Eleitor antecipa escolha com polarização entre Lula e Bolsonaro

Conforme o Datafolha, Lula e Bolsonaro respondem, juntos, por 76% das intenções de voto na pesquisa estimulada

Dois anos após o recorde de abstenções registrado nas eleições municipais de 2020 – em meio à pandemia de Covid-19 –, tudo indica que a disputa à Presidência terá, neste ano, um índice sem precedentes de votos válidos. Com a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), os eleitores brasileiros têm antecipado a escolha do voto.

Conforme levantamento do blog Pulso (O Globo), “nunca, desde 1989, os brasileiros estiveram com suas intenções de voto para presidente tão na ponta da língua, a dois meses das eleições”. Mesmo na pesquisa espontânea – em que os nomes dos candidatos não são apresentados aos eleitores –, sete em cada dez entrevistado já declaram sua preferência.

O número de eleitores indecisos, hoje, é de 27% nessa sondagem espontânea. Em todas as eleições presidenciais anteriores desde 1989, esse índice foi superior a 40%, chegando a mais de 50% em 2014. Da mesma maneira, os eleitores que dizem que não votar em nenhum candidato somam 6% hoje. Em 2018, eram 23,2%. Na avaliação do Pulso, os dados indicam “um enfraquecimento do discurso da antipolítica”, puxado pelo embate entre Lula e Bolsonaro.

“Quanto mais Luiz Inácio Lula da Silva ocupa seu espaço após as decisões que lhe devolveram os direitos políticos, mais ele demarca até onde Bolsonaro pode ir”, resume o cientista político Joanildo Burity, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. “Temos a materialização da fronteira política entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro, que organiza todo o cenário político do país em 2022. Um ponto central de análise é essa figura central que Lula ocupa no cenário político brasileiro.”

Segundo Burity, “antes mesmo da eleição, quando Lula retomou os direitos, as duas fronteiras políticas já se estabeleceram e o processo eleitoral está se tornando plebiscitário por causa da volta de Lula. É uma eleição politizada, sim”..

O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda também atribui esse fenômeno à “oferta dos dois candidatos superpopulares” na disputa. “Se nem Lula, nem Bolsonaro fossem candidatos, o nível de brancos, nulos e indecisos seria bem mais elevado”, avalia. “Pela primeira vez, um presidente e um ex-presidente disputam uma mesma eleição. A consequência é a redução da alienação eleitoral.”

Em outro levantamento, o site Poder360 confirma a tese segundo a qual a eleição 2022 é a mais polarizada desde a redemocratização. Conforme o Datafolha, Lula e Bolsonaro respondem, juntos, por 76% das intenções de voto na pesquisa estimulada. “Em todos os outros pleitos presidenciais, a soma dos dois pré-candidatos mais bem colocados nas pesquisas (nesta fase da eleição) era menor do que isso”, diz o instituto.

O Poder360 acrescenta que, historicamente, todos os presidentes que se candidataram à reeleição tinham cerca de 40% de intenções de votos a dois meses da eleição e vieram a vencer novamente nas urnas. Bolsonaro, nesse sentido, é exceção, já que, de acordo com o Datafolha, marca apenas 29%.

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