Lula diz que Bolsonaro tem medo do povo e não de urna eletrônica

Em convenção histórica em Fortaleza, Lula afirmou que governar é cuidar bem das pessoas e que se dedicará de corpo e alma, 24 horas por dia, para consertar o país

Legenda da foto: Lula esteve no Ceará para apoiar as canditauras de Elmano Freitas, ao governo estadual, e Camilo Santana, ao Senado Federal. Foto: Ricardo Stuckert

A chuva que caiu sobre Fortaleza por quase toda a manhã deste sábado (30) não impediu cerca de 20 mil cearenses de comparecerem ao Centro de Eventos do Ceará para protagonizar a maior convenção partidária da história política do estado e que com contou com a presença do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, líder da disputa presidencial. Em seu discurso no ato político “Vamos Juntos pelo Brasil e pelo Ceará”, que encerrou a convenção, Lula afirmou que governar é cuidar bem das pessoas e que se dedicará de corpo e alma, 24 horas por dia, para consertar o país. Lula alfinetou Bolsonaro ao dizer que o atual presidente não tem medo da urna eletrônica e sim do povo que o derrotará nas eleições.


“A inflação está maior, o desemprego está maior, a destruição da indústria está maior, a fome está maior, as mentiras são muito maiores. Eu resolvi dedicar quatro anos da minha vida para que a gente possa fazer esse país voltar a sorrir, gerar emprego, gerar renda para as pessoas comerem três vezes ao dia, irem ao teatro, ao cinema e viajar. Esse país não pode continuar na letargia que está”, afirmou Lula.

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O ex-presidente ressaltou a importância de retomar políticas públicas inclusivas como o Minha Casa Minha Vida, com subsídio para que os pobres possam ter a casa própria, e de dar oportunidades para que os filhos das famílias pobres cheguem à universidade e virem doutores.
“A gente vai voltar a fazer escola técnica, a gente vai voltar a fazer universidade, porque eu quero que o filho do trabalhador seja doutor. Quem é que disse que os filhos dos pobres não podem estudar? Eu não quero tirar nada de ninguém. Eu não quero que o rico fique pobre, eu quero é que o pobre fique rico, eu quero é que o pobre cresça”, disse, acrescentando que, diferentemente do que alguns pensam, as pessoas pobres gostam de coisas boas e querem viver bem.

Foto: Ricardo Stuckert

Lula falou sobre a obra de transposição do Rio São Francisco, iniciada em seu governo e que Bolsonaro tenta capitalizar para reverter sua enorme desvantagem no Nordeste. “Dom Pedro tentou fazer. Eu e a Dilma fizemos 88% e outro que deu o golpe (em referência a Michel Temer) 7%, e o mentiroso (em referência a Bolsonaro) fez 5%, e colocou que era ele que tinha feito”, afirmou o ex-presidente.


Ao falar sobre a Operação Lava Jato, Lula afirmou: “Vocês sabem o que eles fizeram comigo. Prometi não tocar mais nesse assunto. Mas, naquela primeira audiência (julgamento) eu disse, vocês estão condenados a me condenar. Vocês permitiram que a mentira fosse longe demais”, destacou. Ele citou ainda prejuízos provocados pela Lava Jato como a perda de 4,4 milhões de empregos, a destruição da indústria naval e o abalo no setor de petróleo e gás.

O ex-presidente criticou a decisão de Bolsonaro de decretar sigilo por cem anos de investigações que envolvem seu governo, parentes e amigos dele. Lula disse que pretende revogar “todas as leis de sigilo que ele (Bolsonaro) fez” e acrescentou “nós queremos saber o que ele está escondendo. Quando acusava o PT, o PT era investigado. O PT criou o Portal da Transparência, criou a Lei de Acesso à Informação”.

Foto: Ricardo Stuckert

Democracia x fascismo

Para Lula, as eleições deste ano não são comuns, mas uma disputa da democracia contra o fascismo e o autoritarismo, da verdade contra a mentira, do amor contra o ódio. “Não é um homem contra outro homem, ou um partido contra outro partido. Essa eleição é a democracia contra o fascismo, é a democracia contra o autoritarismo, é a verdade contra a mentira, é o amor contra o ódio, é a solidariedade contra a discórdia. Nessa eleição, a gente estará jogando o futuro de cada um de nós”.
Ainda em defesa da democracia, Lula criticou os ataques de Bolsonaro à urna eletrônica. Para ele, o atual presidente critica o sistema eleitoral brasileiro para encobrir seu medo do povo porque este vai derrota-lo nas próximas eleições e se vingar dos males causados ao país e aos brasileiros.

