Não se sabe quanto custou a bizarrice para trazer coração de Dom Pedro I

Randolfe Rodrigues questionou o governo Bolsonaro sobre os gastos para trazer ao país o órgão do primeiro imperador brasileiro

Coração de D. Pedro I chega ao Brasil (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição, cobrou explicações do governo Bolsonaro sobre os custos envolvendo a logística para trazer o coração de Dom Pedro I ao Brasil. O parlamentar quer saber se houve abuso do emprego da máquina pública num momento de dificuldades financeiras pela qual passa o país

Além disso, há preocupação com uso eleitoral a partir dos eventos e exposição do órgão do primeiro imperador do Brasil. Nesta terça-feira (23), numa cerimônia considerada bizarra, a relíquia subirá as rampas do Palácio do Planalto conduzida por autoridades portuguesas e recepcionada por Bolsonaro.

“Sem prejuízo da relevância das comemorações solenes ao bicentenário da independência, é preciso mais que nunca sinalizar sobriedade e comedimento nos gastos públicos, seja pelo estado de penúria econômica generalizada que o país atravessa […], seja pelo risco de abuso da máquina pública que ronda o uso político desta solenidade para fins de promoção pessoal em pleno calendário eleitoral”, diz o texto do ofício enviado por Randolfe.

O coração do imperador faz parte das comemorações dos 200 anos da Independência do país. O órgão chegou a Brasília num jato escoltado por dois caças F-5 da Força Aérea Brasileira. Conservado no formol há 187 anos, o coração saiu da cidade portuguesa do Porto, onde está guardado na igreja da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa há quase 200 anos.

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Antropóloga Lilia Moritz Schwarcz – Guilherme Santos/Sul21

A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz considerou a situação uma palhaçada, pois Bolsonaro aguarda um coração mantido em formol como se fosse um dignitário visitando o Brasil.

“Nós precisamos nos perguntar que noção de história é essa. Uma noção de história parada no tempo, uma noção de história morta, detida em órgãos falidos de um corpo de imperador que começou muito popular e no momento em que ele sai do Brasil em 1831 ele era profundamente impopular”, disse ela em entrevista a TV UOL.

Schwarcz explicou que, após o imperador outorga a primeira Constituição brasileira em 1824, ele representava o chamado “Açougue dos Braganças”, expressão da época usada para explicar a violência para debelar as rebeliões que ocorriam no país.

“Enfim, qual a ambiguidade desse corpo? Que necropolitica é essa do governo de Jair Bolsonaro?”, questiona a historiadora para quem a independência precisa ser a festa da liberdade e não ser resumida a “projeto mórbido da recepção de partes do corpo morto”.   

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