Cingaleses invadem escritório do primeiro-ministro, após fuga do presidente

Manifestantes no Sri Lanka desafiaram a repressão militar e o estado de emergência para exigir a renúncia dos mandatários do país. País continua em crise institucional e colapso econômico.

Manifestantes do Sri Lanka, alguns segurando bandeiras nacionais, depois de invadir o escritório do primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe

Manifestantes no Sri Lanka desafiaram o gás lacrimogêneo, canhões de água e um estado de emergência para invadir o gabinete do primeiro-ministro depois que o presidente do país fugiu para as ilhas Maldivas, com a multidão exigindo que os dois renunciem diante da profunda crise econômica.

Em um comunicado televisionado nesta quarta-feira (13), o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe disse que instruiu os militares e a polícia a fazer “o que for necessário para restaurar a ordem”. Foi a senha para a invasão do seu gabinete por uma multidão. Enquanto isso, outros manifestantes invadiram os estúdios da televisão estatal, de onde Ranil acabara de sair, criando um clímax de colapso institucional.

O presidente Gotabaya Rajapaksa prometeu no fim de semana renunciar nesta quarta-feira, pouco antes de dezenas de milhares de manifestantes invadirem sua residência oficial, de onde fugiu resgatado por militares em 9 de julho. Ele voou para as vizinhas Maldivas na manhã de quarta-feira. Como presidente, ele goza de imunidade de prisão e acredita-se que queria ir para o exterior antes de deixar o cargo para evitar a possibilidade de ser detido.

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Gás lacrimogêneo e canhões de água disparados pela polícia e a declaração de estado de emergência nacional e toque de recolher não conseguiram dispersar os manifestantes. Um deles foi morto por asfixia com gás lacrimogêneo, segundo a polícia. Helicópteros sobrevoaram manifestantes em Colombo na quarta-feira, no que um líder do protesto chamou de “tentativa de intimidação”.

Wickremesinghe se tornaria automaticamente presidente interino se Rajapaksa deixar o cargo, mas ele próprio anunciou sua disposição de renunciar se for alcançado um consenso sobre a formação de um governo de unidade. Rajapaksa deixaria o governo em novembro de 2024.

Colapso econômico

A nação insular de 22 milhões de pessoas sofreu meses de longos apagões, escassez aguda de alimentos e combustível e inflação galopante em sua desaceleração mais dolorosa já registrada.

Rajapaksa é acusado de administrar mal a economia a ponto de o país ficar sem divisas para financiar até as importações mais essenciais, levando a graves dificuldades para seus 22 milhões de habitantes.

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Os médicos do Sri Lanka dizem que estão quase sem medicamentos que salvam vidas, alertando que a crise pode acabar matando mais pessoas do que o coronavírus.

O Sri Lanka deixou de pagar sua dívida externa de US$ 51 bilhões em abril e está conversando com o FMI para um possível resgate.

A ilha quase esgotou seus já escassos suprimentos de gasolina. O governo ordenou o fechamento de escritórios e escolas não essenciais para reduzir o deslocamento e economizar combustível.

As Nações Unidas alertam que o Sri Lanka está enfrentando uma terrível crise humanitária, com milhões já precisando de ajuda. Mais de três quartos da população reduziu sua ingestão de alimentos devido à grave escassez de alimentos do país.

Humilhação pública

Em três de abril, quase todo o gabinete ministerial do Sri Lanka renunciou em uma reunião tarde da noite, deixando Rajapaksa e seu irmão Mahinda – o primeiro-ministro – isolados. Logo depois, um novo ministro das Finanças renuncia logo após tomar posse, gerando mais pânico no governo.

Em 9 de maio, o governo financia apoiadores para atacar os manifestantes pacíficos em frente ao palácio. Nove pessoas são mortas e centenas ficam feridas nos ataques de represália que se seguem, com multidões mirando os responsáveis ​​pela violência e incendiando as casas dos políticos.

A partida de Rajapaksa, antes conhecido como “O Exterminador do Futuro”, foi cercada de humilhações públicas. Sua tentativa de voar para Dubai foi atrasada pela imigração, depois pela equipe da empresa aérea que o obrigou a passar pelos balcões públicos ao perceberem a tentativa de fuga. Ele acabou fugindo num avião militar com a esposa e seguranças.

Seu irmão mais novo, Basil, que renunciou em abril ao cargo de ministro das Finanças, perdeu seu próprio voo da Emirates para Dubai na terça-feira após um tenso impasse com funcionários do aeroporto.

Cingaleses e maldivos criticaram o governo por concordar em hospedar Rajapaksa. A oposição nas Maldivas expressou preocupação com a presença do presidente no país, quando deveria assumir as consequências de seus atos em seu país.

Com informações de agências internacionais

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