Ataques de Bolsonaro instigaram 170 ameaças à Anvisa

A agência autorizou dia 16 de dezembro o uso do imunizante da Pfizer no público infantil, depois de avaliação técnica do pedido da farmacêutica. Logo que a decisão foi informada, o presidente afirmou ter pedido “extraoficialmente”, o nome das “pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de 5 anos” para que fossem divulgados

Diretor-presidente da Anvisa, Anonio Barra Torres, durante depoimento na CPI (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), almirante Antônio Barra Torres, afirmou que as declarações de Jair Bolsonaro (PL) com o intuito de impedir a aplicação de vacinas contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos “contribuíram sobremaneira para o número aproximado de 170 ameaças” contra o órgão.

A agência autorizou dia 16 de dezembro o uso do imunizante da Pfizer no público infantil, depois de avaliação técnica do pedido da farmacêutica. Logo que a decisão foi informada, o presidente afirmou ter pedido “extraoficialmente”, o nome das “pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de 5 anos” para que fossem divulgados.

Desde então, a Anvisa recebeu cerca de 170 ameaças por conta da autorização do uso da vacina e, segundo o diretor do órgão, o número “cresce todos os dias”.

“Nota-se que são pessoas que querem fazer crer que a Anvisa é a única responsável por uma ação que não é dela, que é vacinar pessoas. Quem efetivamente decide incorporar ao sistema de saúde é o Ministério da Saúde”, afirmou Barra Torres.

Bolsonaro levanta suspeitas sem embasamento sobre supostos riscos da imunização de crianças. Ele aproveitou sua última live de 2021, transmitida de Santa Catarina, onde curte uma segunda jornada de férias tiradas neste mês, para retomar os ataques à agência.

Na transmissão ao vivo, o presidente voltou a dizer que não vai vacinar sua filha Laura, de 11 anos, além de desdenhar a busca por imunização alegando não entender essa “gana” por vacina.

“Não vou vacinar a minha filha, é questão minha. Conversei com a minha esposa, está alinhada comigo. A minha esposa se vacinou, ela quis se vacinar, foi se vacinar. A nossa filha nós entendemos que ela não tem quase nada a ganhar com a vacina”, disse.

A primeira-dama Michelle Bolsonaro tomou a primeira dose do imunizante em setembro, em Nova York, ao acompanhar uma viagem oficial aos Estados Unidos.

Em uma entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Barra Torres disse que as ameaças dirigidas a diretores e técnicos da Anvisa criam na agência uma “sensação de desamparo” e que os ataques refletem a face de um perfil “nitidamente” antivacina.

O diretor-presidente do órgão também criticou a proposta do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de exigir prescrição médica para vacinar as crianças. Ele ainda classifica a consulta pública aberta pelo Ministério da Saúde como “inadequada” e “um gasto de tempo”.

A imunização das crianças é tema de uma consulta aberta pelo Ministério da Saúde, feita com o objetivo nefasto de postergar a vacinação. A pasta vem adiando a decisão de forma injustificada e deve realizar uma audiência pública sobre o assunto em 4 de janeiro, para, só então, bater o martelo sobre a vacinação deste público.

Em nota técnica encaminhada na segunda-feira passada (27) ao Supremo Tribunal Federal (STF), a secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite de Melo, já esclareceu que nenhuma questão de segurança foi identificada na vacina para crianças maiores de 5 anos, ou seja, o imunizante é totalmente seguro.

O documento é uma resposta ao ministro Ricardo Lewandowski, que solicitou manifestação do governo federal sobre a exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças. A determinação atende ao pedido feito ao Supremo pelo partido Rede Sustentabilidade.

Fonte: Rede Brasil Atual