Brasil tem 30% das crianças sem vacinação adequada, diz OMS

Organização Mundial da Saúde observa a maior queda contínua de vacinação dos últimos 30 anos. Cerca de 25 milhões de crianças estão com as vacinas atrasadas.

Crianças são imunizadas na tenda de vacinação instalada na Quinta da Boa Vista para a campanha contra a poliomielite e o sarampo, prorrogada até o dia 22/09 no estado do Rio de Janeiro.

Em todo o mundo, após dois anos de pandemia, foi registrada a maior queda contínua nas vacinações infantis dos últimos 30 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Dados divulgados hoje (15) mostram que 25 milhões de crianças estão com as vacinas atrasadas. O Brasil está entre os dez países no mundo com a maior quantidade de crianças com a vacinação atrasada.

No país, três em cada dez crianças não receberam as vacinas necessárias. Isso significa que 70,4% das crianças receberam ao menos a primeira dose da DTP, ou pentavalente, ou seja, aproximadamente 700 mil crianças não receberam nenhuma dose da vacina.

Sanitaristas brasileiros observam que o governo de Jair Bolsonaro tem resistência a realizar amplas campanhas de orientação à vacinação infantil. Sete meses depois de outros países implantarem vacinação contra a covid em crianças menores de 5 anos, o Brasil ainda não realizou sua campanha, mesmo diante do registro de cerca de 300 mortes nessa faixa etária. Em vários momentos, houve declarações desinformadas de Bolsonaro sobre vacinas, gerando dúvidas sobre a segurança dos imunizantes.

Este retrocesso histórico nas taxas de imunização está acontecendo em um cenário de taxas crescentes de desnutrição aguda grave. “Crianças estão perdendo direitos, direito à saúde, à alimentação adequada. São necessárias medidas e estratégias para evitar isso. Em situação de fome, o sistema imunológico fica fragilizado e, em caso de volta de doença ou de contato com a doença, essas crianças ficam mais suscetíveis a ficarem doentes”, diz Stephanie.

A vacinação é importante, segundo o estudo, para prevenir surtos de doenças e prevenir mortes de crianças e adolescentes que seriam evitáveis. Níveis de cobertura inadequados já resultaram em surtos evitáveis de sarampo e poliomielite nos últimos 12 meses.

A queda na vacinação é medida pela vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3), usada como marcador de cobertura vacinal. Ao todo, em 2021, são 2 milhões a mais de crianças com atraso vacinal do que eram em 2020 e 6 milhões a mais do que em 2019.  As crianças devem receber três doses da vacina. A porcentagem de crianças que estão com o esquema vacinal completo caiu cinco pontos percentuais entre 2019 e 2021, para 81%. No Brasil, as doses são aplicadas em bebês aos 2, 4 e 6 meses de idade.

As organizações mostram que entre as 25 milhões de crianças, 18 milhões não receberam nenhuma dose da vacina e a grande maioria delas vive em países de baixa e média renda, como Índia, Nigéria, Indonésia, Etiópia e Filipinas. Entre os países com os maiores aumentos relativos no número de crianças que não receberam uma única vacina entre 2019 e 2021 estão Mianmar e Moçambique.

“A preocupação é muito real porque as coberturas vacinais não têm aumentado e tem um sério risco de volta de doenças que tinham sido eliminadas ou que eram raridade”, diz a oficial de Saúde do Unicef no Brasil Stephanie Amaral.

Segundo Stephanie, um dos motivos para a não vacinação é a falsa percepção de que estamos livres de determinada doença porque são doenças que não aparecem mais, como a poliomielite, ou paralisia infantil, e a coqueluche. “Existe a falsa percepção que a vacina não é necessária, mas é o contrário. Muitas doenças não são vistas e a mortalidade infantil melhorou por causa da vacinação”.

Outras vacinas

No Brasil, consideradas outras vacinas, como a primeira dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, a cobertura caiu de 93,1% em 2019 para 71,49% em 2021, o que indica que também cerca de 700 mil crianças não receberam essa vacina.

No mundo, a cobertura da primeira dose da vacina contra o sarampo caiu para 81% em 2021, também o nível mais baixo desde 2008. Isso significa que 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose dessa vacina em 2021, 5,3 milhões a mais do que em 2019. Outros 14,7 milhões não receberam a segunda dose necessária.

Além disso, em comparação com 2019, mais 6,7 milhões de crianças perderam a terceira dose da vacina contra a poliomielite e 3,5 milhões perderam a primeira dose da vacina contra o HPV, que protege as meninas contra o câncer do colo do útero mais tarde na vida. Mais de um quarto da cobertura de vacinas contra o HPV que foi alcançada em 2019 foi perdida. Isso, de acordo com as organizações internacionais, tem graves consequências para a saúde de mulheres e meninas.

A queda na vacinação infantil deve-se, de acordo com o estudo, a muitos fatores, incluindo um número crescente de crianças que vivem em ambientes de conflito e de vulnerabilidade, onde o acesso à imunização é muitas vezes desafiador. As organizações apontam ainda como motivos para a queda, o aumento da desinformação e desafios relacionados à covid-19, como interrupções de serviços e da cadeia de suprimentos, desvio de recursos para resposta à pandemia e medidas de prevenção que limitavam o acesso e a disponibilidade do serviço de imunização.

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