Doria recua, confirma candidatura a presidente e critica Bolsonaro

Anteriormente, tucano havia comunicado a aliados a desistência do projeto presidencial

Em evento no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), renunciou ao cargo nesta quinta-feira (31) para concorrer à Presidência da República. A decisão de manter sua pré-candidatura foi tomada ao longo do dia, num recuo de Doria, que anteriormente havia comunicado a aliados a desistência do projeto presidencial.

Nos bastidores, aliados afirmam que o vaivém de Doria foi uma manobra urdida por ele próprio com o objetivo de “enquadrar” o PSDB, às voltas com o pior racha de sua história. Eduardo Leite, que em 2021 perdeu as prévias presidenciais do partido e nesta semana renunciou ao governo do Rio Grande do Sul, era uma sombra. Expoentes tucanos, como o senador Tasso Jereissati (CE) e o deputado federal Aécio Neves (MG), tramavam um golpe interno para forçar Doria a ceder lugar a Leite na corrida presidencial.

Antes do evento, sob pressão, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, divulgou nota para confirmar que Doria, “escolhido democraticamente em prévias nacionais realizadas em novembro de 2021”, era em definitivo o candidato tucano ao Planalto. “As prévias serão respeitadas pelo partido. O governador tem a legenda para disputar a Presidência. E não há, nem haverá qualquer contestação à legitimidade da sua candidatura pelo partido”, escreveu Araújo.

Com a nota, Doria admitiu ter conseguido seus objetivos. “Não houve desistência. Houve, sim, um planejamento para que pudéssemos ter aquilo que conseguimos – o apoio explícito do PSDB através do seu presidente Bruno Araújo”, afirmou Doria. “Hoje ficou claro através dessa carta que não há golpe, não há nenhuma forma de você negar a existência de prévias e do resultado das prévias. Isso seria admitir que o PSDB se tornou um partido golpista.”

Com a manutenção do projeto Doria, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), torna-se o titular do cargo e vai disputar a reeleição em outubro. A possibilidade de mudança nos planos tinha abalado a relação entre os dois.

“Pessoas próximas a Rodrigo, que deixou o DEM e se filiou ao PSDB para disputar o governo, trataram o recuo como uma traição de Doria”, indicou a Folha de S.Paulo. “A amigos ele disse que não aceitaria concorrer com Doria à frente do Palácio dos Bandeirantes. Em almoço nesta quinta, as arestas foram aparadas da forma possível, mas um interlocutor de ambos falou em ‘climão’ persistente.”

O pioneirismo na imunização contra a Covid-19, com a vacina Coronavac, será uma das bandeiras de Doria, que, ao tratar do tema, criticou o governo Jair Bolsonaro. “Aqui, em vez de agredir parceiros e gerar conflitos na diplomacia, respeitamos os parceiros econômicos do Brasil e de São Paulo”, afirmou.

Apesar do recuo, a pré-candidatura de Doria segue em situação crítica. No dia 23, o PSDB já havia perdido Geraldo Alckmin, que foi governador de São Paulo por 14 anos e se filiou ao PSB. Com a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na corrida presidencial, é provável que o PSDB se desidrate ainda mais e perca relevância. A possível perda do governo paulista, nas mãos do partido desde 1995, sacramentaria o encolhimento peessedebista.

Doria, mesmo com a projeção do governo paulista, não conseguiu sair de 2% das intenções de voto. Da mesma maneira, a rejeição a seu nome permaneceu elevada. Conforme pesquisa CNT/MDA divulgada em fevereiro, 66,5% dos eleitores brasileiros não votariam de jeito nenhum em Doria – um índice superior até ao do presidente Jair Bolsonaro.

Também nesta quinta-feira, o ex-juiz Sergio Moro trocou o Podemos pelo União Brasil e decidiu renunciar à sua pré-candidatura presidencial. Moro deve concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados, numa demonstração de que, fora da polarização entre o ex-presidente Lula e o atual, Bolsonaro, a terceira via continua a patinar.

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