Caso STM: Elite construiu o Brasil através da tortura, diz historiador

“Nada mais cotidiano, nada mais costumeiro no Brasil do que a tortura”, afirma Francisco Carlos Teixeira da Silva

A tortura no Brasil é o eco de um país que “foi construído sobre a escravidão”. A opinião é do historiador e professor Francisco Carlos Teixeira da Silva, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Segundo ele, a impunidade transformou a tortura em um fato “crônico” no Brasil.

“A escravidão é um ato de violência baseado na tortura. A elite brasileira construiu o Brasil através da tortura”, declarou Francisco em entrevista à RFI. “Nada mais cotidiano, nada mais costumeiro no Brasil do que a tortura.”

O tema voltou em evidência depois da revelação, nesta semana, de áudios de sessões do Superior Tribunal Militar (STM) na qual integrantes da Corte relatam casos de tortura, confirmando uma prática reiteradamente negada pelas Forças Armadas. Essas sessões foram gravadas de 1975 a 1985, totalizando 10 mil horas de áudios.

De acordo com o historiador, a tortura já era um expediente comum no Estado Novo, sob a presidência de Getúlio Vargas: “O fato novo na história do Brasil foi quando a tortura atingiu os filhos da classe média, fundamentalmente na primeira grande ditadura do século 20. A polícia especial durante o Estado Novo torturou de forma brutal”, afirma. “Quando o Estado Novo foi derrubado em 1945, não aconteceu nada com os torturadores. Ao contrário, esses homens foram transferidos para polícia civil e continuaram com a prática de tortura, criando esquadrões da morte que continuaram atuando, matando, torturando na polícia comum.”

A situação se agravou, porém, no regime militar (1964-1985).  “Com o golpe militar, voltou-se a torturar não mais os ‘malandros comuns’ – mas os oponentes políticos”, compara Francisco. “A tortura brutal praticada durante a ditadura militar não pode ser de maneira alguma banalizada. Temos que denunciar essa tortura e, mais do que isso, começar a punir.”

O historiador Carlos Fico, também da UFRJ, já ouviu e analisou metade das 10 mil horas de sessões gravadas. O objetivo dos pesquisadores é abrir todo esse material ao público, de modo a estimular mais pesquisas sobre o tema.

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