Lula reconquista eleitores pobres que haviam migrado para Bolsonaro

Entre moradores da periferia, 37% dos que votaram em Bolsonaro em 2018 e já manifestam alguma intenção de voto hoje apontam preferência por Lula

Uma das bases eleitorais que garantiram a vitória de Jair Bolsonaro (PL) na disputa presidencial de 2018 começa a migrar de volta para o lulismo. É o que aponta cruzamento realizado pelo O Globo com dados da pesquisa Ipec divulgada na semana passada.

O jornal identificou os segmentos que mais acenam com a intenção de, em 2022, votar não mais em Bolsonaro – mas, sim, no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Trata-se dos eleitores de menor remuneração (cuja renda familiar mensal vai até um salário mínimo) e daqueles que moram em municípios nas periferias de grandes centros urbanos (por exemplo, habitantes de cidades da Baixada Fluminense e da Grande São Paulo). Entre os que declararam ter votado em Bolsonaro em 2018, segundo o Ipec, 45% apontam intenção de repetir o voto. Já os outros 55% indicam outras opções, inclusive a hipótese de votar branco ou nulo.

A pesquisa do Ipec, realizada entre 9 e 13 de dezembro, apontou que Lula é o principal herdeiro desses votos. Entre os eleitores de Bolsonaro, 22% dizem que votariam no petista hoje. O percentual que migra para Lula sobe para 32% entre os mais pobres, considerando os eleitores que já declaram agora intenção de votar em algum candidato, em branco ou nulo.

Já entre moradores da periferia, 37% dos que votaram em Bolsonaro em 2018 e já manifestam alguma intenção de voto hoje apontam preferência por Lula. Eleitores mais jovens e com menor escolaridade que votaram em Bolsonaro em 2018 também apresentam de forma mais consistente a intenção de votar em Lula na próxima eleição, de acordo com os dados do Ipec.

Para o cientista político Oswaldo Amaral, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), da Unicamp, os números indicam um “retorno” do eleitorado que se distanciou do petismo na última eleição. “Em 2018, o PT perdeu votação expressiva nas periferias de grandes cidades, em um contexto de problemas econômicos do governo Dilma, casos de corrupção e alta do antipetismo”, diz Amaral. “Depois de três anos de governo Bolsonaro, parece haver uma avaliação de que a situação atual é pior, especialmente em termos de renda e desemprego.”

Há três anos, no segundo turno contra o petista Fernando Haddad, Bolsonaro teve mais de dois terços dos votos válidos em municípios como Belford Roxo e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em Itaboraí e São Gonçalo, parte da Região Metropolitana do Rio, e em Guarulhos e Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Bolsonaro também derrotou Haddad em redutos petistas do ABC paulista, como Diadema e São Bernardo do Campo.

Em 2014, na reeleição de Dilma Rousseff, a candidata do PT havia ultrapassado a casa de 70% dos votos em cidades da Baixada Fluminense e venceu o postulante do PSDB, Aécio Neves, em sete municípios da Grande São Paulo.

Bolsonaro, por outro lado, consegue reter hoje maior quantidade de eleitores que se declaram evangélicos. Considerando os integrantes de diferentes denominações e aqueles que não se associam a nenhuma igreja em específico, 58% declaram voto novamente em Bolsonaro, enquanto apenas 13% afirmam que pretendem votar em Lula.

Os números mostram ainda que as mulheres, de modo geral, se apresentam hoje menos inseridas na dinâmica de migração entre Bolsonaro e Lula do que os homens. Segundo a pesquisa, 34% do eleitorado feminino de Bolsonaro em 2018 não mostra intenção nem de repetir o voto, nem de escolher o petista em 2022. Entre os homens, este percentual é de 27%.

Com informações do O Globo