Medidas econômicas da China devem causar impactos na economia brasileira em 2022

Paulo Feldmann concorda com o relatório da ONU e lembra que a China é responsável por 25% a 35% das exportações feitas pelo Brasil

Segundo a ONU, o cenário do comércio mundial para 2022 continua sendo bastante incerto Foto: Marcos Santos/USP Imagens – Foto: Pixabay

Apesar da pandemia de covid-19, o comércio global teve um crescimento de aproximadamente US$ 28 trilhões no ano de 2021, segundo relatório da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Comércio e Desenvolvimento, divulgado em novembro último. O valor é 23% maior do que o registrado em 2020, e 11% acima dos números de 2019 antes da pandemia de covid-19. Mesmo com esse resultado positivo do último ano, segundo a ONU, o cenário para 2022 continua sendo bastante incerto.

Paulo Feldmann – Foto: FEA-USP

Para o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, esse aumento significa uma retomada do ritmo da economia mundial, com um crescimento importante em países como China, Estados Unidos e também na Europa. “Houve aumento nas exportações e importações e melhoria no comércio mundial, e esse crescimento de 11% em relação ao ano de 2019 se deve ao comércio mundial ter um ano relativamente fraco no ano anterior à pandemia.”

O Brasil também foi bem no comércio mundial no ano de 2021, com crescimento tanto nas importações quanto nas exportações. “Um crescimento muito importante, acima de 33%, o que é muito bom.” Feldmann diz que há de se considerar que esse crescimento está relacionado principalmente às exportações. “O Brasil continua sendo um grande exportador de commodities, como produtos agrícolas, soja, milho, carne e produtos minerais, minério de ferro e petróleo, por exemplo”, destaca o professor.

Mesmo o Brasil sendo uma das maiores economias do mundo, tem menos de 1% na participação do comércio internacional. Segundo Feldmann, isso ocorre porque o País não é um grande exportador de produtos industrializados. Além de ter uma produtividade muito baixa, o que torna caro fabricar no Brasil, diz o professor, os problemas de infraestrutura, como o transporte de cargas ser essencialmente por meio rodoviário, e não por ferrovias como na maioria dos países. A elevada carga tributária também é um contributo para aumentar os custos de produção e tiram a competitividade do Brasil no comércio mundial, principalmente em relação a produtos industrializados. 

O professor concorda com o relatório da ONU sobre as incertezas para 2022. Ele parte do princípio que a China é o principal player de comércio internacional e o principal parceiro do Brasil. Um dos motivos são as dificuldades econômicas enfrentadas pela China, inclusive com a falência de algumas empresas importantes naquele país, como a Evergrande. O governo tomou medidas sérias para evitar um efeito cascata e continua reformando a economia para evitar estes riscos. “O que deve se refletir por aqui, uma vez que a China é o principal comprador do País, responsável por 25% a 35% das exportações feitas pelo Brasil, por isso temos que contar com uma queda nas nossas vendas”, finaliza. 

Edição de entrevista à Rádio USP