Eleições 2022: PCdoB aposta em pré-candidaturas ligadas à educação

Mais do que expressar a força dos comunistas na categoria docente, o movimento eleitoral de professores e demais trabalhadores da Educação reflete o peso dessa pauta num Brasil em crise permanente sob o governo Jair Bolsonaro

Com a mudança, a Professora Marcivânia pode retornar

O PCdoB deve lançar a candidatura de mais de 20 professores ou sindicalistas ligados à educação nas eleições 2022. A lista inclui presidentes estaduais e dirigentes nacionais da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), como Valéria Morato (MG), Ana Cristina Rodrigues (AM), Jonas de Paula (ES), Helmilton Beserra (PE) e Railton Nascimento (GO).

Os estados com mais pré-candidatos comunistas vinculados à educação (três) são Espírito Santo e Goiás. Em São Paulo, haverá uma candidatura coletiva sob a liderança de Francisca Pereira, a Professora Francisca, que integra as direções executivas da CTB e da Apeoesp (o sindicato dos professores da rede estadual de ensino). Entre as lideranças de sindicatos não filiados à CTB, Anizio Melo vai concorrer a deputado estadual no Ceará. Ele preside a Apeoc (Sindicato dos Professores e Trabalhadores da Educação e Cultura do Estado e Municípios).

Mais do que expressar a força dos comunistas na categoria docente, o movimento eleitoral de professores e demais trabalhadores da Educação reflete o peso dessa pauta num Brasil em crise permanente sob o governo Jair Bolsonaro. De acordo com a última pesquisa Ipespe, divulgada em 12 de maio, 24% dos eleitores afirmam que a educação é o principal tema a ser tratado pelo próximo presidente logo no início do mandato.

Valéria entrega a Lula a “Carta das Centrais Sindicais de Minas Gerais”, no último dia 9

“Nós precisamos de educação pública, gratuita e democrática – uma educação de qualidade acessível a todos. Bolsonaro e seus apoiadores querem escolas privadas, pagas e até homeschooling”, compara Valéria Morato, presidenta do Sinpro Minas (o sindicato dos professores da rede privada de Minas Gerais) e da CTB Minas, além de vice-presidenta nacional da CTB.

É uma referência aos mais recentes ataques do bolsonarismo à educação. Na semana passada, a base governista aprovou na Câmara dos Deputados o projeto de regulamentação do homeschooling (ensino domiciliar). A proposta tramitou a toque de caixa, sem passar por comissões técnicas, numa evidência de manobra. Já na terça-feira (24), a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara chegou a pautar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 206/2019, que prevê a cobrança de mensalidades em universidades públicas. Graças à oposição, porém, o tema não foi debatido.

A educação é um dos eixos da pré-campanha de Valéria, que será candidata a deputada estadual por Minas Gerais. Segundo ela, as batalhas para melhorar o ensino e as condições de trabalho na educação reforçam a importância das “bancadas sindicais” na Câmara dos Deputados e nas assembleias legislativas. “A perda de representação de trabalhadores foi o que possibilitou o golpe de 2016 e a retirada de direitos de trabalhadores e trabalhadoras”, diz Valéria. “É fundamental que haja representantes da classe trabalhadora e do meio sindical no parlamento, para que propostas que atendam às nossas necessidades sejam, de fato, transformadas em lei.”

Ana Cristina e Professora Francisca, dirigentes nacionais da CTB, estão entre as pré-candidaturas sindicais do PCdoB

Essas preocupações – com a educação e com o mundo do trabalho – também norteiam a pré-candidatura a deputada estadual de Ana Cristina Rodrigues, presidenta do Sinteam (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas). Em 2021, a sindicalista foi eleita vice-presidenta da CTB-AM e membro da executiva nacional da CTB. Como pré-candidata, ela levanta, ainda, a bandeira da defesa de seu estado, que tem especificidades como a bem-sucedida – e, no entanto, sempre atacada – Zona Franca de Manaus.

“Nos últimos anos, nós, trabalhadores, tivemos desmonte e retrocesso em nossos direitos trabalhista e em todos os direitos sociais do povo. Embora tenhamos buscado apoio de parlamentares em nossas lutas, percebemos que, mesmo naqueles que se denominam progressistas, a defesa dos trabalhadores e do povo amazonense não está na pauta”, afirma. “Por isso, decidi que é necessário buscar essa renovação na Assembleia Legislativa no Amazonas.”

Em meio à pré-campanha, Ana Cristina incentiva os sindicalistas a disputarem cargos políticos: “A maior dificuldade que encontramos na luta foi a ausência de representantes dos trabalhadores no parlamento. Somente ocupando essas cadeiras é que podemos garantir que nossas lutas se tornem conquistas em forma de leis – e que nossa voz será ecoada de fato”.

Na Câmara Federal, os comunistas são representados, hoje, por duas professoras: Marcivânia Flexa, a Professora Marcivânia (PCdoB-AP), e Perpétua Almeida (PCdoB-AC). Em seu segundo mandato, Marcivânia se destacou na luta pela aprovação do novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

Sua resistência à PEC 206, nesta semana, é uma amostra dos compromissos firmados pelo mandato. “Querem privar a população mais pobre da única coisa que é capaz de transformar sua realidade: a educação”, denunciou a deputada. “Somos contra a cobrança de mensalidade em universidades públicas. Essa é uma luta pela igualdade social e garantia dos direitos e oportunidades de quem mais precisa.”

Em 2020, Marcivânia concorreu à Prefeitura de Santana (AP). Além dela, outros dois candidatos a prefeito do município agregaram o título de “professor” a suas denominações públicas. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a moda foi nacional – mais de 15 mil candidatos usaram “professor” ou “professora” no nome de urna. Ao que tudo indica, a tendência seguirá em alta nas eleições 2022.

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