Quem diria? Moro também é vítima da Lava Jato

Moro ainda respira, é verdade. Mas sorve um pouco do veneno que espalhou

Foto: Lula Marques/Fotos Públicas

O processo de deslegitimação [dos chefes políticos e dos centros de poder] foi essencial para a própria continuidade da operação Mani Pulite.”

“A opinião pública, como ilustra o exemplo italiano, é também essencial para o êxito da ação judicial.”

Acima, trechos do artigo “Considerações sobre a operação Mani Pulite”, publicado em novembro de 2014 pelo então juiz Sérgio Fernando Moro. “Mani Pulite” significa “Mãos Limpas”, em italiano. Moro escrevia sobre a operação judicial que destruiu o pacto político-social construído na Itália pós-Segunda Guerra. O artigo é o Mein-Kampf de Moro, no sentido de que ele anunciava tudo que faria à frente da operação Lava Jato.

Na Itália, a Operação Mani Pulite abriu caminho para 1 cantor de navio, com carisma para mobilizar os incautos que foram atingidos por aquele “processo de deslegitimação” dos “chefes políticos” e dos “centros de poder”.

Essa “deslegitimação” da política e das instituições abriu caminho no Brasil para outro oportunista, também com carisma e tão ou mais medíocre que o cantor italiano.

O italiano, um depravado, trouxe mais corrupção ao governo do que antes e só venceu pela falta de adversários, todos eles presos, mortos ou exilados pelas Mãos Limpas. O brasileiro foi “mau militar” com 3 inexpressivas décadas de mandatos no Congresso Nacional, também trouxe mais corrupção ao governo do que antes, tem vínculos com a milícia e só venceu porque o principal adversário foi preso pelo juiz que virou ministro da Justiça do vencedor.

A destruição da institucionalidade e falta de credibilidade alimentadas pela “deslegitimação” pretendida por Moro, caiu como uma bomba atônica sobre partidos e instituições da vida nacional. Abriu caminho para que alguém “fora do sistema”, ou, pelo menos com discurso tão irracional, tão disruptivo que pudesse ser entendido como tal, ocupasse o lugar que foi “limpado” pela Lava Jato e pelo juiz e os miquinhos amestrados do Ministério Público.

Na disputa pelo rescaldo da deslegitimação provocada pela Lava Jato, especialmente sobre a esquerda e o PT, Bolsonaro comeu todos e se viabilizou presidente. A direita, do PSDB ao DEM, passando pelos burocratas militares e civis empoleirados nos braços do Estado e pela elite econômica, ficou à mercê do oportunista. Muitos apostaram no seu cavalo, outros sonhavam domá-lo. Como não tem racionalidade, é imprevisível e incontrolável. E ainda tem os caprichos dele e o próprio projeto.

Moro contava ser agraciado com vaga no Supremo ou mesmo suceder a Bolsonaro. Mas Bolsonaro não queria abandonar o posto. Desde o início trabalha (sic), prioriza a reeleição dele. Na briga de egos, a Esplanada dos Ministérios ficou pequena para ambos.

Mas o governo Bolsonaro é uma desgraça generalizada. Consciente da total incompetência para governar e total incapacidade cognitiva para entender o significado do cargo que caiu no colo dele, o presidente da República passou 3 anos “governando” para a base dele, com o mesmo discurso disruptivo, para cevá-la e conduzi-la até as eleições de 2022.

A esperança dele: manter os 20% e chegar ao segundo turno; apostar no antipetismo e na extrema direita que saiu do esgoto aberto pela Lava Jato. Só isso lhe interessa. Terceirizou a economia para Paulo Guedes, leia-se para o capital financeiro especulativo, e a política para o Centrão, leia-se chafurdar na corrupção. E abriu picadas nos postos de governo para bucaneiros, malfeitores, larápios, ineptos, trintanários, punguistas, velhacos e bilontras.

O crescimento de Lula trouxe problema para todos eles. O apoio popular ao petista coloca em risco os planos dessa malta que se aglutina em torno do poder.

Teve início a busca desenfreada por alguém que pudesse derrotar Lula e manter unida a súcia: Dória, Moro e outros nomes foram aventados.

Nenhum “pegou”. Bolsonaro mantém seu gado sevado. Ele sabe fazer isso muito bem. Moro, com ajuda da mídia golpista e a simpatia de parte do partido militar e da elite da Faria Lima, chega com discurso único: a corrupção. Mesmo tendo sido, talvez, o juiz que mais corrompeu a Justiça brasileira.

E foi aí que o ex-juiz se tornou vítima da própria maldade.

A deslegitimação da Lava Jato jogou a corrupção para longe. Se não há instituições confiáveis, políticos confiáveis, combater a corrupção é enxugar gelo. É preciso destruir tudo. E esse discurso é de Bolsonaro.

E mais. Moro não tem 1 tostão do carisma e da competência do Bozo para tocar projeto político.

Moro, juiz medíocre, não tem o lado popularesco de Bolsonaro, a dita sinceridade, dita autenticidade. Ele é dessa classe média iletrada que tenta fazer-se passar por intelectual. Sabe pouco da vida. Sabe nada de política. Fez política quando tinha a toga para respaldá-lo. Mas quando desceu à planície, onde campeiam os leões e os chacais, não passa de frango d’água assustado tentando sobreviver em meio aos predadores.

Moro ainda respira, é verdade. Mas sorve um pouco do veneno que espalhou. A deslegitimação levou à irracionalidade parcela da sociedade. Ele tenta disputar esses votos. Mas irracionalidade é pasto controlado por Bolsonaro.

Fica o dilema. Para crescer, Moro precisa afastar Bolsonaro. Mas para afastar Bolsonaro, precisa provar à malta que pode crescer. Enquanto Moro recebe aula de fono, Bolsonaro dar-lhe aula de lavajatismo, com discurso que deslegitima tudo que é civilizado.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho

Fonte: Diap

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