Diante da carestia, comércio vende até sobras de alimentos

População que vive em situação de insegurança alimentar agora tem dificuldade em receber até mesmo doações de itens de qualidade inferior, que passaram a ser comercializados.

(Fotomontagem: lula.com.br)

Com a carestia e o desemprego, a parcela da população que não consegue mais comprar a cesta básica está recorrendo a produtos alimentícios de qualidade inferior. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, além do soro do leite, vendido como alternativa ao longa vida diante da disparada de preços, supermercados nas periferias de São Paulo têm comercializado itens como feijão fora do tipo, pontas de frios —bandejas com restos de queijo e presunto—, carcaça e pele de frango.

A reportagem encontrou, no Capão Redondo, o feijão fora do tipo, que é composto a 70% de grãos inteiros e 30% feijão bandinha, vendido a R$ 8,48, enquanto o carioca tradicional da mesma marca custava R$ 9,98. Na mesma loja, pontas de frios eram vendidas como promocionais, com pedaços de restos de queijo.

No Grajaú, também na zona sul da capital, mercados e açougues estavam vendendo carcaça e pele de frango em sacos plásticos e bandejas. No mercado Fonte Nova, em Guarulhos, na Grande São Paulo, uma caixa de leite varia de R$ 8 a R$ 10, mas subprodutos como soro de leite, são encontrados a R$ 7. Na Zona Leste, o leite condensado custa o dobro da mistura láctea.

Auxílio Brasil é insuficiente

Segundo a reportagem, a população também está recorrendo aos produtos próximos do vencimento. Mas há famílias que não estão conseguindo comprar nem mesmo carcaça e pele de frango e outras que, mesmo recebendo o Auxílio Brasil, dependem de doações destes itens. O benefício compra uma cesta básica em apenas três capitais brasileiras: João Pessoa (PB), Salvador (BA) e Aracaju (SE), o que significa que, em cada família contemplada, o benefício de R$ 600 é suficiente para garantir a segurança alimentar de nem mesmo um adulto nas demais 24 capitais.

O valor do Auxílio Brasil não chega a 10% do salário mínimo que o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima como suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. De acordo com os cálculos do Dieese, com base na cesta mais cara que, em junho, foi a de São Paulo, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 6.527,67, ou 5,39 vezes o mínimo de R$ 1.212,00.     

Diante da atual situação econômica e, como em muitos lugares os itens de qualidade inferior já estão sendo comercializados também, as doações estão mais escassas. Para aqueles aos quais são inacessíveis mesmo os preços destes produtos, agrava-se ainda mais a insegurança alimentar. Segundo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas), 61,3 milhões (cerca de 3 em cada 10 habitantes do Brasil) convivem com algum tipo de insegurança alimentar., ou seja, acordam sem saber o que vão comer. Destes, 15,4 milhões estão em insegurança alimentar grave, o que significa que estão passam fome.