Jornal Nacional ataca Bolsonaro por mentir sobre 300 crianças mortas

Após censuras vindas de diversos setores sanitários pela declaração de Bolsonaro desestimulando a vacinação de crianças, a Rede Globo se manifestou em seu principal telejornal.

William Bonner e Renata Vasconcellos na bancada do JN

Os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos abriram o Jornal Nacional desta noite de quinta-feira com editorial criticando e responsabilizando o presidente Jair Bolsonaro por mais declarações chocantes desestimulando as famílias brasileiras a vacinar seus filhos contra a covid.

Em uma entrevista à TV Nova Nordeste, Bolsonaro minimizou o número de mortes por Covid nessa faixa etária. Disse que não conhece nenhum caso, embora o próprio Ministério da Saúde de seu governo contabilize 308 mortes de crianças de 5 a 11 anos até agora.

Bolsonaro também duvidou da honestidade da Anvisa por ter aprovado a vacinação infantil contra covid e chamou quem defende a imunização de “tarados por vacinas”. As cenas de banalização das mortes foram publicadas nas redes sociais do presidente.

O editorial considerou mentira e desinformação a afirmação do presidente e um desrespeito com as famílias que perderam quase três mil crianças e adolescentes para a covid. O texto ainda defendeu a legislação e o trabalho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob ataque e ameaças do presidente e seus apoiadores.

O texto ainda qualifica de “estapafúrdia” a sugestão do governo de consultar a população sobre o assunto, quando apenas médicos especialistas devem decidir sobre prescrição de medicamentos, e não o público leigo. Conclui responsabilizando o presidente pelas consequências do que diz ao prejudicar a vacinação das crianças.

Médicos pediatras

A Sociedade Brasileira de Pediatria atestou durante a consulta pública sobre vacinação infantil aberta pelo governo que, embora a Covid seja mais perigosa para adultos, nenhuma doença para a qual exista vacina mata mais crianças do que a covid. Foram 2 mil e 500 óbitos na população abaixo de 19 anos e em torno de 300 óbitos na população entre 5 e 11 anos. Nenhuma outra doença imunoprevenível (aquelas com vacina disponível), matou esse número de pessoas.

A Sociedade Brasileira de Pediatria repudiou publicamente a declaração de Bolsonaro. Em uma nota, a entidade afirma que o Brasil deve temer a doença, nunca o remédio; que a vacina previne dor, morte, emergências e internações em todas as faixas etárias.

Repercussão

Leia a íntegra do editorial do Jornal Nacional:

As declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre as mortes de crianças por covid afrontam a verdade e desrespeitam o luto de milhares de brasileiros – parentes e amigos das mais de 300 vítimas de 5 a 11 anos.

O presidente também desrespeita todos os técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ao questionar qual seria o interesse da Anvisa com a autorização da vacinação de crianças. O interesse da Anvisa está expresso na lei que a criou: coordenar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, em defesa da saúde da população.

O 4º artigo da lei determina que a agência atue como entidade administrativa independente e que as prerrogativas necessárias ao exercício adequado de suas atribuições sejam asseguradas. Não é isso que o presidente tem feito ao ameaçar divulgar nomes de integrantes da Anvisa que aprovaram a vacinação infantil. E, agora, ao questionar a lisura do órgão.

Por fim, as declarações do presidente Jair Bolsonaro contrastam com aquilo que prevê o artigo 196 da Constituição que ele jurou respeitar: a saúde é direito de todos os cidadãos – e dever do Estado.

O governo Bolsonaro retardou a decisão sobre as vacinas para crianças desde o dia 16 de dezembro de 2021 até quarta-feira (5), data limite imposta pelo Supremo Tribunal Federal. Convocou uma consulta pública estapafúrdia, porque remédios não podem ser aprovados pelo público leigo, mas por cientistas.

Em razão dessa demora, as famílias brasileiras têm ainda que aguardar ao menos mais sete dias até a chegada das primeiras doses pediátricas.

Como se não bastasse, nesta quinta-feira (6), ele insistiu em atacar as vacinas. O presidente Jair Bolsonaro é responsável pelo que diz, pelo que faz. Espera-se que venha também a ser responsável por todas as consequências daquilo que faz e diz.

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