Associação de economistas repudia projeto de privatização da Petrobras

“O povo brasileiro não permitirá a continuidade da destruição da Petrobras e se insurgirá contra esses vendilhões da pátria”, afirma a Abed em manifesto.

Foto: Fernando Frazão/ABr

A Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed) divulgou, nesta sexta-feira (13), manifesto em defesa da Petrobrás pública, da soberania e do desenvolvimento do Brasil. No texto, a associação condena o projeto de privatização da empresa, mencionado pelo novo ministro das Minas e Energia, o bolsonarista Adolfo Sachsida em seu discurso de posse. De acordo com os economistas, com o governo Bolsonaro, o Brasil está na contramão de todos os outros grandes produtores de petróleo.

“Não há país que tenha grandes reservas de petróleo, capacidade de refino e amplo mercado doméstico de derivados que abandone sua soberania energética e se submeta às flutuações dos mercados”, diz o manifesto, enumerando como exemplos os Estados Unidos, o Oriente Médio, a China, os países europeus e a Venezuela. “Não é assim com o Brasil. Temos no pré-sal a maior reserva de petróleo novo do mundo, um mercado interno de derivados que é um dos maiores do planeta e com uma capacidade de refino que era quase suficiente para atender às demandas nacionais de derivados”, recorda o texto.

A associação denuncia o atual governo, por ter desmontado “a empresa que integrava do poço ao posto, que produzia, refinava, distribuía o petróleo e atuava estruturando o mercado de gás natural, incluindo a garantia de oferta de eletricidade através das suas térmicas a gás”. E informa que se tratava também da principal fornecedora de biocombustíveis e de fertilizantes e atuava estrategicamente na petroquímica.  

Os economistas recordam que o país tinha um projeto de soberania com a criação de uma cadeia de supridores, criando uma política de geração de renda e emprego para os brasileiros, e afirmam que o desmonte teve início em 2016, a partir do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, a partir do qual a Petrobras foi transformada “em uma média empresa que apenas exporta petróleo cru”.

“A nova Petrobras abre mão da soberania energética e se submete às flutuações de curto prazo dos mercados, garantindo alta lucratividade para os investidores, que desejam extrair o máximo de retorno no curto prazo, mesmo que isso custe a morte da empresa no médio e longo prazo, por insuficiência dos investimentos para seu crescimento”, afirmam.

A associação adverte que, o abandono da soberania nacional se agravará ainda mais se os projetos de privatização completa da empresa se concretizarem. “Muitas guerras, conflitos, derrubadas de governo mostram a importância do seu controle ao longo da História. O povo brasileiro não permitirá a continuidade da destruição da Petrobras e se insurgirá contra esses vendilhões da pátria. É por isso que a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia – ABED repudia qualquer proposta de privatização da Petrobrás e gestões temerárias que enfraquecem o seu papel estratégico em prol da soberania e desenvolvimento econômico do Brasil, ao mesmo tempo que inviabilizam o acesso da população à bens essenciais derivados do petróleo a preços módicos”, conclui o documento.

Conheça a íntegra do documento.

Em defesa da Petrobrás pública, da soberania e do desenvolvimento do Brasil

Não há país que tenha grandes reservas de petróleo, capacidade de refino e amplo mercado doméstico de derivados que abandone sua soberania energética e se submeta as flutuações dos mercados.

Acontece assim com os EUA, que tem na garantia energética o principal balizador de sua política diplomática e de mobilização de suas Forças Armadas, utilizando todo o seu poder geopolítico para impedir qualquer ameaça ao fornecimento de petróleo e gás para os americanos. Suas empresas atuam em conjunto com seus soldados e diplomatas.

O mesmo ocorre com os países do Oriente Médio, que utilizam seu enorme potencial de produção para se impor nos mercados mundiais. É assim com a China, grande consumidor do mundo, que amplia suas relações internacionais para garantir acesso ao petróleo e ao gás, além de ampliar sua capacidade de refino dentro do país, diversificando suas fontes de suprimento.

