Revista Princípios nº 164 avalia o bicentenário da independência do Brasil

Revista já está disponível com 16 artigos que contribuem para a compreensão do lugar do Brasil no mundo, após 200 anos de independência.

A Batalha do Jenipapo foi travada próximo ao rio Jenipapo, na então província do Piauí, em 13 de março de 1823, entre o Exército Brasileiro e o Exército Português durante a Guerra da Independência do Brasil. A pintura acima, de 2003, é de Francisco Paz e está exposta no Monumento do Jenipapo, em Campo Maior (PI)Reprodução/ Fernando Cunha/Flick

Em sua edição n° 164, a revista Princípios apresenta o dossiê temático Brasil: 200 anos de uma independência incompleta. Organizado pelos professores doutores Diorge Alceno Konrad (PPGH-UFSM) e Nilson Weisheimer (PPGCS-UFRB), esta edição alusiva ao bicentenário da Independência do Brasil traz contribuições originais de diferentes áreas do conhecimento, com  análises críticas do processo de gênese e desenvolvimento das lutas pela independência nacional.

O contexto de lutas e revoltas que marcam o período colonial rumo à independência de Portugal é analisada, desde as revoltas nativistas (entre 1684 e 1711), passando pela Inconfidência Mineira (1789) e pela Conjuração Baiana (1798-1799), assim como pela Revolução Pernambucana (1817). 

Como já defendeu Lilia Moritz Schwarcz, o enraizamento da Corte portuguesa no Brasil, a partir de 1808, condicionou o movimento de Independência. Com o advento da Revolução Industrial e as disputas de mercados entre europeus, Portugal foi pressionado a submeter-se com sua dependência econômica aos ingleses, que passariam a dominar de fato o país entre o final do Brasil Colônia e o início do Império.

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Assim, os artigos mostram que a colônia era comandada por uma metrópole empobrecida e de poucos recursos econômicos, que a explorava à exaustão e esgotamento. “Esse processo levou ao Sete de setembro de 1922 sem pôr fim, de imediato, às guerras de independência e, muito menos, às revoltas populares e antiescravistas, como a Confederação do Equador de 1824 e todas as que se seguiram, a partir do fim do governo de d. Pedro I”, diz o editorial da revista. 

Como os EUA, o Brasil independente formava-se a partir de instituições e concepções liberais, mantendo a escravidão como base econômica. Assim, nas palavras de Nelson Werneck Sodré, o país manteve no fundamental as características do antigo sistema colonial.

Junto com isso, a revista registra que o país mantém seu papel na cadeia produtiva internacional, de mero fornecedor de matérias primas tropicais aos mercados estrangeiros. Esse constante olhar para fora vai organizar toda a economia e sociedade brasileira.

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“Como apontou Leôncio Basbaum, a história posterior teria desdobramentos a partir dessa infraestrutura dominada por latifúndio, trabalho escravizado e produção para a exportação, razões centenárias de nossa dependência, como também do racismo estrutural e de outros flagelos”, diz o editorial.

No entanto, a revista vai mostrar que este cenário conservador vem acompanhado das contradições surgidas da independência, que gera transformações de consciência, em meio à crescente dependência do endividamento externo. É dessa perspectiva que o tecido social se divide entre as “frações objetivamente interessadas na soberania e na independência nacional e aquelas que se reproduzem como agentes e sócias menores da espoliação externa”.

Desta forma, a revista aproveita a oportunidade do bicentenário da Independência para debater esses desafios da nação, à luz de um entendimento do passado que possa iluminar a luta. 

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Artigos sobre outras temáticas também compõem a edição como a análise da política de preços dos combustíveis e a soberania nacional; o direito de greve e sua tradução na ideologia jurídica; o papel do chamado agronegócio para a economia do país; as visões da esquerda brasileira — e, em particular do Partido dos Trabalhadores (PT) — sobre a construção do socialismo chinês. 

A seção de resenhas traz uma análise da obra, recém-publicada, que transcreve o curso ministrado pelo filósofo político italiano Norberto Bobbio na Universidade de Torino durante o ano acadêmico de 1978-1979. Publica ainda, na seção Diálogos & Debates, a segunda parte da discussão entre o economista alemão André Gunder Frank e o politólogo argentino Rodolfo Puiggrós sobre o tema dos modos de produção na América Latina.

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A edição pode ser lida aqui e comprada em formato físico em www.livrariaanita.com.br

Informações da edição
ISSN: 1415-7888Formato: Impresso
Período: MAIO/AGOSTO 2022
Edição: 164
Páginas: 346
Dimensões: 26cm x 18cm x 2cm
Peso: 650g