Economia em crise limita crescimento de Bolsonaro em pesquisa

Na opinião de Antonio Lavareda, se a economia “baliza a eleição” presidencial, “tudo mais parece ruído”

O colapso da economia brasileira, mergulhada em estagnação, inflação, juros altos e desemprego, é uma barreira para o crescimento das intenções de voto em Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais de 2022. Pesquisa Ipespe divulgada nesta sexta-feira (6) mostra que o atual presidente da República tem dificuldade para se aproximar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na preferência do eleitorado.

Conforme o levantamento, Lula tem 44% na sondagem estimulada para o primeiro turno, contra 31% de Bolsonaro. No segundo turno, a vantagem do ex-presidente é ainda maior: 54% a 34%. Em relação à pesquisa anterior, de 15 dias antes, houve poucas oscilações – todas na margem de erro, que é, no entanto, elevada: 3,2 pontos percentuais.

Da mesma maneira, a desaprovação ao governo Bolsonaro segue em alta. Para 52% dos brasileiros, a gestão federal é “ruim” ou “péssima”, enquanto 31% a avaliam como “ótima” ou “boa”. A diferença entre as taxas de rejeição e apoio ao governo vinha diminuindo nos últimos levantamentos, indicando uma ligeira recuperação do bolsonarismo. Mas a impopularidade segue acima do patamar de 50% desde julho de 2021, mesmo com a pandemia de Covid-19 em fase mais amena.

Ora, se o número de casos e mortes em decorrência do novo coronavírus está em queda – e se Bolsonaro recorreu a tantas medidas eleitoreiras nos últimos meses –, por que sua rejeição permanece tão elevada?

Para o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, a crise econômica impede o presidente de recuperar terreno e se tornar mais competitivo eleitoralmente. Diversos apontamentos da nova pesquisa Ipespe evidenciam esse cenário adverso a Bolsonaro:

  • Para 63% dos brasileiros, a economia brasileira está “no caminho errado”
  • 95% dizem que a inflação e o preço dos produtos aumentaram nos últimos meses – e, segundo 73%, aumentaram muito
  • 42% afirmam que a inflação vai aumentar nos próximos meses e 20% creem que vai aumentar muito
  • Quando questionados sobre qual tema é o mais importante a ser tratado pelo próximo presidente, 23% citam inflação e custo de vida, 17% falam em desemprego e 6% mencionam a fome/miséria

Esse pessimismo em relação à economia é a principal razão pela qual 60% dos eleitores declaram que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro. “Disparou a preocupação com a inflação e o custo de vida: de 15% em novembro, alcançou agora 23%. No conjunto, o peso da agenda econômica subiu de 38% para 47%”, destaca Lavareda. Além disso, o temor com o desemprego cresce. A crise altera a “expectativa da sociedade” com o próximo presidente “logo no início do governo”.

Na opinião de Lavareda, se a economia “baliza a eleição” presidencial, “tudo mais parece ruído”. Eis a pauta que “está sendo efetivamente objeto da atenção do público nessa fase de pré-campanha, com potencial para produzir eventuais mudanças substantivas nas suas escolhas”.

O cientista político evoca a célebre máxima “é a economia, estúpido”, de autoria de James Carville, marqueteiro de Bill Clinton nas eleições norte-americanas de 1992. Na busca de Bolsonaro pela reeleição, a economia “é atualmente o principal obstáculo para uma recuperação mais significativa”, diz Lavareda. “Numa eleição ‘normal’, substancialmente diferente em suas circunstâncias de uma eleição ‘crítica’ (a exemplo da nossa de 2018), a economia em todos os países costuma ser a principal baliza do processo.”

A pesquisa Ipespe ouviu, por telefone, mil eleitores de todas as regiões do País. As entrevistas foram feitas nesta semana, de 2 a 4 de maio.

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