Brasil acelera com 200 mortes diárias por covid, quando deveria zerar

Secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes critica fim da emergência sanitária e modo como governo ignora cerca de 200 mortes diárias.

Apesar do alto número de mortes e casos, festas de rua se espalham pelo país sem respeitar protocolos sanitários de uma pandemia. Foto: Prefeitura de Caruaru

Mais uma vez, o governo de Jair Bolsonaro (PL) e o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) sabotaram o controle sanitário da pandemia e dificultaram o trabalho das secretarias de saúde estaduais e municipais. A decretação do fim da emergência sanitária pelo Ministério da Saúde foi o início de uma avalanche de problemas, garantindo mais algumas milhares de mortes desnecessárias no Brasil. A alta taxa de óbitos registrada na última semana pode estar associada a esta medida unilateral.

Em entrevista ao portal Vermelho, o secretário da Saúde do Espírito Santo, sanitarista Nésio Fernandes de Medeiros Junior, revela que o fim da emergência sanitária gerou um primeiro problema, dentre outros, de comunicação com a população.

“Atrapalha a comunicação, porque a população acredita que, com o fim da emergência sanitária, a pandemia acabou. Então, caiu no país a adesão ao uso de máscara, caiu a vacinação, caiu a percepção de risco da população em procurar um teste quando tem um sintoma leve que pode estar relacionado com a covid”, lamentou Nésio.

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Onda ou oscilação

Nésio acredita que estamos vivendo uma nova onda da pandemia, em vez de uma simples oscilação. Para ele, seria oscilação se o país já estivesse registrando dias sem mortes pela doença, no entanto, a média móvel é de quase 200 mortes por dia.

Faz uma semana em que as mortes aumentam

Desde o dia 22 (média de 124 mortes diárias), a espiral de letalidade foi crescente, chegando a média de 194 mortes diárias nos últimos três dias. Considerando que em 17 de abril ao início de junho registravam-se menos de cem mortes diárias, o aumento foi de cerca de 100%, conforme observa o sanitarista.

“Não posso menosprezar o fato de morrerem 193 pessoas por dia, num país que tem vacinas, e por uma doença imunoprevenível. Não se trata de uma oscilação, mas de uma onda com impacto em internações e óbitos”, disse.

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A emergência continua

Outra condição que torna a situação emergencial é a concomitância da covid com todas as outras doenças que afetam o sistema de saúde, e que não vivem no momento uma redução, como havia em outros momentos. Com a redução da atividade econômica e social em outros momentos, foi possível observar a redução de várias emergências como acidentes de trânsito e tiroteios, por exemplo, os chamados traumas e causas externas. Neste momento, há uma retomada de todas as outras condições, inclusive da chamada “covid longa” (as sequelas mais graves que permanecem em pacientes mais graves da doença) e a nova onda da covid-19.

O problema com tudo isso, diz Nésio, é que agora as secretarias estadual e municipais não contam com o mesmo financiamento federal que tinha nos anos anteriores para subsidiar o enfrentamento a pandemia. Este é outro efeito nefasto da decretação do fim da emergência sanitária pelo Ministério da Saúde.

“Isso atrapalhou, do ponto de vista normativo, os estados que tinham um conjunto grande de contratos vinculados ao estado de emergência”, disse. O sanitarista explicou que, por causa disso, os estados tiveram que decretar emergência por características epidemiológicas próprias, vinculando essa condição à emergência internacional.

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Teste e subnotificação

O gestor de saúde também explicou como a subnotificação de testes, e principalmente autotestes, acaba afetando a taxa de letalidade. O autoteste disponível nas redes privadas de farmácias, e realizado em casa, acaba não tendo seu resultado incluído nas estatísticas do governo.

“O poder público precisa garantir é testagem universal de livre demanda para toda a população”. O teste não pode ser considerado uma opinião médica, de acordo com ele. O cidadão deve ter acesso ao teste, independente de ter tido avaliação de qualquer profissional de saúde.

“Com a subnotificação, você acaba tendo uma positividade e uma letalidade influenciada pela falta de notificação de resultados negativos e até mesmo positivos”.

Como resolver isso? No Espírito Santo, os laboratórios privados e as farmácias foram notificados, além de haver fiscalizações da vigilância sanitária. “Nós acompanhamos os municípios e estabelecimentos de saúde silenciosos”, acrescenta. Os municípios e estabelecimentos silenciosos são aqueles que passam sete dias sem notificar nenhum caso, o que geralmente significa que o local está tendo algum tipo de dificuldade no acesso à testagem.

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