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Disputa estadual

Adiada por uma semana, em razão das mudanças do cenário eleitoral do estado, a convenção aprovou a aliança dos partidos que integram a Federação Brasil Esperança (PT, PCdoB e PV) com o MDB e PRTB, e deixou aberta a possibilidade da federação composta pelo PSDB e pelo Cidadania compor a frente ampla que disputa as eleições no Ceará. Para liderar a aliança foram aprovados os nomes do deputado estadual Elmano de Freitas (PT), para disputar o governo do Estado, e do ex-governador Camilo Santana (PT), para a única vaga ao Senado Federal em disputa neste ano.

Lula. Camilo Santana e Elmano de Freitas foram ovacionados l Foto: Ricardo Stuckert

O ato político da convenção foi aberto com uma fala emocionada e emocionante de Maria Marta Silva, catadora de material reciclável, que se disse muito feliz por encontra o ex-presidente Lula e agradecer pelo que ele fez ao povo trabalhador. Entre as conquistas que ela citou estão o programa Minha Casa, Minha Vida e a política de inclusão nas universidades pública. “Graças a você, Lula, eu e muitos trabalhadores dores têm um lugar para morar. Minha filha, também catadora, está terminando a faculdade, e minha neta também é universitária”. Marta afirmou que todos os dias reza por Lula e “como sou do candomblé, mando um axé pra você, presidente”.

Em seguida, a presidente nacional do PT se pronunciou e disse que está se inicia uma caminhada para retomar o Brasil para o povo brasileiro, que tem pressa e quer superar o momento difícil que enfrenta. Para ela, “Lula e Alckmin representam a esperança do povo”. Para Gleisi, Lula conhece a alma do povo porque convive com ele e conhece bem o Brasil.

A emoção também marcou a fala do ex-governador Camilo Santana que mesclou sua fala com referências ao pai, Eudoro Santana, à mãe, Ermengarda Sobreira, à esposa Onélia, aos filhos Pedro, Luiz e José, destaques aos governo de Lula, elogios ao candidato a  governador Elmano de Freitas, agradecimento ao ex-governador e atual senador Cid Gomes e homenagem à governadora Izolda Cela, que foi sua vice por sete anos e três meses.

Com o filho José nos braços, Santana agradeceu ao apoio de toda sua família durante o período em que governou o Ceará.  Sobre Elmano disse que “é um jovem talentoso, deputado duas vezes e grande responsável para aprovar projetos importantes. Elmano é um homem de diálogo, que tem um estilo parecido com o meu”. Santana também disse ter muito gratidão ao senador Cid Gomes e ressaltou que “ninguém, nunca acabará com a amizade” que existe entre eles. Camilo chegou a chorar durante sua saudação a Izolda Cela, a quem chamou de amiga. “Esteve ao meu lado em todos os momentos, nesses últimos sete anos e três meses”, afirmou.

O deputado Elmano de Freitas iniciou seu discurso também falando em emoção, com “o coração pulsando e com um filme da minha vida passando na cabeça”, afirmou. Freitas lembrou sua trajetória nos movimentos sociais, como advogado de trabalhadores rurais, sua experiência como gestor público e sua atuação na Assembleia Legislativa. O candidato a governador ressaltou a importância da eleição deste ano. Para ele, “o caminho para a derrota da desgraça de Bolsonaro é eleger Lula”. Elmano exaltou o trabalho de Camilo Santana como governador definindo-o como “um pai cuidadoso e atencioso com o povo”. Ao final, leu os versos da música “Amigo de fé”, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos, dedicando a Lula, Camilo e ao povo cearense.

Izolda Cela presente

 Mesmo não comparecendo à convenção, a atual governadora do Estado, Izolda Cela, foi uma das pessoas mais aplaudidas na convenção ao lado de Lula, Camilo e Elmano. Todos estes a citaram em seu discurso. Preterida pelo PDT do direito de disputar a reeleição, Izolda pediu desfiliação do partido e disse que ainda não tem compromissos com nenhuma candidatura ao governo.

Lula e Luisa, filha da governadora Izolda Cela

O primeiro a citar a governadora foi Camilo Santana que ressaltou o trabalho ao lado de “uma mulher extraordinária”. Uma pessoa, completa ele, “que é responsável pela educação no Ceará. A primeira mulher governadora do Estado do Ceará”.

O deputado Elmano Freitas lembrou que quando foi secretário de Educação de Fortaleza Izolda Cela era a titular da secretaria de Educação no Estado e pediu que o grande público presente a homenageasse com uma salva de palmas.

Já o ex-presidente Lula declarou que a governadora do Ceará “sofreu impeachment sem ser impeachment”, e acrescentou: “no Brasil, não tem ninguém com a competência educadora que a companheira Izolda tem”. Não podendo cumprimentar pessoalmente Izolda, o ex-presidente o fez através de Luisa Cela, filha da governadora, que estava presente à convenção.

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