Para Bolsonaro, jovem não trabalha porque “não corre atrás”  

Realidade mostra, no entanto, que falta emprego e melhores condições de trabalho e oportunidades para a juventude

Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

Bolsonaro segue tentando terceirizar suas responsabilidades. Em mais um bate-papo no cercadinho do Alvorada, onde pode falar todo tipo de despautério com claque garantida e sem ser questionado, o presidente jogou para os jovens a culpa pelo próprio desemprego. 

“Por que o ensino foi de mal a pior no governo do PT? Por que interessa à juventude ser doutrinada? Ser um boca aberta aí… ‘A culpa é do governo’, ‘cadê o meu emprego?’. Você tem que correr atrás. Eu não crio emprego. Quem cria emprego é a iniciativa privada. Eu não atrapalho o empreendedor”, vociferou Bolsonaro nesta quinta-feira (21).

Ao menos em uma parte da declaração ele acertou. De fato, Bolsonaro não cria emprego. Ao contrário. A falta de uma política governamental indutora do desenvolvimento e da economia, entre outras medidas que deveriam estar sendo tomadas, tem contribuído diretamente para estender e aprofundar a crise, sobretudo entre os estratos mais empobrecidos da população e entre os mais jovens, deixando fatia considerável dos brasileiro dessa faixa etária fora do mercado de trabalho por falta de vagas e oportunidades.

Segundo dados dos IBGE, a taxa de desemprego nos três primeiros meses deste ano, entre pessoas de 14 a 17 anos, foi de 36,4%, o que equivale a mais de um terço da população. E entre os brasileiros que têm entre 18 e 24 anos, o índice foi de 22,8%. No começo deste ano, a taxa de desocupação entre jovens de 18 a 24 anos foi o dobro da média nacional. 

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Precarização e renda baixa

Além dessa dificuldade, por falta de trabalho formal, parte considerável dos jovens acaba tendo de apelar para ocupações precárias e com salários baixos. Segundo o estudo da Fundação Arymax e da B3 Social, conduzido pelo Instituto Veredas e tendo como base a análise dos dados da PNAD Contínua do IBGE do terceiro trimestre de 2021, o perfil do trabalhador informal brasileiro de subsistência é homem, jovem, preto e de baixa escolaridade. Entre os 14 e os 17 anos, esse perfil representa mais de 80% e nas idades de 18 a 24 anos, corresponde a 64% do total.

De acordo com o IBGE, na faixa entre os 18 e os 24 anos, a média salarial mensal é de R$ 1.452, o que representa metade da média salarial do brasileiro em geral. 

Em entrevista recente ao Portal Vermelho, Lúcia dos Santos Garcia, mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e técnica do Dieese, explicou a dura situação vivida pelos jovens sob o governo Bolsonaro. A juventude “é alvo da precarização porque é um segmento que, primeiro, aceita com mais facilidade por não ter tido um padrão anterior de proteção social e tem a necessidade de obter renda, mas não tem alternativa”. 

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Além disso, explicou, Bolsonaro “não está interessado exclusivamente em jogar nas costas da juventude um ajuste momentâneo do mundo do trabalho. Na verdade, quer retirar qualquer possibilidade não só de reflexão crítica da juventude sobre a sociedade e seu papel de agente político transformador, mas quer relegar a juventude trabalhadora a um papel subalterno na sociedade”.