Casos de violência política saltam 335% no Brasil em três anos 

Levantamento da UniRio constatou 214 casos no primeiro trimestre deste ano, contra 47 no mesmo período de 2019

Câmera mostra momento em que Marcelo Arruda foi assassinado pelo bolsonarista Jorge Guaranho. Foto: reprodução

Estudo feito pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral da UniRio aponta que os casos de violência política saltaram incríveis 335% na comparação entre o primeiro trimestre de 2019 — ano em que Jair Bolsonaro (PL) assumiu a presidência — e o de 2022. Nos três primeiros meses daquele ano, quando o levantamento teve início, foram identificadas 47 ocorrências, contra 214 agora.

O crescimento também ficou registrado quando comparados os dados deste ano com os de 2020, ano de eleição municipal: foram 174 crimes de janeiro a junho daquele ano, alta de 23%. 

O levantamento considera crimes como ameaças, homicídios, atentados, homicídios de familiares, sequestros e sequestro de familiares de lideranças políticas. 

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As ameaças ficam na dianteira dos ataques a lideranças políticas: de abril a junho de 2022, houve 37 relatos de intimidação, seguidas de 27 agressões 19 homicídios. No caso dos homicídios dessa natureza, o primeiro semestre de 2022 registrou 45, ante 54 no mesmo período do ano passado, redução de 17%.

Dentre os partidos que mais tiveram ataques a seus membros estão, de acordo com dados do segundo trimestre deste ano, o PSD (12), PL (10), PSDB e Republicanos (9), PT (7) e PSol (6). 

Reação à violência crescente

A crescente violência política, cujo caso mais recente foi o assassinato do petista Marcelo Arruda, vem preocupando lideranças políticas e de outros setores da sociedade. 

Em ato realizado em Brasília na terça-feira (12), Lula salientou: “Nas greves de 1980, quando a polícia estava lá, preparada para sufocar os trabalhadores, eu dizia pros trabalhadores: ‘Olha, nós vamos sair do estádio e vamos para a represa pescar. Eu não quero ninguém brigando, ninguém aceitando provocação’. É isto que nós temos que fazer nestes próximos três meses”. 

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Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado federal Renildo Calheiros (PE), “a intolerância política não deve ser banalizada e o que aconteceu em Foz de Iguaçu é absurdo. Quando Bolsonaro incentiva a violência está buscando caminhos para o fascismo. Bolsonaro prega ódio, intolerância e guerra. O Brasil quer cuidado, tolerância e paz”. 

Em documento entregue na terça-feira (12) à Procuradoria-Geral da República, no qual relatam casos de violência e pedem providências, os partidos PT, Psol, Rede, PSB, PCdoB, PV e Solidariedade assinalam que a violência política se insere em um contexto “marcado pela intolerância, incentivado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus apoiadores. Nesse sentido, não se pode ignorar que o agressor agiu, exclusivamente, por convicções ideológicas — quiçá incentivado por falas que já prenunciaram o objetivo de ‘metralhar a petralhada’ —, até porque sequer conhecia a vítima”.