FUP diz que R$ 87,8 bilhões pagos em dividendos pela Petrobras é imoral

Para pesquisador do Ineep a gestão da estatal atende ao calendário eleitoral.

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Na última quinta-feira (28), o conselho de administração da Petrobras aprovou o pagamento de R$ 87,8 bilhões aos acionistas. O valor por ação preferencial e ordinária é de R$ 6,73. Do montante, R$ 32 bilhões serão pagos ao governo federal, principal acionista da empresa. Desse valor, R$ 25 bilhões tem como destino a união e o restante, R$ 7 bilhões, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o dividendo recorde da Petrobras no segundo trimestre do ano, é imoral. Além disso, reduz a capacidade de investimento da empresa e representa transferência de renda do trabalhador brasileiro em meio à escalada de reajustes dos combustíveis e da inflação provocadas pela equivocada política de preço de paridade de importação (PPI).

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“Escárnio, festa de fim de governo”

Segundo o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, a política de gordos dividendos é uma perversa forma de concentração de renda, que beneficia sobretudo acionistas privados. Os acionistas estrangeiros ficam com a maior parcela, 44,8% do total dos dividendos distribuídos.

“O dividendo deste trimestre e os R$ 48,4 bilhões registrados no primeiro trimestre somam R$ 136 bilhões no semestre do ano, o que representa mais do que o ano passado todo e supera os dividendos pagos para um ano inteiro ao longo da história da Petrobras. É recorde para um trimestre, é recorde para um semestre, é recorde para qualquer ano anterior”, destacou Bacelar.

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Ele lembra que os valores são ainda maiores: “Observando o que foi pago em 2022 (R$ 38,3 bilhões), referente ao ano de 2021, chegamos a R$ 175,4 bilhões até setembro. Considerando que a Petrobras ainda vai distribuir o resultado do terceiro trimestre neste ano, podemos atingir cerca de R$ 200 bilhões em 2022. É um escárnio, uma verdadeira festa de fim de governo”, completa.

Inflação impulsionada

De acordo com Mahatma dos Santos, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) a distribuição de dividendos é “fruto dos sucessivos aumentos de preços realizados pela Petrobras”.

“A gestão da estatal tem sido direcionada para atender a um conjunto de interesses relacionados ao calendário eleitoral e não aos interesses da sociedade como um todo. As altas nos preços dos derivados turbinam os dividendos que serão repassados ao governo federal, mas reduzem os investimentos de longo prazo da companhia e impulsionam a inflação”, comentou o pesquisador do Ineep.