“Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges, completa 50 anos

Até hoje, cinco décadas depois, “Clube da Esquina”, o quinto álbum de Milton e o primeiro de Lô Borges, rende assuntos, entrevistas e artigos

Capa do álbum "Clube da Esquina" I Foto: Divulgação

O disco “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges, completa neste ano de 2022 improváveis 50 anos. Apesar de, na época do seu lançamento, não ter sido bem recebido pela crítica, não há lista de melhores de todos os tempos do Brasil em que o álbum duplo não apareça.

Tudo nele virou emblemático, desde a capa, em que aparecem dois meninos, Cacau e Tonho, um branco e um negro, fotografados ao acaso, mas que foram descobertos anos depois e fartamente entrevistados, até as canções e o som da gravação.

Até hoje, cinco décadas depois, “Clube da Esquina”, o quinto álbum de Milton e o primeiro de Lô Borges, rende assuntos, entrevistas e artigos.

O que, no entanto, há de tão importante e mágico neste disco para se destacar tanto neste mar de álbuns excelentes em que navega a nossa música? Várias coisas, a começar pelo clima das canções. Naquele exato momento, a música tensa e densa de Milton Nascimento encontrava a leveza de Lô Borges, irmão mais novo de seu amigo, o letrista Márcio Borges.

Lô Borges e Milton Nascimento I Foto: Reprodução

Os músicos

Além dele, é preciso chamar a atenção para a grande quantidade de músicos e arranjadores amigos que seguiram praticamente juntos pelas décadas seguintes. Estão no álbum, além dos autores, Wagner Tiso, Beto Guedes, Tavito, Toninho Horta, Raul de Souza, Robertinho Silva, Luiz Alves, Nelson Angelo, Rubinho, Paulo Moura, Eumir Deodato e até mesmo Gozaguinha em um dos corais.

A partir de então, o álbum mistura tendências tão distintas que vão desde a influência Beatle – com um tanto mais de elaborações harmônicas vindas diretamente da Bossa Nova – passando pelo samba, com a comovente versão para “Me deixe em paz”, de Monsueto e Ayrton Amorim, com a participação de Alaíde Costa, até o bolero “Dos Cruces”, sucesso da década de 50 do espanhol Carmelo Larrea Carricarte. Nestas duas últimas, além de destacar as interpretações, vale ressaltar as ricas reconstruções harmônicas dos violões de Milton.

As canções autorais, tanto de Milton quanto de Lô, se tornaram, quase que sem exceção, clássicos que perduram até hoje, regravadas por inúmeros intérpretes, tanto no Brasil quanto no exterior. São elas, “Nada Será como Antes”, “Cais”, “Um Gosto de Sol”, de Milton e Ronaldo Bastos; “Tudo o que Você Podia Ser”, “Um Girassol da Cor de Seus Cabelos” e “Trem de Doido”, de Lô e Márcio Borges; “Paisagem da Janela”, de Lô e Fernando Brant, que também assina “San Vicente” com Milton.

Há muitas outras, mas não deixa de ser um assombro até hoje que todas essas canções foram lançadas em apenas um álbum.

“Clube da Esquina” ainda rendeu um número dois, digo de seu antecessor. Além disso, traz em si o nome do local onde os músicos e amigos se reuniam em Belo Horizonte, entre a rua Paraisópolis e Divinópolis, no bairro Santa Tereza.

Neste ano, o álbum, que até hoje é um dos mais modernos e ousados da nossa música, completa meio século pronto pra muito mais tempo.

Fonte: Revista Fórum