Governo sabota vacina contra Covid e falha no combate à Monkeypox

Enquanto a vacinação infantil contra a Covid-19 segue em ritmo lento, os casos de varíola dos macacos no Brasil aumentam em mais 190%, aponta OMS

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Há um mês o Ministério da Saúde autorizou a aplicação da vacina Coronavac em crianças a partir dos 3 anos de idade, porém a pasta ainda não fechou contrato para compra de vacinas contra a Covid-19 voltada ao público infantil. E agora, sem imunizantes, Rio de Janeiro, Brasília, 11 municípios do Rio Grande do Norte e Itapira (SP) tiveram que suspender a aplicação da primeira dose nas crianças.

Diante disso, a vacinação do grupo, após um mês, segue lenta. Números do LocalizaSUS, mostram que 293.127 crianças de 3 e 4 anos receberam a primeira dose até esse domingo (14) no Brasil. Destas, apenas 3.842 completaram a vacinação com a segunda dose. Estima-se que haja cerca de 5,6 milhões de crianças nessa faixa etária e, para imuniza-las, seriam necessárias cerca de 11 milhões de doses, pois o ciclo contempla duas aplicações no intervalo de 28 dias.

Estados também reclamam de falta de doses. Segundo informações do G1, na Bahia, 194 dos 417 municípios, menos da metade, registraram aplicação do imunizante na faixa etária. Espírito Santo e Pernambuco remanejaram doses de CoronaVac entre os municípios para imunizar as crianças e não interromper a aplicação. Ceará, por sua vez, disse que distribuiu apenas 10% dos imunizantes necessários para o grupo. Já o Maranhão informou que está com estoque insuficiente e pediu 400 mil doses à pasta. Das 27 unidades federativas consultadas, só Pará e Roraima responderam que dispõem de vacinas suficientes para atender a demanda.

O silêncio do Ministério

Ao jornal O Globo, o Ministério da Saúde informou em nota que “está em tratativas para aquisição do imunizante com maior celeridade, de acordo com a disponibilidade de entrega das doses pelos fornecedores”, sem informar detalhes. E, mesmo sem ter efetivado a compra, a pasta prevê receber os imunizantes a partir de setembro, mas não divulgou sequer a quantidade de doses a serem adquiridas.

A Saúde liberou a vacinação deste grupo em 15 de julho. No dia 25, Marcelo Queiroga, titular da pasta, anunciou que o ministério iria adquirir as doses necessárias por meio do consórcio global Covax Facility, gerenciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A pasta, assim, preteriu o Instituto Butantan, que fabrica os imunizantes no Brasil e já se preparou para atender a esta faixa etária.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e sanitarista da Fiocruz Brasília, Claudio Maierovitch, disse que “o ministério deu uma resposta evasiva sobre o Covax Facility, mas sabemos que o consórcio não tem vacinas para oferecer na quantidade necessária para as crianças brasileiras. Nós temos o Butantan, mas o ministério não se mexe”.

O Instituto Butantan, que voltou a importar Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) da China para iniciar a retomada da produção em solo brasileiro, após a Anvisa aprovar a imunização desse grupo, estima que conseguirá entregar lotes de CoronaVac em meados de setembro. Ainda não há, porém, pedidos ou negociações em andamento. O Butantan é o fornecedor da CoronaVac para todo o Brasil.

Ao Portal G1, o Butantan disse que “a decisão foi tomada com o intuito de disponibilizar, o mais rápido possível, o imunizante à pasta e a previsão de entrega pelo instituto é em meados de setembro. O Butantan dialoga constantemente com o Ministério da Saúde e aguarda posicionamento oficial da pasta sobre as ofertas de venda da vacina CoronaVac ao Programa Nacional Nacional de Imunizações (PNI)”.

O governo repete o erro com a varíola dos macacos

Foto: SBT/Reprodução

Eis outro grave problema de saúde pública com baixa, ou nenhuma, intervenção do governo. Com alta de 190,7%, segundo a OMS, o número de casos confirmados de Monkeypox chegou a 2.580 na última sexta-feira (12) no Brasil. Enquanto isso o país enfrenta falta de estrutura laboratorial para diagnóstico rápido, baixa capacidade de identificação de casos pelos serviços de vigilância, capacitação insuficiente dos profissionais de saúde e dificuldades de isolamento de contatos em tempo oportuno.  

A análise foi feita por um grupo de epidemiologistas de seis instituições de ensino, entre as quais a Fiocruz e a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e publicada recentemente em artigo na Revista Brasileira de Epidemiologia. Segundo os pesquisadores, o país tem falhado e demonstra, mais uma vez, como aconteceu com a Covid-19, fragilidade no enfrentamento da emergência sanitária. Para eles a “negligência e lentidão para a resposta ao enfrentamento da doença é preocupante.”

Somam-se a isso as limitações em estabelecer um sistema de informação em saúde transparente, ágil e apto para registrar e disseminar dados em tempo real; limitadas ações de capacitação aos trabalhadores de saúde e insuficientes iniciativas de comunicação adequada para a população e de combate ao estigma. “Ações rápidas e coordenadas são urgentes e imprescindíveis”, dizem.

Os pesquisadores elencam também uma série de esforços urgentes que deveriam ser adotadas pelo Ministério da Saúde, a começar com a definição de protocolos clínicos e de diretrizes terapêuticas na rede de atenção à saúde.

Segundo o artigo publicado, ainda que inicialmente a doença seja branda em pacientes saudáveis e o risco de complicações seja maior em crianças, grávidas e pacientes imunodeprimidos, este cenário de ausência de medidas coordenadas e planejadas é muito preocupante em um país marcado por desigualdades sociais. “O Brasil imerso em uma crise sanitária, econômica e política mantém os mesmos equívocos na gestão dessa nova emergência sanitária – os mesmos equívocos que produziram dramáticos impactos na saúde da população brasileira que resultaram em centenas de milhares de óbitos evitáveis associados à Covid-19.”

Segundo os especialistas, medidas são urgentes para o adequado enfrentamento desta emergência sanitária, para que todos os países com casos de transmissão comunitária possam estar aptos para responder a mais essa emergência. “As lições da pandemia de Covid-19 não podem ser negligenciadas e tampouco cometidos os mesmos erros, nem no nível nacional e nem no nível internacional. Garantir o acesso igualitário aos recursos disponíveis para o enfrentamento da doença é indispensável diante de mais uma emergência de saúde pública de doença transmissível.”, finaliza.

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Com informações de agências

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