Que chegue 2022 repleto de Fora Genocida, por Érico Leal

“Derrotar Bolsonaro é tirar o país do caminho do arbítrio, da desconstrução, reposioná-lo no trilho do desenvolvimento”

Foto: Joana Berwanger/SUl 21

2021 vai saindo de cena vincado pelo verbo resistir dessa tenra Nação Brasileira, diante da colossal tragédia a conjugar pandemia, crises econômica e social, genocídio e desconstrução do país. Infelizmente as inúmeras e diversas reações através de segmentos político-sócio-culturais, instituições, lideranças e manifestações de rua, ainda não foram suficientes para transformarem-se em um amplo movimento unificado em torno da imediata retirada do inominável. No entanto, salvou vidas, desmascarou-o perante as massas, criando as possibilidades de destituí-lo em 2022.

Apesar das dificuldades políticas existentes, derrotar o facínora em qualquer front é imperativo para o recomeço da construção de um Brasil soberano, democrático e desenvolvido, justo e influente no mundo. Embora isso seja óbvio, mas não ululante para a maioria, corre-se o risco de uma desastrosa reeleição da extrema-direita. Um passo significativo ao aprofundamento de um Estado neocolonial mais servil aos interesses do império e dos rentistas, mais repressivo às lutas do povo. Um ajuste necessário à regressiva realidade sócio-econômica-cultural do país, que a política neoliberal deliberadamente nos impõe.

Esse processo de desmonte, que encontrou resistências nos governos Lula e Dilma, acelerou-se com o Golpe de 2016 e avança significativamente com a Necropolítica. Faz parte da estratégia de manter o domínio dos EUA sob o hemisfério, enfraquecendo cada vez mais o Brasil, sua liderança regional, seu importante papel no movimento de multipolaridade, a partir de seus potenciais geopolíticos. Sob governos entreguistas, cirurgicamente, foram desconstruindo, por asfixia e subalternidade, uma economia nacional pujante, com base na industrialização mesmo que tardia e dependente, mas que cresceu décadas seguidas, tornando-se a sexta no início do século XXI. Hoje em queda é a décima terceira, com índice elevado de desindustrialização, exportadora de matérias primas e insumos.

O país vem servindo de cobaia em laboratório para as mais diversas experiências neoliberais com transferências cada vez maiores da produção e da riqueza social para o capital especulativo. Vide o alto grau de concentração de riquezas e seus bilionários, de um lado, e a imensa quantidade de pobreza e de miséria, do outro. As reformas política, trabalhista, previdenciária, administrativa, o Teto de Gastos, assim como, todos os ataques ao conhecimento científico e ao desenvolvimento tecnológico, à cultura e à vida, aos direitos sociais e ao estado democrático de direito têm como objetivo o fortalecimento do neocolonialismo sob o sistema financeiro.

Não é à toa a privatização, o desmonte e o enfraquecimento das grandes estatais, enquanto pilares da economia nacional; a destruição de empresas gigantes de construção e infraestrutura; a dolarização do consumo; a deliberada ausência de investimento na indústria; a abertura e o enfraquecimento do mercado interno; a dependência do dinheiro das exportações, que fica parte nos paraísos fiscais. Segundo o Dieese, as ações nefastas da Operação Lava Jato custaram 4,4 milhões de empregos formais, 3,6% do PIB e a não arrecadação de quase 70 bilhões de reais em impostos, reduzindo a massa salarial em 85,8 bilhões de reais.

O resultado de tudo isso é a galopante desindustrialização com a fuga de capital produtivo, a falência de centenas de milhares de empresas, recessão técnica, inflação de 10,8% e taxa selic de 9,25%; salários aviltados e 13,7 milhões de desempregados, o crescimento da informalidade, 19,1 milhões de famintos e 116,8 milhões com insegurança alimentar. Somando-se aos 22,2 milhões de infectados pela covid, com suas sequelas, 616 mil mortes e novas variantes circulando no ar. Uma situação de calamidade pública que atinge principalmente as famílias pobres e negras.

