Conteúdos tóxicos do Facebook contribuem para negócios da rede social

Segundo Pablo Ortellado, dois fatores são importantes para os negócios da empresa: tempo na plataforma e interações — estes que, no período das eleições, têm maior pico

“Nós estamos passando adiante esses conteúdos de má qualidade, porque quem os distribui numa plataforma de mídias sociais somos nós, apertando o botão de compartilhamento” – Foto: Freepik.com

O Facebook Papers, pacote de documentos da empresa vazados por uma ex-funcionária, revelou a disseminação de conteúdos de baixa qualidade pelo algoritmo da rede social — discurso de ódio, desinformação, violência explícita e desencorajamento cívico. No Brasil, esse conteúdo tem grande alcance, principalmente no período de eleições, pois movimenta bastante dinheiro.

O professor Pablo Ortellado, do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, explica o porquê disso. Para ele, dois fatores são importantes para os negócios da empresa: tempo na plataforma e interações — estes que, no período das eleições, têm maior pico. Como consequência, “eles geram como uma espécie de subproduto a promoção desses conteúdos tóxicos”, destaca.

Nesse caso, o professor enfatiza a questão do conflito entre a parte comercial e a responsabilidade cívica-política. O Facebook, apesar dos problemas relacionados a esses conteúdos, continuou a usar o algoritmo para não ter perdas financeiras. “Ele manteve essa mudança no algoritmo e esse desenho do aplicativo que nos empurra esse tipo de conteúdo”, afirma.

Além da responsabilidade do Facebook, os produtores de conteúdo, ao observar o cenário polarizado, se aproveitam disso e ganham dinheiro, o que não deveria ocorrer. Ortellado destaca também a responsabilidade do usuário: “Nós estamos passando adiante esses conteúdos de má qualidade, porque quem os distribui numa plataforma de mídias sociais somos nós, apertando o botão de compartilhamento”.

O professor ressalta que a regulação pode ajudar a conter isso e equilibrar os incentivos econômicos da empresa. “Estão discutindo muito as saídas regulatórias, mas, por exemplo, uma delas é dar penalidades para distribuição de conteúdo de baixa qualidade, de maneira que entre no cálculo econômico da empresa”, completa.

Edição de entrevista à Rádio USP

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