Economista defende que Banco Central leve em conta a atividade econômica ao fixar juros

Chefe do Departamento econômico da CNC e ex-diretor do BC, o economista acredita que, ao decidir sobre o patamar dos juros no país, o Copom deveria levar em conta, além da inflação, a atividade econômica e a trajetória da dívida brasileira.

Comércio fechado na região central, durante a fase vermelha da epidemia de covid-19 na capital paulista. Fotos: Rovena Rosa/Agência Brasil

No dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia uma alta de 1,5 ponto percentual na Selic elevando a taxa de juros básica da economia para 9,25% – maior patamar em mais de quatro anos –, a Pesquisa Mensal do Comércio apontou também a terceira retração consecutiva e maior queda para meses de outubro desde 2016. Trata-se de mais um indicador a refletir a retração no Produto Interno Bruto (PIB) no país, que se encontra em recessão técnica após dois trimestres consecutivos de queda.

Sancionada em fevereiro de 2021, a Lei da independência do Banco Central (BC) não especifica que os diretores levem em conta o nível de emprego, como acontece, por exemplo, com o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA). Mas, para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ao decidir o patamar da Selic, o Banco Central brasileiro não deveria pensar somente na inflação.  

“O Banco Central poderia observar também a atividade. Teria de acontecer uma mudança na legislação, a não ser que o Banco Central tenha bom senso. É só o BC ter bom senso. Foi desenhado um cenário, mas ele precisaria ser mudado por conta da pandemia. Acho importante o BC independente desde que tenha bom senso”, opina. “Hoje nossa inflação é mais de oferta do que de demanda. Quando decide sobre os juros, o Banco Central precisa olhar para a oferta. Nos Estados Unidos, na Europa, em todo lugar do mundo é assim. Além disso, se subir demais a Selic aumenta muito a nossa dívida pública e o país já está com uma dívida muito alta”, considera.

Como o Comitê de Política Monetária (Copom) não tem levado em conta o nível da atividade econômica em suas decisões, o economista já previa a alta de 1,5 ponto percentual da reunião desta quarta-feira (8/12). Segundo ele, para a trajetória do PIB brasileiro serão ainda mais importantes as próximas decisões. Com as vendas muito fracas, ele acredita que o BC não deveria imprimir uma alta da mesma magnitude na próxima reunião.

“A Selic deve chegar a 10,5% ou no máximo 11% em fevereiro ou março do próximo ano. E, no fim do ano, a 9% ou 9,5%”, estima.  “A minha expectativa para o IPCA (a inflação oficial do país) é que fique em torno de 6% ou 6,5% no ano que vem. Não tem jeito de a inflação ficar no teto da meta de 5%, a não ser que a Selic suba bastante. Para ter um IPCA de 4%, o BC teria de elevar a Selic a 13% ou 14%, o que causaria muita recessão. Acredito que o PIB já vai crescer muito pouco no próximo ano, em torno de 1,5%”, estima. Ele estima que em 2021, o PIB ficará em 4% ou 4,5%, o que significa apenas recuperar a queda de 4,1% do ano passado.