É assim com os países da Europa, que buscam desvencilhar-se da dependência do gás natural russo, orientando ações da OTAN na guerra Rússia-Ucrânia. É assim com a Venezuela, que sofre sanções dos EUA exatamente por ter uma das maiores reservas de petróleo do mundo.

Não é assim com o Brasil. Temos no pré-sal a maior reserva de petróleo novo do mundo, um mercado interno de derivados que é um dos maiores do planeta e com uma capacidade de refino que era quase suficiente para atender as demandas nacionais de derivados. O atual governo desmontou a empresa que integrava do poço ao posto, que produzia, refinava, distribuía o petróleo e atuava estruturando o mercado de gás natural, incluindo a garantia de oferta de eletricidade através das suas térmicas a gás. Também era a principal fornecedora de biocombustíveis e de fertilizantes e atuava estrategicamente na petroquímica.

Um projeto de soberania energética estava por trás do modelo de atuação da Petrobras. Um projeto de soberania nacional envolvia a criação de uma cadeia de supridores, localizados no Brasil, para atender as necessidades dos equipamentos críticos para o desenvolvimento dos projetos do pré-sal, do refino e da integração vertical da empresa. Criava-se assim uma política de geração de emprego e renda para os brasileiros.

Tudo isso vem se desmontando a partir de 2016, depois da derrubada da Presidenta Dilma. As leis, regulações, portarias e políticas foram sendo modificadas em direção a um modelo que transforma a pujança da Petrobras em uma média empresa que apenas exporta petróleo cru, sem papel relevante no gás natural, saindo da produção em terra, diminuindo sua capacidade de refino, abandonando a distribuição de derivados e de gás de cozinha, paralisando os projetos de suas novas refinarias e deixando de atuar nos biocombustíveis, fertilizantes e petroquímica. A nova Petrobras abre mão da soberania energética e se submete às flutuações de curto prazo dos mercados, garantindo alta lucratividade para os investidores, que desejam extrair o máximo de retorno no curto prazo, mesmo que isso custe a morte da empresa no médio e longo prazo, por insuficiência dos investimentos para seu crescimento.

O abandono da soberania nacional se agravará ainda mais se os projetos de privatização completa da empresa se concretizarem. Se as forças vivas do país não se insurgirem contra esse modelo de subordinação a um mercado profundamente dominando por interesses geopolíticos de outras nações e movimentações especulativas dos capitais financeiros. Esse modelo coloca os consumidores brasileiros à mercê dos importadores de derivados, com riscos de abastecimento de produtos indispensáveis para o crescimento do país, principalmente se os preços internacionais continuarem nos patamares que estão, em consequência das movimentações de interesses nacionais de outros países. Subordinaremos a soberania nacional a empresas privadas, que controlarão o fornecimento do país, abrindo mão de ter o principal instrumento para uma política de autonomia de garantia de fornecimento de energia, indispensável para a retomada do crescimento. A Petrobras ficará submissa aos interesses dos acionistas de curto prazo que, além do controle objetivo que hoje têm da empresa, passarão a ter o direito formal de conduzir os destinos do país. Petróleo não é uma mercadoria qualquer e não pode apenas ficar dependendo dos interesses privados. Todas as grandes potências do mundo já nos ensinaram isso.

Muitas guerras, conflitos, derrubadas de governo mostram a importância do seu controle ao longo da História. O povo brasileiro não permitirá a continuidade da destruição da Petrobras e se insurgirá contra esses vendilhões da pátria.

É por isso que a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia – ABED repudia qualquer proposta de privatização da Petrobrás e gestões temerárias que enfraquecem o seu papel estratégico em prol da soberania e desenvolvimento econômico do Brasil, ao mesmo tempo que inviabilizam o acesso da população à bens essenciais derivados do petróleo a preços módicos.”