Frente inter-religiosa condena fala de Michelle Bolsonaro e pede retratação

Nota de repúdio sobre o planalto ter sido consagrado aos demônios é “um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas”, dizem religiosos.

Foto: Isac Nóbrega/PR

A Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz veio a público repudiar as declarações da primeira-dama Michelle Bolsonaro feitas na Igreja Batista Lagoinha em Belo Horizonte (MG), no domingo (7).

Na ocasião, acompanhada do presidente Jair Bolsonaro (PL), a primeira-dama que é evangélica disse que o palácio do planalto antes deles era “consagrado aos demônios”. Durante o culto na igreja em que o ex-ator Guilherme de Pádua, assassino confesso de Daniella Perez, é pastor, ela também indicou, mais uma vez, que os bolsonaristas travam uma guerra do bem contra o mal.

Na nota de repúdio, a frente coloca que: “tais declarações ferem o Estado Democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem, através da demonização do diferente, a cultura de ódio, colocando em risco a convivência pacífica entre as distintas tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças.”

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Além disso, é colocado que a comparação com gestões anteriores atribuindo a elas o demônio “é um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas”.

Para completar, pedem que Michelle se retrate publicamente: “Em nome do respeito à fé, pedimos que a primeira-dama se retrate imediatamente, dentro dos princípios cristãos de amor ao próximo que afirma professar e aja em conformidade com as leis que regem nosso país, a fim de que seja verdadeiramente uma pátria para todos os brasileiros e brasileiras, indistintamente de opção religiosa ou política”.

Confira a íntegra da carta de repúdio.

Ataques continuam

Na terça-feira (9), Michelle, após a repercussão da sua fala de domingo, compartilhou um vídeo no Instagram em que o ex-presidente Lula toma banho de pipoca com os dizeres: “Isso pode, né! Eu falar de Deus, não”.

Ao falar isto, Michelle associou o banho de pipoca, gesto de proteção na Umbanda, com algo negativo. Ou seja, mais uma vez, demonstrou intolerância religiosa.

De acordo com a deputada estadual de São Paulo Leci Brandão (PCdoB), a fala contra Lula é classificada como crime de intolerância.

“A oportunista disfarçada de cristã, que ainda está como primeira-dama, cometeu crime de intolerância ao associar tradições afro-brasileiras às trevas. Treva é o que esse país tem se tornado com um presidente genocida, apoiado por racistas como ela. Que responda por isso na Justiça!”, falou.

Já o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) indicou que os que acham que tem o monopólio da fé são vendilhões do templo, em referência à passagem bíblica em que Jesus expulsa mercadores de dentro do local de adoração a Deus.

“A postagem feita por Michelle Bolsonaro contra Lula é eivada de preconceito contra as religiões de matrizes africanas. Essas pessoas acham que têm o monopólio da fé, mas não passam de vendilhões do templo que usam o nome de Deus para pregar o ódio e fazer fortuna. Cínicos!”, colocou Silva.

Janja, esposa do presidente Lula também respondeu em seu twitter. “Eu aprendi que Deus é sinônimo de amor, compaixão e, sobretudo, de paz e de respeito. Não importa qual a religião e qual o credo. A minha vida e a do meu marido sempre foram e sempre serão pautadas por esses princípios.”