CTB conquista vitória histórica nos Metalúrgicos de Volta Redonda

Com com 67,1% dos votos, a Chapa 2 – A Hora da Mudança venceu a eleição para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense

O sindicalismo classista está novamente à frente de uma das principais bases operárias do País. Nesta quinta-feira (28), com 67,1% dos votos, a Chapa 2 – A Hora da Mudança, de oposição, conquistou uma vitória histórica, ao vencer a eleição para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense (RJ). O mandato será de quatro anos (2022-2026).

A entidade representa a categoria metalúrgica de Volta Redonda, que abriga a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Criada em 1941, no governo Getúlio Vargas, a CSN foi um dos berços da industrialização brasileira, alavancando a produção nacional de aço. O sindicato também exerce a representação dos metalúrgicos de Barra Mansa, Itatiaia, Quatis, Pinheiral, Porto Real e Resende.

Dos 40 membros da chapa vencedora, 32 são ligados à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e oito à Central Sindical e Popular (CSP) Conlutas. A direção eleita será presidida por Edimar Miguel Pereira Leite, da CTB.

O pleito se estendeu por três dias (de 26 a 28 de julho) e foi marcado por um forte repúdio à direção pelega e decadente do Sindicato, ligada à Força Sindical. Não por acaso, a Chapa 1 – Juntos Somos Mais Fortes, de situação, mesmo abusando do uso da “máquina” do sindicato e tentando judicializar permanentemente a disputa, não passou de 335 votos (18,5%).

Em terceiro lugar, ficou a Chapa 3 – Oposição Metalúrgica do Sul Fluminense, ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), que, na prática, pouco tinha de oposicionista. Desde 2018, os cutistas faziam parte da direção do sindicato. Na eleição, a Chapa 3 obteve 230 votos (12,7%) e amargou o último lugar. Houve ainda 17 votos em branco e 13 nulos.

Greve e privatização

Fundado em 19 de maio de 1945, o Sindicato acumula 77 anos de história. Um de seus marcos foi a greve de 1988, quando mais de 10 mil trabalhadores da CSN paralisaram a produção por 17 dias, em busca de reajuste salarial e melhores condições de trabalho. Em 9 de novembro, o Exército invadiu as instalações da empresa para tentar forçar o fim do movimento. Mais de 40 operários ficaram feridos, e três – William, Valmir e Barroso – foram mortos, em pleno período de redemocratização do País. O episódio ficou nacionalmente conhecido como o Massacre de Volta Redonda.

A isso sobreveio a resistência à privatização da CSN, que foi leiloada em 1993, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Na ocasião, a diretoria do Sindicato, já ligada à Força Sindical, apoiou a desestatização da empresa, enquanto a oposição, formada por sindicalistas da CUT e da antiga CSC (Corrente Sindical Classista), protestou.

No início dos anos 1990, outras siderúrgicas brasileiras, como a Usiminas e a Cosipa, também foram vendidas, e o setor fechou 35 mil postos de trabalho. Só na CSN, o número de trabalhadores caiu de 25 mil em 1988 para 12 mil em 1997. Além das demissões em massa, houve um prolongado processo de arrocho salarial e perda de direitos, parcialmente revertidos no governo Lula (2003-2010).

A insatisfação da categoria com o peleguismo da direção do sindicato culminou na vitória, em 2006, da oposição. Com o triunfo da chapa da CSC, o sindicalismo classista assumiu, pela primeira vez, a entidade. No ano seguinte, em nível nacional, a CSC se desligou da CUT e foi a força motriz da fundação da CTB.

Enquanto isso, em Volta Redonda, a Força Sindical investiu na cooptação de dirigentes sindicais e na pareceria cada vez menos disfarçada com o patronato. A central conseguiu retomar a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, vencendo três eleições seguidas. Em 2018, no auge da crise aberta com o golpe de 2016 e a reforma trabalhista, Força Sindical e CUT se uniram em uma rara disputa com chapa única.

Mas o peleguismo estava com os dias contados – e a derrota da Força Sindical começou a ficar visível durante a campanha salarial na CSN. Após anos sem reajuste salarial e com encolhimento progressivo da PLR (Participação nos Lucros e Resultados), os trabalhadores passaram a contestar a direção do Sindicato. No último dia 8 de abril, por exemplo, uma assembleia com a participação de mais de 6 mil trabalhadores da empresa impôs uma derrota contundente à Força – apenas 39 trabalhadores concordaram com a proposta apresentada pela diretoria sindical.

A derrota da Chapa 1 era inevitável. Com o apoio de dezenas de sindicalistas de todo o Brasil – que se dirigiram até Volta Redonda para participar dessa luta histórica –, a oposição conquistou a adesão das bases e levou a melhor na imensa maioria das urnas. A poucos minutos da meia-noite, a vitória estava garantida. A Chapa 2 – A Hora da Mudança abria, assim, um novo e desafiante capítulo para o sindicalismo classista brasileiro.

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