“Derrota da extrema-direita na França é um alívio”

O especialista em Relações Internacionais, Alexandre Figueiredo avalia que Macron precisa cumprir sua promessa de incorporar demandas sociais para barrar de vez Marine Le Pen e sua farsa populista.

Ontem à noite, no Champ de Mars, em Paris, Emmanuel Macron comemorou com seus ativistas sua vitória sobre Marine Le Pen.

Os setores progressistas e da esquerda mundial estão com um sentimento contraditório em relação às eleições na França, encerradas no segundo turno, neste domingo (24), com a reeleição de Emmanuel Macron. Segundo o especialista em relações internacionais e integração da América Latina, Alexandre Ganan de Brites Figueiredo, a sensação é de alívio, não com a vitória de Macron, mas com a derrota de Marine Le Pen.

Alexandre Ganan de Brites Figueiredo é
Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PROLAM-USP)

“A vitória do Macron é um alívio, até! Entendo que uma vitória da Le Pen seria uma vitória da extrema-direita”, confessou Alexandre em entrevista ao portal Vermelho. O sentimento agridoce diz respeito à política de redução de danos. Pois para ele, Macron não é exatamente o candidato que se alinha mais com o que os setores progressistas e populares entendem por valores humanistas. No entanto, a gravidade de uma eventual vitória de Le Pen não só para a França, fez todos prenderem a respiração nas últimas semanas.  

“Ainda assim, a vitória dele é celebrada por ser o que barrou uma ascensão ainda maior das forças de extrema-direita, que é preocupante e teve um votação bastante significativa”, lamenta.

O analista salientou que, na França, o candidato mais alinhado com os setores de esquerda seria Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa), que obteve quase 22% dos votos, mesmo com a fragmentação da esquerda. “Mélenchon teve uma votação bastante expressiva, dado que as pesquisas diminuíam bastante a quantidade de votos dele. Por pouco não foi ele o candidato ao segundo turno, talvez até com mais chances de vitória e deslocar o campo de centro-direita que Macron representa”, avaliou. 

Resultado do primeiro turno revela o candidato de esquerda Mélenchon com chances de ir ao segundo turno, não fosse a fragmentação das forças de esquerda.

Otimismo

“De todo modo é um alívio, não a vitória do Macron, mas a derrota da extrema-direita num país importante como a França”, diz Alexandre. Esta eleição foi considerada definitiva por muitos motivos. Só o avanço da Frente Nacional, agora Encontro Nacional, o partido extremista de Le Pen, já foi considerado preocupante em todo o mundo pelo fôlego político que deu a estes setores desagregadores e polarizantes, bem conhecidos pelo papel que Bolsonaro tem no Brasil. Le Pen causaria fissuras importantes em toda a Europa, a partir de um discurso populista, nacionalista e segregacionista.

Para Alexandre, a derrota dela mantém um certo tom de civilidade buscado pelos setores progressistas para a disputa política. “Essa derrota também se alinha com o que a gente está tentando produzir aqui no Brasil, tanto com a federação e com a política de frente ampla, para barrar a ascensão da extrema-direita e para deslocar e tirá-la do poder”. Na França, como no Brasil, houve um esforço de unir setores divergentes das esquerdas para derrotar a extrema-direita e retomar um ambiente democrático propício aos avanços populares. 

“Eu vejo com otimismo a vitória do Macron, embora não seja o candidato que levava adiante um programa mais alinhado com o que a gente espera, de uma transformação de fato mais humanista, mais à esquerda”, salienta ele.

Mencionando o discurso da vitória de Macron, o analista espera que o novo presidente, no governo, “faça mesmo o que anunciou que fará”, que é incorporar algumas demandas sociais. Para Alexandre, essas demandas serão importantes para barrar a ascensão da extrema-direita. “E para mostrar a farsa que ela significa para as pessoas mais pobres, que acabam embarcando nesse projeto, por ter as portas dos governos liberais fechadas para suas aspirações”. 

Ouça o comentário de Alexandre Figueiredo:

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