Como Anitta ajudou Lula (e não Bolsonaro) a pautar as eleições 2022

Embora não tendam a ser cabos eleitorais que necessariamente transfiram votos, os artistas podem mudar as campanhas de outras maneiras

A declaração de apoio da cantora Anitta à pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a presidente agitou as redes sociais nos últimos dias. Enquanto os apoiadores de Lula “bombavam” a notícia e repercutiam a adesão, o próprio presidente Jair Bolsonaro acusou o golpe e reconheceu que Anitta tinha força entre o eleitorado mais jovem.

Embora não tendam a ser cabos eleitorais que necessariamente transfiram votos, os artistas podem mudar as campanhas de outras maneiras. Podem, por exemplo, ajudar os candidatos a consolidarem uma identidade, um posicionamento.

Nesse ponto, a prevalência de apoio de cantores sertanejos a Bolsonaro indica a força eleitoral do agronegócio no “interiorzão” do Brasil. Conforme detalhou o jornalista João Filho em recente artigo para o The Intercept Brasil, “não é de hoje que artistas sertanejos estão associados com os políticos de direita”, haja vista os vínculos entre esses cantores e o governo do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992). “Agora, com o agronegócio sentado no colo da extrema direita golpista e negacionista, a cena sertaneja se sentou também. E está faturando horrores vendendo shows para cidades administradas por prefeitos ligados ao bolsonarismo.”

Lula, por outro lado, é mais forte no universo tradicional da MPB, tendo já recebido o apoio de nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. O #ForaBolsonaro também tem sido a tônica de alguns discursos (e até shows) de artistas que emergiram no pop e no rock nacional dos anos 1980 – caso dos ex-titãs Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Nando Reis.

Mas o ex-presidente também é reverenciado por cantores da geração 2010 – e nesse sentido, apesar de seus 76 anos, Lula se fortalece junto ao público mais jovem. A cantora e drag queen Pabllo Vittar é uma de suas apoiadoras mais engajadas nos meios artísticos. Em março, durante sua apresentação no Lollapalooza, ela fez, por diversas vezes, o sinal de “L” (de Lula) com as mãos e chegou a erguer uma toalha que estampava o rosto do ex-presidente. Meses antes, ela já havia declarado que sonhava em cantar na posse de Lula, caso ele seja eleito nas eleições de outubro.

Essa aproximação é ainda mais interessante para a pré-campanha lulista porque, além da bem-sucedida carreira artística, Pabllo Vittar é uma referência para a comunidade LGBTQIA+. “Sou um menino gay que se veste de drag”, resumiu, certa vez, a cantora. Em junho, ela foi a principal atração da maior Parada do Orgulho LGBTQIA+ do Brasil, a de São Paulo – e ainda fez uma parceria com o Facebook para promover um “fashion show”.

Já Anitta, uma artista que se revela cada vez mais engajada, beneficia a pré-campanha de Lula na medida em que evidencia que Bolsonaro não tem mais o monopólio da pauta eleitoral. “Ela é um reforço positivo para a campanha, porque ela dita a pauta de assuntos”, resume, em entrevista ao jornal O Tempo, Amanda Vitoria Lopes, cientista política e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB).

“Em 2018 o candidato Bolsonaro ditava muito a pauta do que era assunto na imprensa. Isso agora está acontecendo mais com a campanha do Lula, principalmente por causa dos artistas”, analisa a especialista, que estuda eleições e relação das instituições. Segundo ela, Anitta “reforça (a convicção) entre quem pensou em votar no Lula, mas também estava indeciso se votava branco, anulava ou até mesmo ia votar, porque, convenhamos, o voto é obrigatório, mas o custo de não votar é baixo”.

Sem os showmícios que marcaram as campanhas eleitorais até a década de 1990, os artistas, agora, encontram novas formas de envolver seus fãs na política. “É comum da política usar essa estratégia. Mas estávamos acostumados a ver isso na propaganda política da televisão”, lembra Amanda. “A novidade que vem mais forte neste ano é que a campanha está principalmente nas redes sociais e começou antes do período oficial.”

Autor