COP26 foi decidida para os mais ricos, os indígenas não foram escutados

“Nós indígenas somos os que mais protegem território, onde tem floresta tem indígena, somos os maiores protetores do nosso planeta e isso queremos mostrar para outras pessoas como os não-indígena e também internacionalmente”

(Fotos: Bitate Uru Eu Wau Wau)

Entre os dias 1º a 12 de novembro aconteceu o maior encontro sobre o clima (COP26), em Glasgow, na Escócia.  O Brasil levou a maior delegação para representar os direitos dos povos indígenas brasileiros.

 A Txai Suruí foi a única indígena a falar na abertura da  26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Ela falou sobre os direitos dos povos e da realidade que vem acontecendo no Brasil.

Porém, nas decisões tomadas pelos governos de outros países, os indígenas não foram escutados, nem foram chamados para a sala de decisões, nem como observadores. 

A nossa avaliação como indígena foi que a COP só foi decidida pelos e para os mais ricos, não pela minoria que ali estava presente como indígenas, quilombolas e pessoas de periferias. Estamos passando por um retrocesso até de outros países que ainda não veem as mudanças climáticas como um risco para a humanidade e a biodiversidade do planeta. 

Não fomos ouvidos o suficiente para falar dos nossos direitos. Tivemos algumas reuniões, mas fora da COP e com outros parceiros que buscam um modo de fazer com que esses países ajudem a frear o Brasil esse grande desmatamento da Floresta Amazônica.

O Brasil prometeu que iria frear o desmatamento até 2030, na qual nós indígenas não acreditamos mais, pois até mesmo na COP 26 o Brasil estava incentivando mais invasores a entrarem dentro dos territórios indígenas. O desmatamento em 2021 foi o maior em 15 anos. 

E nós indígenas somos os que mais protegem a Amazônia.

Durante a COP26, indígenas Uru-Eu-Wau-wau apreendem madeira ilegal  e três caminhões,  dentro da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia                                (Foto: Awapu Uru-Eu-Wau-Wau/Amazônia Real)


Quando a minha presença na COP, foi uma experiência incrível que eu vou levar para o meu povo. Consegui buscar alguns conhecimentos que eu não conseguiria imaginar aqui no Brasil. Para mim como Juma foi representativo levar meus conhecimentos a todos os eventos que fui. Irei levar isso junto comigo. 

O que eu levo para a minha comunidade sobre esse evento é que o que aconteceu lá não foi o que nós indígenas esperávamos, não tivemos acesso a todas as decisões necessárias porque os povos indígenas ficaram de lado, assim como pessoas de baixa renda e quilombolas.

Como liderança, fotógrafo e jovem comunicador fui para essa COP e tive uma experiência muito boa, mas também ruim com as grandes organizações, vimos que não favoreceram tanto a causa indígena. Tentamos pressioná-los o máximo possível.

               (Foto de Bitate Uru-Eu-Wau-Wau Juma)


Após a COP fui para a Suécia, onde tivemos um encontro muito grande com parceiros, entre eles, a marcante ativista sueca Greta. Ficamos em frente ao Parlamento sueco, onde vários parlamentares discutiam sobre questões de mudança climática. Foi isso que aconteceu, uma experiência muito nova que eu tenho e trago para o meu povo na perspectiva do que podemos fazer daqui pra frente, tanto na proteção territorial quanto na proteção climática. 

E a gente  vem tendo essa grande oportunidade de ter representantes indígenas na COP, o povo Juma foi quase extinto e estou representando esse povo internacionalmente e também o povo Uru-Eu-Wau-Wau que vem sofrendo uma pressão muito grande. 

Nós indígenas somos os que mais protegem território, onde tem floresta tem indígena, somos os maiores protetores do nosso planeta e isso queremos mostrar para outras pessoas como os não-indígena e também internacionalmente. 

Conheci uma cultura nova e vários povos diferentes, trago para o meu povo uma avaliação muito grande do que é a COP e como foi e também preparando jovens que estão se encaminhando para a próxima.

         (Foto Bitate Uru-Eu-Wau-Wau Juma)

Bitate Uru Eu Wau Wau, 20 anos, é filho de Mandeí Juma e Kuari Uru-Eu-Wau- Wau. Reside na Aldeia Jamari, na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. É coordenador da Associação Jupaú e participou da segunda Oficina Jovens Cidadãos, em 2019. Desde 2020 é comunicador do Blog Jovens Cidadãos da Amazônia.

Fonte: Amzônia Real que publicou do Blog Jovens Cidadãos da Amazônia é financiado pelo Rainforest Journalism Fund com apoio do Pulitzer Center.