Montadora Caoa Chery fecha fábrica em SP; demissões podem chegar a 485

Objetivo da montadora é “o aumento dos lucros com diminuição exponencial na utilização da força de trabalho”, diz Marcelo Toledo, da Fitmetal

A Caoa Chery anunciou nesta quinta-feira (5) o fechamento de sua fábrica em Jacareí (SP). Segundo a montadora, a planta só será reaberta em 2025, depois de ser reestruturada para poder produzir veículos híbridos e elétricos. Hoje, são fabricados no local os modelos Arrizo 6 e os SUVs Tiggo 2 e 3X.

“Na essência, essas mudanças – dos motores a combustão para motores elétricos – têm por objetivo o aumento dos lucros com diminuição exponencial na utilização da força de trabalho no processo produtivo”, diz Marcelo Toledo, secretário do Setor Automotivo e de Autopeças da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil). A Caoa Chery emprega em Jacareí 700 trabalhadores, dos quais 450 estão em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) desde fevereiro.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) – que representa essa base – disse que a “decisão arbitrária” da montadora pegou a todos “de surpresa”. A entidade foi avisada que 485 trabalhadores serão demitidos. Em resposta, o sindicato convocou “todos os operários da montadora a, desde já, iniciar uma mobilização em defesa dos empregos”. Na manhã desta sexta (6), houve assembleia na subsede do sindicato em Jacareí.

“A informação foi levada pela montadora ao sindicato na quinta-feira, na parte da manhã, em reunião na sede da empresa em São Paulo”, informa o site especializado Automotive Business. “Na oportunidade, segundo Weller Gonçalves, presidente do sindicato, a Caoa Chery alegou outros motivos para a suspensão da produção além da reestruturação. Dentre eles, falta de êxito comercial do modelo Tiggo 3X, decisão de importar o sedã Arrizo 6 e também aumento do custo logístico no país.”

“No olho da rua”

Na visão do sindicato, porém, as justificativas não se sustentam. “Se aumentaram os custos logísticos – que também envolvem importação –, como a montadora afirma que compensa mais importar o Arrizo 6 neste momento?”, pergunta Weller. De acordo com o sindicalista, a Caoa Chery não deu nenhuma garantia de que voltará a produzir na fábrica em 2025.

“A Caoa Chery mente ao dizer que não fechará a fábrica de Jacareí e que esse processo se configura em uma readequação da montadora para a produção de carros elétricos. Mas serão três anos sem produzir em Jacareí, ou seja, três anos com a fábrica fechada e com pais e mães de família no olho da rua”, agrega o presidente do Sindicato.

O fechamento da unidade foi relativamente precoce. A chinesa Chery inaugurou sua fábrica em Jacareí em 2014. Três anos depois, o Grupo Caoa adquiriu metade da operação da montadora. Houve mais de dez lançamentos de veículos no período, mas a planta jamais chegou a fabricar nem 10% da meta de 150 mil unidades por ano.

Sindicato e montadora voltam a se reunir na próxima terça-feira (10). A expectativa do sindicato é garantir licença remunerada a todos os trabalhadores em maio, além de três meses de estabilidade. Conforme o sindicato, serão demitidos “todos os 370 metalúrgicos da produção de Jacareí”, além de “mais da metade dos funcionários do administrativo, setor que hoje conta com 230 trabalhadores”.

Desindustrialização

O anúncio de mais um fechamento confirma a prolongada desindustrialização da economia brasileira, que atingiu seu auge em 2021. “Como ocorre com outras multinacionais, a Caoa Chery se instalou no Brasil recebendo isenções de impostos. Após explorar a mão de obra local, com baixos salários e pouquíssimos direitos, quer fechar as portas e deixar os trabalhadores à mercê da crise econômica que assola o país”, denuncia o sindicato.

Sob o governo Jair Bolsonaro, a fuga de multinacionais do setor automotivo se agravou ainda mais. No começo de 2021, a Ford comunicou sua saída definitiva do Brasil, desativando a fábrica de motores em Taubaté (SP) e as plantas de Camaçari (BA) e Horizonte (CE). Dois anos antes, a empresa já havia fechado a unidade de São Bernardo do Campo (SP).

A cidade do ABC Paulista – uma das principais bases operária do mundo – deve perder também a Toyota, que anunciou para 2023 o fechamento de sua fábrica na região. Em outras montadoras, houve sensível redução da estrutura produtiva. Foi o caso da Audi em São José dos Pinhais (SP), da Honda em Sumaré (SP), da Jaguar Land Rover Itatiaia (RJ) e da Mercedes-Benz de Juiz de Fora (MG).

Segundo Marcelo Toledo, da Fitmetal, o encolhimento do setor “mostra com clareza a ausência de uma política industrial pelo atual governo”. Um de seus desdobramentos é a alta do desemprego. “A cadeia mantida pelas indústrias automotivas sempre alimentou amplos setores – produtivos e não produtivos –, gerando milhões de empregos diretos e indiretos”, afirma.

“A falta de política para o fomento industrial de forma geral – e do setor automotivo em particular – põe em risco o próprio futuro de uma nação. Uma indústria forte significa geração de empregos qualificados, com salários mais altos, melhores condições de vida da população, maior circulação de mercadorias e mais prestações de serviços diversos”, conclui Toledo.

Autor