Por uma nova agenda de política para tratar emprego e inflação

“Nesse primeiro de maio – dia do trabalhador – estamos diante de um duplo desafio aos trabalhadores: um desemprego elevado que compromete a possibilidade de aumento na renda nominal e uma inflação elevada, que freia, ainda mais, a renda real”, escreve a economista-chefe do IREE, Juliane Furno.

Foto: Reprodução das Mídias Sociais

O cenário atual de elevação da inflação com persistência de níveis altos de desemprego e queda da massa total de salários e da renda real desafia as soluções “tradicionais” no campo da política monetária.

Até mesmo os índices elevados de inflação para a economia norte-americana atestam que a tradicional “curva de Phillips” não responde ao momento presente em que, a despeito da situação próxima de pleno emprego, localiza o fenômeno inflacionário em uma pressão de custos, sobretudo pela ainda persistente desorganização nas cadeias de suprimento global e no comércio internacional, incluso os sistemas de transporte que impactam a celeridade da normalidade da oferta.

Para o Brasil, que ocupa um lugar desprivilegiado na hierarquia internacional de moedas, ainda é necessário adicionar os desequilíbrios externos causados pela volatilidade dos fluxos de capitais e a vulnerabilidade da economia brasileira à apreciação/depreciação cambial e seu impacto inflacionário.

Além disso, a inflação, embora seja caracterizada como um fenômeno único – aumento contínuo e generalizado no nível de preços – tem uma multiplicidade de causas e logra impactos distintos nos diferentes grupos sociais. Portanto, esse fenômeno também é parte do conflito distributivo da sociedade, em que grupos sociais disputam a apropriação pela renda real. Os índices oficiais auferem o movimento dos preços das mercadorias e serviços, mas não conseguem identificar o impacto nas distintas formas de renda. Há situações em que a inflação se localiza em salários e, portanto, distribui renda, contanto que os custos salariais não sejam repassados aos preços das mercadorias consumidos. Há outras situações, em que a tendência ao monopólio precifica para cima as mercadorias a despeito do seu custo, transferindo renda às avessas.

Esses parágrafos iniciais foram tão somente para exprimir um pouco da complexidade do tema que, infelizmente – pós Plano Real – tem sido tratado de forma “pobre” não somente quanto ao diagnóstico quanto, principalmente, no campo das soluções de política monetária. O Plano Real, a despeito do seu sucesso em controlar a inflação, estrutura-se com base numa âncora cambial, e essa âncora, além de demandar juros elevados para atrair capital externo de curto prazo, em grande medida compromete o desempenho da indústria brasileira, que necessita – pelo menos em parte – de juros e câmbio justamente depreciados.

O expediente de controle da inflação, praticamente mediante um único instrumento – a taxa de juros – tão somente têm se mostrado inócuo para combater uma inflação, como a atual, que em nada tem relação com a demanda agregada, quanto tem aprofundado o problema do emprego e da estrutura produtiva, na medida em que juros mais elevados comprometem o crescimento que, por sua vez, é o que estimula o investimento e que determina o nível de emprego.

Portanto, nesse primeiro de maio – dia do trabalhador – estamos diante de um duplo desafio aos trabalhadores: um desemprego elevado que compromete a possibilidade de aumento na renda nominal e uma inflação elevada, que freia, ainda mais, a renda real.

Dessa forma, urge refletir que, além de “metas de inflação”, o Banco Central deveria atuar com “metas de emprego”, como fazem diversos Bancos Centrais ao redor do mundo. Dessa forma, é necessário haver sinergia e coordenação entre a forma de debelar o impulso inflacionário atual, sem que ele custe mais recessão e comprometa, ainda mais, a retomada do emprego.

Fonte: Portal do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE)