Economista aponta dilema da intransigência da classe dominante no Brasil

Em Seminário do Centenário do PCdoB, o professor da UFRJ, Eduardo Costa Pinto, observa a dificuldade no Brasil de implementar políticas distributivas diante da perda na taxa de lucro das elites econômicas.

O economista Eduardo Costa Pinto Foto: Cezar Xavier

Neste sábado (14), o PCdoB, por meio da Comissão do Centenário, e a Fundação Maurício Grabois promoveu, a terceira mesa do seminário PCdoB centenário e contemporâneo. Realizado de forma híbrida, na sede do partido em São Paulo e pelas redes sociais, o evento faz uma reflexão sobre a trajetória de um século de lutas da legenda comunista.

Eduardo Costa Pinto, professor de Economia Política e Economia Brasileira do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, apontou as transformações recentes do capitalismo brasileiro, situando o estado como espaço de disputa de interesses entre classes e frações econômicas.

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Sua visão sobre o empresariado e o fluxo de riqueza revela um pessimismo sobre a possibilidade de aumentar a capacidade distributiva da renda na sociedade brasileira. Em sua opinião, qualquer programa socialdemocrata tímido será considerado como bolchevique por essa classe dominante.

Com as reformas trabalhistas e a precarização intensiva do mercado de trabalho, ele afirma que “a indústria que sobrou” tem enorme lucratividade, compondo um segmento que apoia Bolsonaro de forma incondicional. “Os militares e Bolsonaro têm também um vínculo umbilical, que não se separa, porque corporativamente eles ganham como nunca”, constatou.

Ele aponta na história o antirreformismo social consolidado na sociedade, e exemplificado em Canudos ou no Contestado, mas também em 2016, com o impeachment de Dilma. “Quando a taxa de lucro cai, aborta-se qualquer transformação. O golpe parlamentar tem sido eficiente no aumento da taxa de lucro da burguesia em 2021, mais que no lucrativo período de 2010″.

Segundo o professor, 2015 foi o “pior dos mundos”, quando houve um aumento do conflito capital trabalho com os dois perdendo. “O golpe não vem por acaso. Parte da burguesia só adere ao golpe com Temer apresentando a Ponte para o Futuro. É a ditadura da mais-valia absoluta. A megaburguesia lucra mesmo com o PIB crescendo pouco”.

Em 2021, com a aceleração da taxa de juros e da massa de lucros, aumenta também o apoio a Bolsonaro. Acelera-se o movimento de saque e mudança das regras com o governo abrindo novos espaços de acumulação pela privatização. O controle sobre as condições do trabalho também torna esse período o melhor dos mundos para a elite, por isso, não se permite qualquer concessão, porque vai se perder muito.

A partir desse cenário, o economista sinaliza como será difícil revogar a reforma trabalhista ou reduzir os juros. “Os pobres pagam mais imposto, mesmo não tendo renda para pagar imposto de renda. Metade dos brasileiros ganha R$ 800 reais.

Ele também analisou o papel das classes médias e o efeito do custo do trabalho para a pequena burguesia. Os militares, por sua vez, saíram escorraçados em 1985, mas agora têm 6 mil cargos, voltaram a ser ouvidos, com prestígio, interesses corporativos atendidos, portanto não vão descolar de Bolsonaro. O servidor público e profissionais qualificados lutam pela manutenção dos privilégios, enquanto os evangélicos avançam com seu conservadorismo como se estivessem numa guerra santa.

Por outro lado, o professor Eduardo discorda de tantos que minimizam o efeito da inclusão pelo consumo. Para ele, esta estratégia causa movimento nas placas tectônicas. Dá acesso aos mais pobres a um mundo que estes nem sabiam que existia, como a universidade, o consumo e a formalização do trabalho. Os interesses de consumo desse eleitorado cruzam com a questão religiosa na definição do voto.

Ele considera que o próximo período será tenso e difícil, – cinco anos que serão definitivos para os próximo 50. Isso, porque Lula vai tentar implementar medidas distributivas que reduzem a margem de lucro, o que dificulta qualquer aproximação com a burguesia financeira, mesmo com Alckmin na chapa. “O bolsonarismo não vai desaparecer como fenômeno e os militares vão se unificar”, conclui.

Da Fundação Maurício Grabois

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