Enquanto se forma essa situação de insolvência, vulnerabilidade social e caos, o falto de humanidade e cultura, mas farto de esperteza miliciana pavimenta, sem maiores aperreios momentâneos, seu caminho para a reeleição e se estabelecer vice-rei de colônia. Mantém despudoradamente sua “Trupe da Morte” e o percentual de eleitores para chegar ao segundo turno. Movimenta-se para ampliar seu apoio no Congresso e garantir a reeleição, com o Orçamento Secreto e otras cositas más; busca condições de aumentar seus indicados ao STF; tenta enfraquecer o controle dos governadores sobre as PMs; desmoraliza as FFAA para reinar sobre as mesmas; usa e usará sem peias a caneta da presidência para cooptar o povo sofrido.

Subestimar o Traidor da Pátria é um erro literalmente crasso, de quem não enxerga o tamanho e a complexidade da guerra, a correção de forças, o que de fato está em jogo. Estratégias que se repetem em realidades diversas tendem ao fracasso; divisão de forças mais avançadas não galvanizam maiorias necessárias. Em situações de crises agudas, as eleições são insuficientes para as batalhas de narrativas, o tempo é curto para debater projetos; sem crise revolucionária, fala mais alto o poder institucional-financeiro e suas versões. Ainda é determinante unir as amplas forças políticas para derrotar a extrema-direita direita.

Pairando sobre um leque de pré-candidaturas às eleições de 2022 estão Lula e o Genocida na disputa, este hoje aparentemente ameaçado pelo lançamento de Moro, balão de ensaio à direita, que procura se viabilizar como representante palatável do capital financeiro e de parte da grande mídia. No entanto, essa forte tendência à polarização anuncia um cenário de grandes movimentações e efervescência política capitaneadas por forças democráticas/progressistas e por forças de extrema-direita/conservadoras, sob uma realidade de muitas limitações e carências sociais, grande despolitização e ascensão do conservadorismo. Um desfecho imprevisível e com as forças reacionárias fazendo a grande política.

Diante desse quadro a que chegamos, a melhor defesa é o ataque sincronizado para manter o isolamento e o viés de baixa do “Dito Cujo”. Há munições e pólvora no paiol e muita gente insatisfeita. O Brasil não pode continuar como pária no mundo pelos malfeitos do Mequetrefe. O resultado da CPI da Pandemia, mesmo com seus limites, tem material explosivo a ser bem usado; todo o negacionismo e a prevaricação que levaram a mais de meio milhão de mortos não pode e nem deve ser esquecido; a crise tem nome, apelidos e CPF. Agora, é preciso encontrar estratégias e instrumentos que ganhem a confiança, coração e mente da maioria do povo para o Fora Genocida, em qualquer campo de batalha.

Assim, 2022 se aproxima trazendo sua encruzilhada, repleto de incertezas e ansiedades, com suas expectativas e grandes emblemas que se contrapõem aos atuais rumos. Derrotar Bolsonaro é tirar o país do caminho do arbítrio, da desconstrução, reposioná-lo no trilho do desenvolvimento. Permitir a sua manutenção no (des) governo é retroceder secularmente, assumir de vez o papel de colonizado, sofrer uma involução civilizacional.

Somos brasileiros, e disso nos orgulhamos, e não abrimos mão dessa diversidade e riqueza cultural, de tudo o que construímos até hoje, mesmo que ainda estejamos longe dos verdadeiros desenvolvimento, soberania, democracia e justiça social. Sempre encontraremos a melhor forma de lutar e vencer. Os 200 anos da Independência, os 100 anos da Semana de Arte Moderna, o Centenário do Partido Comunista do Brasil, os 50 anos da Guerrilha do Araguaia serão todos comemorados junto com a expulsão dos Bolsonaristas do governo do Brasil, nesse emblemático ano de 2022.

Belém, 10 de dezembro de 2022

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