Mortes de Bruno e Dom não são fatos isolados como quer mostrar governo

O presidente do Indigenistas Associados (INA), Fernando Vianna, disse que a região em que os dois foram assassinatos foi invadida por pessoas que praticam diversos crimes ambientais em conexão com o narcotráfico internacional

Bruno Pereira e Dom Phillips (Foto: Reprodução)

O presidente do Indigenistas Associados (INA), Fernando Vianna, rebateu a versão propagada pelo governo Bolsonaro segundo a qual os assassinatos do indigenista Bruno Ferreira e do jornalista inglês Dom Phillips se tratam de fatos isolados no Vale do Javari, a oeste do Amazonas. Segundo Viana, a região em questão foi invadida por pessoas que praticam diversos crimes ambientais em conexão com o narcotráfico internacional.

“Bruno e Dom foram assassinados barbaramente na mesma região em que, em 2019, também foi assassinado um colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) por conta de suas atividades. Maxiel era o nome desse colaborador”, lembrou Vianna durante audiência nesta quarta-feira (22) na Comissão dos Direitos Humanos do Senado. De acordo com o servidor licenciado da Funai, antes da morte, as bases do órgão no interior da terra indígena foram objeto de ataques a tiros seguidas vezes.

“Esses grupos que entram, que invadem para praticar, para se apoderar ilicitamente dos recursos naturais da terra indígena Vale do Javari estão, hoje em dia, articulados com criminalidades, com forças do crime muito mais complexas, muito mais amplas, que têm conexões com o narcotráfico internacional. Estamos tratando de uma terra indígena numa região de tríplice fronteira, com Peru e Colômbia, tráfico internacional de armas”, explicou.

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Ele diz que essa situação grave vem sendo denunciada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) há muito tempo. E Bruno foi exonerado do cargo de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai por que “vinha fazendo o que deveria ser feito”.

“Há várias situações que merecem esse combate por parte da Funai, das ilegalidades, por exemplo, de garimpo, que afetam essas terras indígenas. E isso requer uma articulação da Funai com outros órgãos para o combate a essas atividades ilícitas que afetam as terras com presenças de isolados e de indígenas de recente contato”, afirmou.

Disse que Bruno estava atuando como sempre fez quando foi exonerado do cargo. “Talvez tenha sido a pessoa que percebeu mais rapidamente o que estava em curso e que segue em curso hoje na Funai, que é uma gestão absolutamente comprometida com o contrário do que deveria ser a missão institucional do órgão indigenista”, criticou.

Vianna disse ainda que a atual gestão da Funai não tem compromisso com os direitos indígenas, mas com os interesses econômicos e dos setores que querem as terras para se apoderar dos recursos naturais.

Fernando Vianna durante pronunciamento via videoconferência (Foto: Pedro França/Agência Senado)

Greve

O presidente da INA aproveitou para anunciar a greve dos servidores da Funai nesta quinta-feira (23), a partir das 10h, em todas as unidades dos estados e no Distrito Federal. O movimento exige a punição dos culpados pela morte do indigenista e do jornalista, além disso,  a saída imediata do presidente do órgão, Marcelo Augusto Xavier da Silva.

“Nós estamos agora em estado de greve, temos uma paralisação nacional marcada para amanhã, temos aí uma pauta muito básica que envolve a retratação do presidente da Funai diante do Bruno e Dom, diante dos servidores da região, diante da própria Univaja”, defendeu.

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