Censo enfrenta problemas para pagar, contratar e manter recenseadores

Trabalhadores reclamam de atrasos no pagamento e apontam para a possibilidade de greve se situação não se normalizar. Até o momento, mais de 6,5 mil se demitiram

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Nem o Censo demográfico do IBGE consegue sair ileso em meio ao desmonte público promovido pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Depois de dois adiamentos — o primeiro, em 2020, devido à pandemia e o segundo em função do corte de verba no Orçamento de 2021 —, agora o Censo enfrenta dificuldades para empregar, pagar e manter os recenseadores. 

Em diversos pontos do país, trabalhadores contratados para a pesquisa se queixam por atraso nos repasses do auxílio-deslocamento e na remuneração referente ao período de treinamento, além de demora no pagamento por setores já concluídos pelos recenseadores. Outra questão apontada é que faltariam, por parte do IBGE, esclarecimentos sobre como é calculada a remuneração.

Leia também: Por que há um boicote ao Censo e ao IBGE no governo Bolsonaro?

Diante da situação, os trabalhadores passaram a realizar assembleias e até mesmo chamar para greves em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, no dia 1º de setembro. “A greve será em último caso. Estamos tentando um diálogo com o IBGE, lançamos uma carta aberta ao presidente nacional da fundação e estamos pedindo que o instituto olhe para nossa situação”, explica Lucas Ferreira, da União dos Recenseadores de Salvador, ao site BBC Brasil. 

Em comunicado emitido nesta terça-feira (23) pelas redes sociais, o IBGE reconheceu e se desculpou pela demora na liberação do pagamento e disse estar “comprometido em reduzir esses prazos”. Além disso, afirmou que “em relação aos pagamentos solicitados, até o dia 18/08, referentes a ajuda de locomoção e diárias, já foram regularizadas. Sobre os pagamentos de ajuda de treinamento, há ainda algumas demandas residuais que estão sendo resolvidas caso a caso pelo IBGE em suas respectivas unidades estaduais”. 

Além dessas questões, os trabalhadores do Censo enfrentam outros problemas que estão levando muitos a pedirem desligamento, tais como a insuficiência nos valores do auxílio transporte e alimentação e casos de ameaças, racismo e assédio sexual. Até o momento, mais de 6,5 mil abandonaram seus postos. 

Para se viabilizar, o Censo ainda terá de enfrentar a dificuldade de preenchimento nas vagas. A meta do IBGE era contratar cerca de 183 mil recenseadores para cobrir aproximadamente 75 milhões de domicílios do Brasil até outubro. Segundo a BBC, “a média nacional de recenseadores contratados, em relação ao número de vagas, estava em 76% no último dia 16 de agosto”.

Leia também: Censo está sob ataque desde início do governo, diz diretora da ASSIBGE

Sudeste, Sul e Centro-Oeste acumulam as maiores dificuldades para a contratação de recenseadores. Para o IBGE, isso estaria relacionado ao fato dessas regiões terem menores índices de desemprego. 

O último Censo ocorreu em 2010. De acordo com a Lei 8.184/91, a realização não pode exceder dez anos. Em 2020, porém, a pesquisa teve de ser adiada em virtude da pandemia de Covid-19. 

Em 2021, o Censo enfrentou novo percalço. O Orçamento previa R$ 2 bilhões, mas o IBGE apontava a necessidade de ao menos R$ 2,3 bilhões para a realização. O valor só foi liberado após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2021, que determinou a realização do levantamento neste ano, finalmente iniciado no começo de agosto.