Moradores de Brumadinho sofrem com metais pesados, diz Fiocruz

Rompimento de barragem da mineradora Vale S/A em 2019 causou a morte de 272 pessoas e problemas persistem

Ainda hoje o Corpo de Bombeiros procura os restos mortais de cinco pessoas engolidas pela lama em Brumadinho - Foto: Aloísio Morais

Moradores e as vítimas diretas do rompimento da barragem da mineradora Vale S/A em Brumadinho vêm sofrendo com doenças respiratórias, contaminação por metais pesados e depressão. A conclusão é de um estudo preliminar feito pela Fiocruz em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para medir o impacto da exposição das pessoas à lama que matou 272 pessoas e poluiu o Rio Paraopeba em 25 de janeiro de 2019.

Um dos aspectos avaliados é o perfil de exposição de moradores aos metais no município da Grande Belo Horizonte, como a dosagem de cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês, verificada por meio de exames de sangue e\ou urina. Entre os adultos, 33,7% apresentaram níveis aumentados de arsênio total na urina e 37%, de manganês no sangue. As crianças de até 6 anos de idade também foram avaliadas e os resultados mostraram que em todas foi detectada a presença de pelo menos um dos cinco metais em avaliação.

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Foi constatado ainda que mais da metade dos adolescentes de Brumadinho está com níveis de manganês acima do limite no sangue após o rompimento da barragem. A concentração de outros metais no organismo, como arsênio e chumbo, também é elevada em adultos, crianças e adolescentes que vivem na cidade. As análises apontaram que 50,6% das amostras urinárias apresentaram pelo menos um metal acima do valor de referência.

A pesquisa, realizada com 3.297 participantes de todas as regiões de Brumadinho, avalia as condições de saúde dos moradores do município depois do rompimento da barragem de rejeitos de Córrego do Feijão. Entre os adultos de Brumadinho, 22,5% tiveram diagnóstico para depressão. O número é duas vezes maior do que a média brasileira, calculada em 10,2% entre os maiores de 18 anos, na Pesquisa Nacional de Saúde feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019.

Outras doenças

Quanto à ansiedade ou problemas do sono chegam a afetar mais de um terço dos entrevistados adultos do município. Bronquite asmática e asma são frequentes entre as doenças crônicas relatadas pelos adolescentes ouvidos na pesquisa. O percentual aumenta quando é dividido por regiões. Em localidades diretamente expostas aos rejeitos da barragem, como Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, os problemas são realidade para 17,1% e 23,8% dos entrevistados. 

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Além disso, 49% dos responsáveis por crianças em Brumadinho observaram alterações na saúde delas após o rompimento. As principais estão ligadas a mudanças na pele, alergias respiratórias e outros problemas relacionados, especialmente nos locais mais próximos fisicamente da barragem, como Córrego do Feijão. 

Entre os adolescentes, quando perguntados se já haviam recebido diagnósticos médicos de doenças crônicas, as respostas mais frequentes foram asma ou bronquite asmática, mencionadas por 12,3% dos entrevistados. Esse percentual é maior entre os moradores de algumas regiões, chegando a 23,8% entre os residentes do Parque da Cachoeira e 17,1% entre os que vivem no Córrego do Feijão, regiões diretamente expostas ao rompimento da barragem de rejeitos.

A pneumonia foi citada por 10,9% dos adolescentes, mas, entre aqueles que moram em Pires, região banhada pelo Rio Paraopeba que foi atingido pela lama, esse percentual foi de 16,7%. Na população adulta, as doenças crônicas mais citadas foram hipertensão (30,1%), colesterol alto (23,1%) e problema crônico de coluna (21,1%), com pequenas variações entre as regiões. Em relação às crianças, 49% dos responsáveis observaram alterações na saúde dos seus filhos após o rompimento. Os principais problemas de saúde apontados referem-se ao sistema respiratório e alterações na pele.