Bolsonaro e seu estranho pedido de ajuda a Biden

Bolsonaro tinha um claro interesse: buscar uma reaproximação com os Estados Unidos de forma que esse país jogue papel nas eleições presidenciais que ocorrerão em outubro no Brasil

Foto: Alan Santos/PR

A Cúpula das Américas, como previsto, foi um chamado “museu de velhas novidades”. Nenhuma proposta concreta de desenvolvimento econômico na região, nenhum acordo de cooperação na área de saúde diante do processo de empobrecimento da América Latina em meio à pandemia. O que mais se discutiu foram as chamadas “regras”. Ou seja, no fundo os Estados Unidos buscam meios e maneiras de reenquadrar a América Latina à sua órbita de influência, mesmo que isso signifique não oferecer absolutamente nada aos nossos povos e países. A aposta em uma agenda ideológica ultrapassada já era esperada, mas também era esperada uma reação a esta forma primária de lidar com grandes questões.

O presidente argentino Alberto Fernandes foi enfático ao dizer “Definitivamente, queríamos outra Cúpula das Américas. O silêncio dos ausentes nos interpela. Para que isso não se repita, gostaria de deixar registrado para o futuro que o fato de ser um país anfitrião da reunião não lhe concede a capacidade de impor o direito a admitir os países membros do continente”, questionou Fernández, em referência às ausências de Cuba, Venezuela e Nicarágua, países que não foram convidados por não serem “democráticos” e por violarem os “direitos humanos”.

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A ausência do México já foi um grande sinal neste sentido. A América Latina, com idas e vindas, passa por um processo histórico de uma chamada “segunda independência”. Isso significa que apesar dos retrocessos políticos recentes na região a tendência histórica é de se completar o processo de total independência e para a isso a crescente presença chinesa na região tem sido funcional ao nos mostrar que existe vida fora da dominação imperialista, do fascismo e do neoliberalismo.

Porém, o que mais chamou a atenção foi a conversa entre o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O presidente brasileiro ao ir à Cúpula não somente legitimou um encontro sem nenhum traço de legitimidade. Mas Bolsonaro tinha um claro interesse: buscar uma reaproximação com os Estados Unidos de forma que esse país jogue papel nas eleições presidenciais que ocorrerão em outubro no Brasil. Violando a soberania nacional brasileira, Bolsonaro cumpriu um papel impensável a qualquer chefe de Estado do mundo ao não somente pedir ajuda ao presidente Joe Biden para ele vencer as eleições no Brasil, mas também por dizer que o candidato do campo nacional e popular, Lula da Silva, representa uma ameaça aos interesses dos Estados Unidos no Brasil. Como de hábito a imprensa brasileira, afeita ao neoliberalismo e diante da possibilidade real de uma vitória de Lula da Silva, não se pronunciou à respeito.

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Temos de prestar atenção ao que vai ocorrer no Brasil nos próximos meses. Jair Bolsonaro, um presidente com claras tendências de extrema-direita e aliado incondicional dos Estados Unidos é responsável direto por uma grande crise humanitária no Brasil. São 670 mil mortos por Covid-19, cerca de 100 milhões de brasileiros vivem sob a ameaça constante da fome e a inflação está fora de controle e sua política ambiental desastrosa transformou a Amazônia em um território livre para a livre ação de criminosos de todo tipo e mais: a Amazônia brasileira está se transformando rapidamente na “Ucrânia brasileira”: porta de entrada de amplas ações de guerra híbrida por parte do imperialismo utilizando-se desde Organizações Não-Governamentais (ONGs) até missões religiosas para cobrir a necessidade de controle sobre uma região sensível do ponto de vista da geopolítica internacional.

O que se passará no Brasil nos próximos meses terá grande poder de determinação sobre o futuro da América Latina. O Brasil é o segundo maior país em desenvolvimento do mundo, membro dos BRICS e com imenso potencial de jogar um papel contra-hegemônico na região e no mundo. Não seria nenhum exagero dizer que ao lado da tentativa de desestabilização da Rússia e da China, o enfraquecimento do Brasil é um objetivo estratégico dos Estados Unidos na região. Certamente, não é interessante a ninguém do campo progressista um Brasil fraco, empobrecido e de joelhos. O Brasil vive desde o ano de 2016 o seu “século de humilhações”.

Que a história seja generosa com o Brasil e seu povo. Um país fundamental ao futuro da paz mundial.

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