Só mudança na economia pode alavancar Bolsonaro, diz diretor da Quaest

“Apostar que o auxílio por si só resolve um problema é ingênuo. O que realmente faz as pessoas votarem para reeleger o presidente é o ambiente econômico”, afirma Felipe Nunes

O cientista político Felipe Nunes, da Quaest Consultoria (Foto: Reprodução)

A “PEC do Desespero” não foi – e não será – suficiente para turbinar as intenções de voto no presidente Jair Bolsonaro (PL). A opinião é do cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest Consultoria, que realiza pesquisas eleitorais periódicas para a Genial Investimentos.

Com a PEC, Bolsonaro promoveu uma série de medidas paliativas, com finalidade eleitoreira. Ele turbinou o Auxílio Brasil, dobrou o vale-gás e destinou um voucher para caminhoneiros e taxistas. Todas as iniciativas têm prazo de validade limitado.

“Um percentual enorme de 62% diz que as pessoas acreditam que essas medidas são muito mais eleitoreiras do que propriamente altruístas. Esse dado é importante porque isso pode ser o que está freando o crescimento de Bolsonaro por conta dessas medidas”, declarou Nunes em entrevista nesta quarta-feira (17) ao UOL News.

Com mais de 10 milhões de trabalhadores desempregados e a inflação ainda alta – especialmente a dos alimentos –, o Brasil continua às voltas com uma grave crise econômica. Para Nunes, só uma mudança nesse quadro será capaz de alavancar a candidatura à reeleição de Bolsonaro.

“Apostar que o auxílio por si só resolve um problema é ingênuo. O que realmente faz as pessoas votarem para reeleger o presidente é o ambiente econômico”, afirma.

A nova rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (17), confirmou as tendências já detectadas, dois dias antes, pelos levantamentos do BTG/FSB e do Ipec. De acordo com as três pesquisas, se as eleições 2022 ocorressem hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria Bolsonaro já no primeiro turno.

Na sondagem da Quaest, Lula tem 45% das intenções de voto, contra 42% da soma de seus adversários. Enquanto Bolsonaro aparece com 33%, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) marca 6% e a senadora Simone Tebet (MDB), 3%. Tanto Lula quanto Bolsonaro oscilaram dentro da margem de erro. Os demais candidatos não pontuaram. Há 6% de eleitores indecisos e outros 6% que votariam em branco ou nulo.

No caso do presidente, pesa contra sua candidatura à reeleição uma elevada desaprovação ao governo federal. Segundo a Quaest, 41% avaliam a gestão bolsonarista como “ruim” ou “péssima”, e apenas 29% a consideram “boa” ou “ótima”. Houve uma ligeira melhora nos números para Bolsonaro em relação à pesquisa anterior, de 3 de agosto.

Para Felipe Nunes, Bolsonaro teve alguma sobrevida eleitoral com as desistências de Sergio Moro (União Brasi) e João Doria (PSDB), que eram pré-candidatos à Presidência. Agora, a aposta do presidente é, sobretudo, nos eleitores evangélicos – uma de suas principais bases de apoio.

“A aproximação de Lula e Bolsonaro nas últimas quatro pesquisas é um efeito sociológico. Nos últimos quatro meses, vimos um aumento considerável do voto evangélico em Bolsonaro”, afirma. “Embora o quadro geral tenha ficado estável e variando na margem de erro, a distância de Lula e Bolsonaro nos evangélicos está aumentando, sugerindo que a ofensiva feita pelo presidente começa a dar resultados. A grande movimentação social até agora tem sido a movimentação nos evangélicos.”

Ainda assim, Lula segue sendo o favorito na disputa, podendo ganhar no primeiro turno – hipótese que, no entanto, Nunes não considera a mais provável. “Se houver uma chance real de Lula vencer no primeiro turno, o eleitor do Ciro tem incentivos para fazer essa migração de voto. Mas acho que o eleitor do Ciro vai ser mais importante no segundo turno do que no primeiro”, avalia. “A tendência é que no segundo turno a distância entre Lula e Bolsonaro seja ainda maior do que está no primeiro, mostrando que o eleitor do Ciro está migrando para Lula nesta segunda rodada da eleição”.

A pesquisa Genial/Quaest ouviu 2 mil eleitores de 11 a 14 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

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