Senadores temem efeitos no país do conflito entre a Rússia e Ucrânia

A começar pela alta do petróleo, a primeira commodity afetada, uma vez que a Rússia é o segundo maior exportador e o terceiro maior produtor mundial

Tropas russas próximas à fronteira com a Ucrânia I Foto: Reuters

A inflação vai aumentar, assim como o preço dos combustíveis e de alguns alimentos. Isso é parte do custo que o Brasil e outros países terão que arcar pela guerra em solo ucraniano. O crescimento econômico será, também, afetado. E olha que, antes de iniciado o conflito armado, a previsão para o Brasil era de uma variação do Produto Interno Bruto (PIB) próxima de 0% em 2021. Essas previsões pegam o Brasil de calça-curta, com dados oficiais que apontam menos dinheiro no bolso, aumento da informalidade e desemprego nas alturas. De acordo com números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil teve queda de 10,7% na renda média do trabalhador de 2020 para 2021, mesmo período em que inflação somou 10,06%. Se a renda média das famílias encontra-se no menor nível histórico, como fazer para enfrentar os tempos mais duros que a guerra promete?

A começar pela alta do petróleo, a primeira commodity afetada, uma vez que a Rússia é o segundo maior exportador e o terceiro maior produtor mundial. Com oferta menor e demanda maior em razão da retomada econômica – efeito da redução da crise pandêmica –, os mercados sentiram a alta nos últimos dois dias. O petróleo do tipo Brent, extraído do Mar do Norte e que referencia os mercados europeu e asiático, subiu em dois dias 5,37%, chegando a US$ 102,25 nesta sexta-feira (25). Já o que é extraído nos Estados Unidos, o WTI, aumentou para US$ 95,46 o barril, alta de 3,65%. Ambos alcançaram as cotações mais altas desde 2014. Enquanto acionistas comemoram a valorização dos papéis da Petrobras, os preços na bomba, que é o que importa para a economia nacional, devem sofrer forte impacto.

O Senado pode ao menos aliviar essa conta. A política de preços de combustíveis está na pauta, por meio do projeto (PL 1.472/2021), do senador Rogério Carvalho (PT-SE), que prevê um mecanismo de amortecimento da volatilidade dos custos de combustíveis e, sem ingerência no setor, assegura ao governo um instrumento para dar maior previsibilidade aos preços. Em rede social, Rogério Carvalho apelou para que a Casa vote logo a proposta: “Com a guerra na Ucrânia, o barril do petróleo passou dos US$ 100. Se mantida a política de preços da Petrobras, o impacto na economia brasileira será devastador. O povo não pode pagar esta conta sozinho!”

A matéria é relatada pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN), que ainda responde pelo relatório de outro projeto (PLP 11/2020), também na pauta, que propõe um mecanismo de redução de volatilidade do ICMS incidente sobre os combustíveis. Conforme o senador, “ao entrarem em vigor, as duas medidas vão assegurar uma redução de até R$ 3 no litro da gasolina e de R$ 20 no valor do botijão de gás de cozinha. Em meu relatório proponho ainda que o programa do auxílio gás seja ampliado e alcance pelo menos 11 milhões de brasileiros, o dobro do número atual de beneficiados”.

Outro tipo de gás, o natural, está na pauta da guerra, e tem a Rússia como a maior fornecedora da Europa, com um terço do que é consumido por esses países. O preço do gás já aumentou 40% no mercado europeu nos últimos dias, e uma das consequências é o encarecimento da produção industrial. O Brasil não importa gás da Rússia, mas compra desse país fertilizantes fabricados a partir de nitrogenados, por exemplo, obtidos do gás natural. O resultado? Alimentos mais caros.

É o caso do pão, já que o Brasil não produz o suficiente e importa o insumo. Nem é da Rússia, é verdade, mas os dois países em guerra vendem quase 30% de todo o trigo consumido no planeta, e o mercado internacional, que estipula o preço desses grãos, vem inflacionando sua cotação nos últimos dias. Outros produtos que devem sofrer alta de preços mais rapidamente são o milho e o óleo de girassol, igualmente grandes divisas de Ucrânia e Rússia.

O efeito dominó na economia do mundo é evidente, e aponta para o agravamento da fome, algo lembrado como um alerta pelo senador Paulo Paim (PT-RS). “A pandemia da Covid-19 já matou quase 6 milhões de pessoas em todo o planeta. A cada minuto, conforme a Oxfam, 11 pessoas morrem por fome no mundo. A cada 21 segundos uma criança morre por falta de água potável, dado da Water is Life. Com todo esse cenário de horror e de agressão aos direitos humanos, ainda há aqueles que acreditam em guerras, conflitos armados, ódio, violência. Isso é irracional, inconsequente, desumano. Poderemos ter uma das maiores crises humanitárias de todos os tempos”.

Brasileiros na Ucrânia

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) também manifestou preocupação com as consequências da guerra: “O custo humanitário deste conflito já é inaceitável. E sua continuação poderá levar a uma verdadeira catástrofe humanitária.” Contarato enviou requerimento à Presidência do Senado em que manifesta solidariedade ao povo ucraniano e pede providências do Itamaraty quanto à segurança dos mais de 500 brasileiros que vivem no país conflagrado. “Esperamos do governo brasileiro todos os esforços para que se garanta a segurança dessas pessoas”.

Fonte: PT no Senado

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