Tentativa de Bolsonaro de desqualificar as urnas segue a todo vapor

Presidente e segmentos militares buscam pressionar Justiça Eleitoral para adotar sugestões contra não comprovada vulnerabilidade do sistema

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A 90 dias das eleições e vendo a cristalização da preferência por Lula nas pesquisas, Bolsonaro e a ala militar de seu governo seguem procurando formas de desacreditar as urnas e de pressionar o Tribunal Superior Eleitoral a concordar com as sugestões feitas pelo governo com relação à nunca provada insegurança do sistema, uma forma de manter sua base mais raivosa mobilizada e de justificar futuras ações questionando o resultado do pleito se este não for de seu agrado. 

Conforme noticiado nesta sexta-feira (8), o Ministério da Defesa planeja cobrar do TSE respostas para três apontamentos sobre a segurança do sistema de votação. Além disso, as Forças Armadas tentam conseguir uma reunião com a Justiça Eleitoral sobre o tema. 

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Também nesta semana, em reunião ministerial, o assunto foi colocado em pauta sempre pelo diapasão da suposta preocupação com a vulnerabilidade do sistema pelo qual o próprio Bolsonaro e seus filhos têm sido sucessivamente eleitos. Ao que parece, Bolsonaro segue tentando, de todas as formas, criar uma situação de fato consumado que lhe permita insuflar seu eleitorado contra resultados adversos. 

Em fala contundente durante audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Credn) da Câmara na quarta-feira (6), com a presença do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e os comandantes das Forças Armadas, a deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) destacou: “Essa briga com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não é uma batalha das Forças Armadas. O presidente fez essa escolha, as Forças Armadas não precisam fazer”. 

Ela completou dizendo que “não cabe às Forças Armadas debater urnas eletrônicas. Temos instituições para isso. O TSE cuida do processo eleitoral, o Parlamento cuida da legislação eleitoral, as Forças Armadas, a Polícia Federal e outras instituições podem dar suporte ao TSE no momento que forem chamadas, como sempre aconteceu. É diferente de ficar opinando sobre urnas eletrônicas”. 

Cabe destacar que em meio a esse processo golpista que põe em risco a democracia brasileira, a busca pela desqualificação do sistema eleitoral pode ter outro efeito adverso. A possibilidade de interferência dos militares brasileiros no processo eleitoral e de golpe poderão ser alvo de investigação nos Estados Unidos se for aprovada uma emenda à lei de orçamento de Defesa proposta por seis deputados democratas. 

A depender do resultado desse processo, se ficar apontado que essas possibilidades são factíveis, o Brasil pode vir a não acessar fundos destinados a programas relacionados à saúde, conservação ambiental e combate ao tráfico, entre outros. O assunto também foi alvo de comentário do presidente Joe Biden. Segundo seu porta-voz, o democrata teria dito a Bolsonaro esperar que os resultados das eleições brasileiras sejam respeitados.