mais populoso do mundo, com 60%, os católicos asiáticos são apenas 11,7% do total

Rumo à Ásia

Na lista de 16 cardeais com menos de 80 anos e, portanto, direito a voto em caso de conclave pela renúncia ou morte do papa, estão três latino-americanos: dois brasileiros – Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, e Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília – e um paraguaio – Adalberto Martínez Flores, arcebispo de Assunção.

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O arcebispo Leonardo Steiner, de Manaus, torna-se o primeiro cardeal da região amazônica, ressaltando a preocupação de Francisco com os povos indígenas e o meio ambiente.

Desde sua eleição como o primeiro papa latino-americano, Francisco quebrou principalmente o molde usado por seus antecessores na escolha de cardeais. Muitas vezes, ele preferiu homens de lugares distantes ou cidades menores, em vez de grandes capitais do mundo desenvolvido, onde ter um cardeal era considerado automático.

O papado de Francisco foi definido pelos esforços para tornar a Igreja mais inclusiva, transparente e focada nos membros mais vulneráveis da sociedade. Ele nomeou cardeais que rejeitaram a hierarquia e o status quo da Igreja e ajudaram a combater a hegemonia secular dos europeus.

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Um nova nomeação que chama a atenção é a de Robert McElroy, o bispo de 68 anos de San Diego, Califórnia, que apoiou os católicos gays e criticou os movimentos para negar a comunhão a políticos americanos – como o presidente Joe Biden e a congressista Nancy Pelosi– que apoiam o aborto. Ao dar a San Diego seu primeiro cardeal, Francisco ignorou os arcebispos conservadores em San Francisco e Los Angeles. 

Há dois anos, o papa fez história ao criar o primeiro cardeal afro-americano — Wilton Gregory, arcebispo de Washington. 

No sábado também será nomeado o cardeal mais jovem do mundo, o missionário italiano Giorgio Marengo, de 48 anos, que trabalha na Mongólia. A Mongólia tem menos de 1.500 católicos, mas é estrategicamente importante porque faz fronteira com a China, onde o Vaticano está tentando melhorar a situação política dos católicos.

A cada consistório, Francisco deu continuidade ao que um diplomata chamou de “inclinação em direção à Ásia”, aumentando a probabilidade de que o próximo papa possa ser da região que é uma potência econômica e política em crescimento.

Outros novos eleitores vêm de Cingapura, Índia e Timor Leste.

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