MPRJ investiga policiais corruptos e envolvidos em morte de Marielle

Justiça do Rio pede inclusão do bicheiro Rogério Andrade na lista da Interpol. Ele está foragido desde o último dia 7. Delegada foi presa com milhões em espécie.

Alvos Operação Calígula (Rogério de Andrade, Adriana Belém, Ronnie Lessa e Marcos Cipriano) — Foto: Reprodução

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou hoje (10) a Operação Calígula, contra ações da organização criminosa que tem à frente um bicheiro e seu filho e é integrada por dezenas de outros criminosos, incluindo o policial militar reformado Ronnie Lessa, denunciado como executor do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 março de 2018.

A pedido do MPRJ, a Justiça do Rio decidiu pedir a inclusão do nome do contraventor Rogério de Andrade na lista vermelha da Interpol. A medida foi assinada nesta terça-feira (10) pelo juiz Bruno Monteiro Ruliere, da 1ª Vara Especializada. Ele também pode estar envolvido na morte da vereadora do PSol.

No pedido de inclusão de Andrade na lista vermelha da Interpol consta como último destino conhecido a cidade de San José, capital da Costa Rica. Ele não regressou ao Brasil na data prevista, que seria o último dia 7.

Rogério e outros investigados, incluindo os delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém, além do Policial Militar reformado Ronnie Lessa, foram denunciados à Justiça pelo MP, dentro da Operação Calígula, deflagrada contra organização criminosa liderada por Rogério e integrada por dezenas de outros criminosos.

No total, foram denunciadas 30 pessoas pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A operação teve como objetivo o cumprimento de 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, incluindo quatro bingos comandados pelo grupo. No apartamento da delegada Adriana, foi encontrado R$ 1,765 milhão em espécie.

As denúncias apresentadas pelo MPRJ indicam que o contraventor e o filho dele comandam uma estrutura criminosa organizada, ligada à exploração de jogos de azar que se estende a diversos estados além do Rio de Janeiro, locais onde há décadas exerce o domínio.

Marielle Franco

Em coletiva de imprensa para fazer um balanço da operação, os membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) relataram um possível envolvimento de Rogério na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrida em março de 2018.

Uma das linhas investigadas é a relação próxima que havia, na época, entre Andrade e Ronnie, que estavam abrindo um bingo clandestino na Barra no mesmo ano. A quebra de sigilos telefônico e telemático de ambos mostrou que eles mantinham um diálogo frequente. Ronnie é acusado pela morte da vereadora, juntamente com o ex-PM Élcio Queiroz, ambos presos em presídio federal, aguardando julgamento.

Os promotores do MP, no entanto, não quiseram confirmar se Rogério está sendo ou não investigado pela morte de Marielle, pois os trabalhos seguem em sigilo.

De acordo com os promotores de Justiça, a ação do grupo se baseia em dois pilares. “A habitual e permanente corrupção de agentes públicos e o emprego de violência contra concorrentes e desafetos, sendo esta organização criminosa suspeita da prática de inúmeros homicídios”, apontou.

MPRJ

Delegada bem informada

A delegada Adriana Belém, um dos alvos da Operação Calígula, foi presa em seu apartamento e levada para a sede da Secretaria de Estado de Polícia Civil. O valor em espécie é um indício do comprometimento dela no esquema de corrupção policial.

Um fato que surpreendeu os promotores foi a localização, na residência do delegado Cipriano, da ordem de prisão emitida pelo juiz do caso, o que, segundo eles, configuraria provável vazamento de informações, o que será objeto de investigação.

No entendimento dos promotores de Justiça, a organização tem acertos de corrupção estáveis com agentes públicos integrantes de diversas esferas do Estado, principalmente ligados à Segurança Pública. Entre eles, agentes da Polícia Civil e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

“Nesta esfera, integrantes da organização, membros da PCERJ [Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro], mantinham contatos permanentes com outros policiais corruptos, pactuando o pagamento de propinas em contrapartida ao favorecimento dos interesses do grupo”, indicou.

Já na Polícia Militar, oficiais da corporação “serviam de elo entre a organização e Batalhões de Polícia, que recebiam valores mensais para permitir o livre funcionamento das casas de apostas do grupo”.

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