Mulheres e jovens impedem recuperação de Bolsonaro

Bolsonaro não terá chance nenhuma de reeleição se não reduzir – e muito – a rejeição das eleitoras a seu governo

O Auxílio Brasil começou a ser pago e a gasolina ficou mais barata. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro (PL) segue empacado nas pesquisas de intenção de voto. Nesta segunda-feira (25), a menos de 70 dias das eleições presidenciais, dois novos levantamentos revelaram uma vantagem consistente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na preferência dos brasileiros.

Conforme a pesquisa XP/Ipespe, Lula tem 44% e Bolsonaro, 36%. Na sondagem BTG/FSB, a diferença é ainda maior: 44% a 31%. Afinal, por que as medidas eleitoreiras do governo Bolsonaro não surtiram efeito?

É provável que, com a PEC do Desespero e outras ações oportunistas, o presidente ainda colha, sim, alguns dividendos eleitorais. Segundo aliados de Bolsonaro, o impacto dessas medidas terá mais força no final de agosto.  Além de ser o mês em que todos os benefícios eleitoreiros estarão simultaneamente em vigência, é em agosto que se iniciam a campanha eleitoral (no dia 16) e a propaganda oficial em rádio e TV (dia 28).

Mas, para Bolsonaro, não basta crescer uns pontinhos na pesquisa. Há um fator que se revela cada vez mais incontornável na campanha – e é a taxa de rejeição ao governo, que segue muito elevada. As pesquisas da semana indicam que a gestão bolsonarista é desaprovada por 58% (BTG/FSB) a 59% (XP/Ipespe). Não bastasse um adversário do porte de Lula, o presidente tem contra si o fantasma de uma desaprovação assombrosa.

“Ao longo dos últimos meses, pouco se alterou a enorme rejeição ao capitão, que torna sua reeleição quase que matematicamente impossível”, analisa a jornalista Helena Chagas, ex-ministra da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) no governo Dilma Rousseff (PT). “Ela até oscilou para baixo, passando de 60% para os 59% de hoje no Ipespe, contra 43% de Lula, mas funciona como uma barreira ao presidente. Quem tem mais de 50% de rejeição não ganha eleição.”

Helena acrescenta que a ligeira recuperação do presidente nos últimos meses é insuficiente para equilibrar a disputa eleitoral: “Para Bolsonaro inverter o jogo, teria que acelerar muito seu ritmo de recuperação: na atual velocidade, até outubro só conseguiria subtrair três pontos percentuais da atual diferença de nove, chegando ainda seis pontos atrás de Lula ao primeiro turno”.

Nos recortes das pesquisas, há dois segmentos que parecem perdidos para Bolsonaro: as mulheres e os jovens. Com seus pacotes eleitoreiros, o presidente pode reduzir a dianteira de Lula no Nordeste e entre eleitores de baixa renda. Mas o que fazer com o eleitorado feminino e juvenil? Esta é a fatia dos brasileiros que parecem impedir uma recuperação bolsonarista a esta altura do calendário eleitoral.

Vale lembrar que a proporção de eleitores jovens e eleitoras mulheres cresceu. Maioria do eleitorado desde a década de 1980, as mulheres terão o maior percentual de participação na história. Dos mais de 156 milhões de brasileiros aptos a votarem nas eleições 2022, 52,65% são mulheres. O eleitorado feminino supera o masculino em mais de 8 milhões de votos – 82.373.164 de eleitoras mulheres ante 74.044.065 de eleitores homens.

Não bastasse essa discrepância – que dá mais protagonismo ao voto feminino –, a rejeição de Bolsonaro é maior entre as mulheres. As duas pesquisas divulgadas nesta segunda-feira apontam que, entre os eleitores do sexo masculino, Lula e Bolsonaro empatam tecnicamente, dentro da margem de erro. Já entre as mulheres, Lula vence de goleada – 46% a 24%, segundo a pesquisa BTG/FSB; e 48% a 30%, conforme a XP/Ipespe. Bolsonaro não terá chance nenhuma de reeleição se não reduzir – e muito –a rejeição das eleitoras a seu governo.

Os jovens também ganham peso eleitoral. É entre eles que Lula se sai melhor nos recortes das pesquisas por faixa etária. A pesquisa XP/Ipespe mostra o petista com 50% das intenções de votos dos eleitores de 16 a 34 anos, contra 27% de Bolsonaro. Na BTG/FSB com brasileiros de 16 a 24 anos, Lula marca 49% e Bolsonaro, 21%.

Embora não tenham a memória do governo Lula, os eleitores mais jovens manifestam um interesse cada vez maior pela política. Em 2022, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o número de brasileiros de 16 e 17 anos aptos a votarem bateu recorde e ultrapassou o patamar de 2,1 milhões de novos eleitores. A alta em relação a 2018 foi de 51,13%.

A pesquisa BTG/FSB entrevistou 2 mil eleitores, por telefone, entre 22 e 24 de julho. A XP/Ipespe também ouviu 2 mil brasileiros por telefone, mas de 20 a 22 de julho. Nos dois levantamentos, a margem de erro é de dois pontos percentuais.

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