Bolsonaro relativiza caso Genivaldo e diz que imprensa defende bandido

Presidente diz que tudo deverá ser apurado, mas sem exageros e pressão por parte da mídia que está ao lado da bandidagem. Um detalhe: o motoboy não era bandido

Genivaldo e o momento da tortura (Fotos: Reprodução)

Após a Organização das Nações Unidas (ONU) cobrar “investigação célere e completa” e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pedir prisão cautelar dos responsáveis pela morte de Genivaldo de Jesus dos Santos, 38 anos, que foi asfixiado numa câmara de gás improvisada no camburão da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Bolsonaro relativizou o caso. A truculência dos agentes em Umbaúba, no litoral sul de Sergipe, comoveu o país e o mundo na última quarta-feira (25).

Para Bolsonaro, tudo deverá ser apurado, mas sem exageros e pressão por parte da mídia que está ao lado da bandidagem. Um detalhe: Genivaldo não era bandido. Ele exercia a profissão de motoboy e foi parado na sua moto por não usar capacete, aliás um equipamento dispensado pelo presidente em várias motociatas que realizou pelo país.

“Será feito Justiça, né? Todos nós queremos isso daí. Sem exageros. E sem pressão por parte da mídia, que sempre tem um lado: o da bandidagem. Lamentavelmente, vocês sempre tomam as dores do outro lado”, respondeu Bolsonaro ao ser indagado sobre o pedido da OAB.

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O senador Rogério Carvalho (PT), que é do mesmo estado de Genivaldo, repudiou a entrevista dada pelo presidente. “Genivaldo não era marginal. Era um cidadão que foi assassinado de forma cruel numa abordagem violenta de agentes do estado. O caso é tão grave que até a ONU pede respostas. Bandidagem é o atual presidente do Brasil insinuar que não houve crime. Seguiremos na luta por #JusticaParaGenivaldo”, publicou o parlamentar na rede social.

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Punição

Na última sexta-feira (27), o chefe da ONU Direitos Humanos na América do Sul, Jan Jarab, cobrou celeridade nas investigações iniciadas pela Polícia Federal e o Ministério Público para que os responsáveis sejam levados à Justiça. “A morte de Genivaldo, em si chocante, mais uma vez coloca em questão o respeito aos direitos humanos na atuação das polícias no Brasil”, disse Jarab, que também fez referência à chacina da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, na qual 26 pessoas morreram.

“O Conselho Federal e a Seccional de Sergipe da Ordem dos Advogados do Brasil manifestam indignação pelo assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, praticado com fortes indícios de tortura, e atuarão diretamente no caso para cobrar das autoridades as providências cabíveis, inclusive prisão cautelar dos envolvidos”, diz a nota da OAB.

Além de divulgar fotos dos policiais da PRF responsáveis pela morte de Genivaldo, o programa Fantástico, da Rede Globo, encontrou sentenças judiciais com relatos de 18 homens que receberam gás de pimenta em situações semelhantes ao do motoboy. “São casos ocorridos nos últimos 12 anos, em seis estados, envolvendo suspeitos que foram detidos por diferentes acusações”, diz a reportagem.

Afastados das funções, os quatro agentes admitiram o uso do spray e gás lacrimogêneo dentro da viatura. A Polícia Federal e a PRF abriram investigação sobre o caso após o pedido do Ministério Público.

(Foto: Reprodução da TV Globo)

Senado

O presidente da Comissão dos Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa, ingressou com um projeto de lei pelo qual exige que o Estado brasileiro pague pensão vitalícia no valor de um salário mínimo para a viúva Maria Fabiana dos Santos, e outra temporária a Enzo de Jesus Santos, filho de Genivaldo.

O texto prevê ainda o pagamento de R$ 1 milhão a Maria Fabiana, a título de indenização por erro do Estado, sem prejuízo de outros valores que venham a ser recebidos por ações contra a União. 

“As violentas e assustadoras imagens permitem constatar que após a vítima ser jogada na parte traseira da viatura oficial da PRF, um dos agentes lançou dispositivo que produziu gás intenso no local onde se encontrava Genivaldo. As cenas que se seguem são brutais e remetem ao que mais desumano já ocorreu em toda a história da civilização. Genivaldo se debateu em agonia, gritando e tentando impedir com os pés, enquanto teve forças, que os dois agentes da PRF fechassem a porta traseira. Não resistiu e acabou morrendo minutos depois. Morte decorrente de ação estúpida, excessivamente violenta, desprovida de qualquer razoabilidade e comedimento, mínimos atributos exigidos de agentes policiais que atuam cotidianamente em contato com a população desarmada”, justificou o senador.

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