Silvio Almeida diz que é canalha quem omite o racismo no assassinato de Moïse

“Um homem negro foi assassinado quando reivindicava direitos trabalhistas e ainda há quem negue que racismo seja relação de poder e que tenha profundos laços com a economia. Certamente aparecerá algum inocente ou canalha (ou os dois) para dizer que não foi racismo”, disse o professor

Silvio Almeida (Foto: Reprodução)

O assassinato do jovem congolês Moïse Kambagabe na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, espancado brutalmente após cobrar o pagamento de diárias atrasadas por serviços prestados num quiosque, escancarou mais uma vez o problema do racismo no país, embora alguns ainda insistem em camuflar essa realidade.

Além do racismo, ficou evidente as péssimas condições da exploração do trabalho no país, ou seja, problemas de natureza social e econômica. O advogado e professor visitante da Universidade de Columbia, em Nova York, Silvio Almeida diz que são fatores intrínsecos.  

“Um homem negro foi assassinado quando reivindicava direitos trabalhistas e ainda há quem negue que racismo seja relação de poder e que tenha profundos laços com a economia. Certamente aparecerá algum inocente ou canalha (ou os dois) para dizer que não foi racismo”, escreveu ele no Twitter.

De acordo com o professor, quem age dessa forma tem objetivos definidos. “A estratégia é claramente manter intocadas as condições políticas e econômicas que tornam possível o assassinato de jovens negros sem que haja maiores consequências. Que condições? A desigualdade, a exploração, a falta de representatividade política”, disse.

O professor adverte que é preciso tratar o problema também no contexto político. “Alguns insistem em reduzir a definição de racismo à ‘intencionalidade’, amputando a dimensão política do conceito. Nesses casos a solução é sempre individual, e nenhuma mudança institucional mais profunda é exigida. Então é possível ser um antirracista inofensivo”, explicou.

“Olhar o racismo do prisma individualista é tentador porque, além de mais simples e quase intuitivo, permite rápida identificação de uma causa ou um ‘culpado’. As soluções também parecem mais fáceis: educação ou judicialização. São medidas circunstancialmente necessárias, mas que do de forma complexa, a ‘luta por direitos’ e a ‘educação antirracista’ tornam-se apenas duas táticas no interior de múltiplas estratégias que o combate ao racismo deve mobilizar”, argumentou.

Por fim, Almeida diz que, além da exemplar punição dos assassinos de Moise Kabagambe, há necessidade de se investigar as condições de trabalho em estabelecimentos de mesma natureza. “A situação de Moïse não é singular e só medidas amplas podem se opor de forma eficiente a essa barbárie.”

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